DDica Técnica
Níveis de penetração em naufrágios
     
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A penetração em naufrágios, apesar de utilizar muito dos conceitos e equipamentos utilizados no mergulho em cavernas; como redundância, regra dos terços e carretilhas, possui muitos aspectos próprios, que devem ser conhecidos pelos mergulhadores para facilitar e aumentar a segurança da técnica. Esse texto, têm o intuito de diferenciar essas duas técnicas, sem contudo, comparar seus níveis de complexidade ou menosprezar uma das técnicas, pois nos dois casos podemos ir de uma penetração simples a uma muito complexa.

 

Diferenças marcantes

I. Mapeamento
As cavernas são estruturas caóticas, que são moldadas, normalmente pela água seguindo um processo que depende da dureza e solubilidade das rochas do terreno. Desta forma, antes do mapeamento dos conductos não podemos saber por que caminhos seremos levados.
Ao contrário das cavernas, navios naufragados, mesmo submetidos a forças incríveis durante o acidente, apresentam destroços com uma estrutura padronizada.
Quando ainda estão inteiros, seus compartimentos, corredores, peças e níveis apresentam uma lógica estrutural. Mesmo após o acidente e início de desmanche, algum tipo de comportamento das partes pode ser esperado e analisado em função do tipo de navio e acidente, posição do casco no fundo, tipo de fundo entre outros aspectos.

 
Deste modo, antes da entrada podemos ter uma ideia de que tipo de passagens e compartimentos iremos encontrar, mesmo que durante a pesquisa histórica não tenha sido possível encontrar uma planta da embarcação.
A organização interna dos naufrágios também facilita muito a orientação, pois ao contrário das cavernas, as estruturas que dão sustentação ao navio, como vigas e colunas e as estruturas que dividem compartimentos e fecham o conjunto, como paredes, conveses e o casco, também seguem rígido padrão de alinhamento umas com outras. Mesmo quando algumas são rompidas e amassadas, o conjunto sempre apresenta estruturas retas, que facilitam a orientação e mapeamento.

 

II. Estabilidade
Quanto à estabilidade, não há como comparar os dois tipos de penetração, pois as cavernas são estruturas estáveis em seu conjunto, enquanto que os naufrágios são inclusive definidos por seu processo de desmonte. Eles evoluem de Estruturas Inteiras para Semi-inteiras, Desmanteladas e finalmente Enterradas.

 

Classificação Estrutural

É a responsável pela variação da técnica empreendida no mergulho em naufrágio, sendo por isso, umas das análises mais importantes.
Todo navio quando afunda passa por um processo típico de desmonte devido à ação do mar. Este processo é didaticamente dividido em quatro etapas a partir do sinistro. Naufrágios Inteiros, Semi-inteiros, Desmantelados e Enterrados.
Esta divisão cria uma associação entre o naufrágio e as técnicas de mergulho.
Não há obrigatoriamente a necessidade de enquadrar o navio em apenas uma classe. Pelo contrário, frequentemente observamos num mesmo destroço duas ou mais condições presentes. Isto é fácil de compreender, já que nem todas as partes do navio têm a mesma resistência, encontram-se no mesmo tipo de fundo ou sofreram as mesmas forças.

Naufrágios Inteiros - São aqueles onde o mergulhador está debaixo de um teto e em condição de ausência de luz.

Naufrágios Semi-inteiros - São aqueles onde mesmo debaixo de estruturas, o mergulhador dispõe de luz natural e passagens para águas abertas.

Naufrágios Desmantelados - Neste tipo de naufrágio, todas as estruturas se encontram caídas no fundo.

Naufrágios Enterrados - a maioria dos destroços encontra-se enterrados no lodo, areia, rochas ou corais do fundo. Só existindo alguns traços do navio expostos.

 

Deste modo, o mergulhador de naufrágio deverá entender suficientemente da arquitetura das embarcações para analisar quais são as peças estruturais que dão sustentação à seção que pretende penetrar, a fim de avaliar se a penetração é segura ou se existe o risco de queda ou desmoronamento do conjunto.
Como o naufrágio é um meio dinâmico seu mapeamento interno depende de uma constante atualização e o uso de cabos-guia permanente é muito arriscado, já que eles podem se romper com a mudança de posição das estruturas que desabam.
Pelo apresentado, todo mergulhador de naufrágio deve dominar os conhecimentos de uso de carretilha e ancoragem do cabo guia, pois não irão apenas segui-lo, como o fazem a maioria dos mergulhadores de caverna, ele deverão instalar e retira-lo em cada penetração.
Além do risco de desabe da estrutura, o processo de decomposição do ferro e aço, acelerado pela água do mar e pela ação química de organismos marinhos provoca a formação de material particulado em todos os pontos dos destroços. Durante o mergulho em cavernas os mergulhadores procuram manter-se afastados do fundo e bater as pernas corretamente a fim de evitar o sedimento e manter a visibilidade. Se isso for feito, na grande maioria das cavernas a visibilidade é excelente.
Nos naufrágios, esse material particulado, está presente no fundo, paredes e teto o que torna impossível, devido as bolhas, evita-lo. A penetração em naufrágios, mesmo com a melhor técnica de natação, prejudica a visibilidade, que muitas vezes, pelas próprias condições de água local (profundidade, rios etc.) já não é das melhores.
Os efeitos das correntes e a ondulação da superfície do mar, aumenta significativamente o risco das penetrações em naufrágios muito rasos, o que torna esses navios potencialmente mais perigosos.


 

III. Extensão
Cavernas podem ter de poucos metros a muitos quilômetros, assim a complexidade da penetração dependerá da extensão. Ao contrário disso, nos naufrágios dificilmente encontramos penetrações que se estendam por mais de 20 metros, mais importante do que isso, mesmo nessa extensão de penetração, com muita frequência existem pontos de luz, que orientam e facilitam a natação do mergulhador; como exceção, temos as penetrações em submarinos.
A despeito de a penetração ser mais curta, o espaço de natação é normalmente mais apertado o que torna a mangueira longa uma necessidade ainda maior.

O fato dos naufrágios possuírem diversas entradas e saídas cria a necessidade de estudo preliminar para a escolha da rota. Esse fato altera alguns preceitos utilizados em mergulhos técnicos.
Imagine que cada mergulhador de naufrágio, ao entrar por uma abertura e sair por outra resolva deixar seu cabo-guia marcando a rota de penetração. Teríamos uma verdadeira teia de aranha no interior dos destroços.
Por conta desse problema, a colocação de cabo-guia, muitas vezes dependerá de uma segunda penetração, de retorno, para sua retirada.


Planejameto da rota de penetração
 
Em mergulhos em caverna com rota de entrada e saída pelo mesmo cabo, os participantes podem deixar cilindros com misturas descompressivas em pontos pré-determinados. Visto que, essas misturas só poderão ser utilizadas em profundidades menores, que só são alcançadas pela rota de volta.
Muitos mergulhadores que utilizam misturas descompressivas em naufrágios deixam esses cilindros, junto ao cabo de descida. Esse procedimento porem, restringe a segurança do mergulho.
É fácil perceber, que não havendo descompressão e teto, podemos alcançar a superfície de qualquer ponto, da proa à popa de um naufrágio, diminuindo por isso, o risco durante o mergulho. No entanto, se as misturas descompressivas são deixadas junto ao cabo de subida, mesmo sem um teto estaremos em condição de penetração, pois seremos obrigados a retornar ao cabo de subida, para alcançar esses necessários cilindros.
Utilizando misturas descompressivas, recomendamos que elas sejam deixadas junto ao ponto de penetração, ou por onde se espera seja feita à saída.

 
Classificação da Penetração
 
Visando aumentar a segurança nas penetrações em naufrágios, é utilizada uma classificação do nível de dificuldade da penetração. Com ela, podemos passar com mais clareza de um mergulhador para outro, o nível de dificuldade esperado em uma rota de penetração de um destroço.
Para tanto são consideradas as classificações de:
Profundidade - Indica a força da ação do mar sobre os destroços e a complexidade do mergulho.
Estado de conservação - Indica a integridade da estrutura, luminosidade e risco do mergulho
.
 
 
Penetração de 1º Grau
Condições
- Profundidades entre 10 e 30 metros (fora da ação das ondulações da superfície; menor corrosão das estruturas; maior tempo de fundo).
- Navios Inteiros - ver classificação - e/ou em posição normal (orientação facilitada)
- Extensão máxima da penetração somada a profundidade, deve atingir no máximo 25 metros (possibilidade de subida livre).
- Espaço suficiente para natação de dois mergulhadores lado a lado (utilização de octopus padrão).
- Visualização em linha reta de um ponto de penetração - ver definição de ponto de penetração - (independência de um sistema de iluminação em caso de emergência).
- Ausência de estruturas em balanço (peças soltas, ou que balancem por força da corrente evitando-se desabamento).
-Visibilidade mínima 6 metros (suficiente para observação do dupla).
- Mergulho não descompressivo.

 

 
 
Penetração de 2º Grau
Condições
- Profundidades de 0 a 10 metros e entre 30 e 40 metros (dentro da faixa de ação das ondulações da superfície ou menor tempo de fundo - mergulho profundo).
- Navios Semi-inteiros - ver classificação - e/ou em posição lateral (orientação mais complexa).
- Extensão máxima da penetração somada a profundidade superior a 25 metros e inferior a 50 metros (sistemas redundantes de fornecimento de gás comprimento de carretilhas básicas).
- Espaço insuficiente para natação de dois mergulhadores lado a lado (utilização de mangueira longa).
- Pontos isolados ao longo da penetração, sem visualização em linha reta da saída (necessidade obrigatória de orientação por cabo).
- Condição ambiente de falta de luz, causada pelo naufrágio ou pelo ambiente (utilização de sistema de iluminação redundante e de alta potência).
- Ausência de estruturas em balanço (peças soltas, ou que balancem por força da corrente).
- Visibilidade mínima 4 metros (suficiente para observação de dupla próximo).
- Mergulho descompressivo com ou sem o uso de misturas descompressivas (requer retorno pelo mesmo ponto).
 

Penetração de 3º Grau

Condições
- Profundidades acima 40 metros (mergulho sob narcose ou utilização de misturas com Hélio).
- Submarinos, Navios Inteiros ou Semi-inteiros - ver classificação - de cabeça para baixo ou em partes sujeitas a explosão (espaço exíguo e orientação muito complexa).
- Extensão da penetração somada à profundidade, superior a 50 metros (sistemas redundantes).
- Áreas, sem visualização em linha reta de um ponto de penetração*
- Mudanças de direção ou conveses do navio (perda da linha direta da saída).
- Passagens por restrições que obriguem torção do corpo, escadas, atrito com partes dos destroços ou retirada de equipamentos.
- Estruturas em balanço (peças soltas, ou que balancem por força da corrente).
- Visibilidade menor que 2 metros (insuficiente para observação do dupla).
- Utilização de cilindros para aumento do tempo de fundo.

(* espaço suficiente para passagem - entrada ou saída - de um mergulhador).

 

 
 


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