EXPEDIÇÃO 2006


Naufrágios de Alagoas e Pernambuco no Atlantis Voyager
Relato: Miguel Alex
 

 
 
Tudo começou no inicio de dezembro, quando conversando com o instrutor de mergulho e pesquisador de naufrágios, Maurício Carvalho, tomei conhecimento da expedição que ele participaria em janeiro, embarcado no Voyager. Um Live Aboard de uma semana voltada exclusivamente para mergulhos em naufrágios. Sem dúvida, seria uma boa pedida para iniciar o ano com o pé direito.
Em menos de um mês, os amigos de mergulho aqui no Rio de Janeiro foram se juntando e assim formamos nosso grupo para essa viagem:
Eu, Maurício Carvalho, Juliana Caruso, Paulo Val, Cristiana Lopes, Leonardo Pimenta


Todos com um objetivo comum. Mergulhar e se divertir, não necessariamente nessa ordem.
Além disso, outra proposta para essa viagem. Coletar mais informações sobre esses naufrágios, uma vez que em alguns casos, o material que temos disponível ainda é precário e, em outros, nem um croqui temos. Nessa área, o Mauricio Carvalho trabalhou incessantemente e, com o apoio de fotos e vídeos feitos por todo o grupo, em breve disponibilizará no site Naufrágios do Brasil as atualizações dos naufrágios.

Embarcamos no dia 07 de janeiro, em Barra de São Miguel (Alagoas) todos ansiosos para conhecer a embarcação, nossa casa por sete dias, a qual já tínhamos ouvidos excelentes referências e de fato merecedora de todos os elogios.

O Voyager é um belíssimo catamarã, extremamente confortável, que possibilita explorar pontos mais distantes da nossa costa, fazendo as navegações durante o dia e pernoitando no litoral.
Juntaram-se ao nosso grupo mais três mergulhadores:
Marcos Bernardo, Marcelo Almeida, Andréas Herman
Além da tripulação: Patrick Muller, Antonio Gomes de Morais (Nico), "Mestre" Gilmar, Adriana (nossa cozinheira), Valdir - Staff

Fomos recepcionados com um drinque de boas-vindas, onde fomos apresentados ao staff e a embarcação, além de começarmos a planejar os nossos mergulhos.
Malas arrumadas, equipamentos de mergulho montados, fomos dormir com a expectativa de uma semana inesquecível.

 
PRIMEIRO DIA


Começamos a navegar por volta das 8hs, em direção ao Naufrágio do ITAPAGÉ, um navio afundado na segunda guerra mundial, que contribuiu para entrada do Brasil no conflito.
A navegação foi tranqüila, um verdadeiro "Mar de Almirante".
Fizemos dois mergulhos, contando com uma excelente visibilidade.
O naufrágio é sensacional. Ainda possui algumas estruturas completas, grande quantidade de vida (muitos peixes grandes). A proa ainda bem inteira e perto dela centenas de garrafas de cerveja, vidros diversos, pentes e louças. Além de um eixo de caminhão e alguns pneus. A parte de máquinas nos reservou uma surpresa. Quatro máquinas (quando esperávamos duas), sendo duas diesel e duas a vapor.
Passamos a noite em Maceió, onde alguns desembarcaram para aproveitar um pouco da noite nordestina.

   
 
 
SEGUNDO DIA


Começamos a navegar bem cedo, antes das 6hs, rumo ao NAUFRÁGIO DO DRAGÃO. um grande navio draga, de dois cascos contendo um guindaste na proa, máquinas e duas caldeiras a vapor, que aparentemente serviam para o funcionamento de dragagem e não para sua propulsão, uma vez que não tem nenhum sistema deste. Encontra-se repousado no fundo do mar aos 30m, aproximadamente.

    

Depois, fizemos o segundo mergulho na DRAGUINHA, outro navio draga, de menor porte, também aos 30m.
 
 
Ambos os mergulhos com excelente visibilidade e mar calmo, além de vida abundante e presença de raias.
Após os mergulhos, navegamos até Maragogi, onde enfrentamos fortes ondas até a chegada ao nosso ponto de fundeio.
 
 
TERCEIRO DIA
 
Navegamos em direção à costa de Pernambuco.
O primeiro mergulho do dia foi no RECIFE ARTIFICIAL MARTE, um rebocador afundado pelo Sr. Homero Lacerda, proprietário do Hotel Intermares.
Encontra-se pousado perfeitamente no fundo do mar, aos 30m, possibilitando algumas penetrações.
 
 
 
 
Para o segundo mergulho do dia, tentamos fazer o Areeiro, contando com uma informação de água clara no local. Infelizmente, não era verdade. Encontramos menos de 2m de visibilidade e, assim, rumamos para o VAPOR DE BAIXO.
Um belo vapor de rodas, que ainda possui duas grandes caldeiras e duas rodas de pás. Destaque para as 4 bombas aéreas, ao lado do naufrágio.
Passamos a noite em Recife, preparando o mergulho do dia seguinte.

 

QUARTO DIA


VAPOR DOS 48. Para esse mergulho contamos com a presença da equipe da Rede Globo local, que realizou uma filmagem (inclusive, acompanhando o mergulho) sobre o trabalho de pesquisa que o Mauricio Carvalho desenvolveu na viagem.
Para esse mergulho, contamos com o suporte da Aquáticos, onde alugamos as duplas e stages para realizarmos um mergulho com mais segurança. Usamos para gás de fundo uma mistura 21/35 e como gás de descompressão um EAN50, o que nos proporcionou um tempo de fundo maior, reduzindo significantemente os efeitos da narcose.
O Vapor dos 48 tem esse nome por estar a essa profundidade. É um vapor de rodas, com uma delas ainda inteira e em pé. Não temos até hoje a identificação do naufrágio, mas um fato curioso: não identificamos a roda de bombordo (será que esse navio foi descartado?). O mergulho foi bem tranqüilo e pudemos observar uma grande quantidade de vida e um lindo mero que passeava por lá.

 
  
  
 
Fizemos o segundo mergulho no naufrágio do PIRAMA, famoso ponto de mergulho em Recife. Diferente do primeiro mergulho, não encontramos água muito clara.
Pernoitamos em Recife, ansiosos pelo dia seguinte, onde um belo mergulho nos aguardava.
 
 
QUINTO DIA

O mergulho mais esperado da viagem - CORVETA CAMACUÃ. Por estar bem distante da costa e com profundidade passando dos 50m, acaba sendo um mergulho que poucos conseguem fazer, uma vez que não existem operações constantes no local. Além do que é um mergulho que exige experiência pela sua complexidade.
Repetimos a mesma configuração de misturas do mergulho do Vapor dos 48, refazendo apenas as devidas correções de tempo de fundo e descompressão.
A navegação até o ponto de mergulho foi tranqüila. Todos ansiosos para cair na água.
A descida até o naufrágio foi dificultada por uma forte correnteza. Lá chegando, uma visão maravilhosa. Impossível ficar atônito diante desse naufrágio. Ela está tombada para boreste, inteira, com alguns pontos de penetração.
Começamos o mergulho passando pelos hélices e lemes e fomos em direção à proa.
Os lançadores de cargas de profundidade ainda estão na popa, e essas estão ao lado do naufrágio, em bom número.
A meia nau encontramos a ponte de comando destruída pelo tempo. Mais adiante o canhão e na proa o guincho.

 
Fizemos a volta e encontramos um maravilhoso cardume de xaréu.
Eu e Juliana fomos os últimos a subir e enfrentamos algumas dificuldades na descompressão devido à correnteza, mas sem nenhum problema mais sério.
O fim do mergulho foi efusivamente comemorado por todos a bordo. Um naufrágio inesquecível, que vale cada minuto da descompressão.
 
 
Após o mergulho, navegamos até Itamaracá, onde fizemos um passeio turístico pelo Forte Orange e conhecemos o Projeto Peixe-Boi. Passamos a noite em Itapissuma, um pequeno e simpático município de Pernambuco.
 
SEXTO DIA


Penúltimo dia de viagem. O cansaço da vida embarcado não é notado, muito em parte pela alegria e descontração do grupo. Aliás, isso merece um comentário. Foram sete dias juntos, nove mergulhadores e um clima sempre de companheirismo e amizade.
Começamos o dia mergulhando no Naufrágio REBOQUE FLÓRIDA. Um naufrágio simpático, de aproximadamente 50 metros. Está em posição de navegação, aos 33 metros de profundidade. Destaque para o hélice e leme, ainda inteiros, uma grande caldeira no meio dos destroços e uma máquina a vapor de dupla expansão. Na proa, o guincho se sobressai.

O segundo mergulho foi num dos meus naufrágios prediletos: VAPOR BAHIA. Um vapor de rodas, que naufragou em 1887, num desastre envolvendo o Pirapama.
Encontra-se desmantelado, aos 23 metros de profundidade. Porém, podemos destacar uma roda ainda inteira, as caldeiras, máquinas e as âncoras, além, é claro, de um pedaço da proa ainda inteiro, com os turcos virados para fora.
Por não ser um naufrágio muito visitado por mergulhadores, temos uma abundância de vida marinha no local, sendo que nesse mergulho encontramos uma tartaruga gigante, além de muitos lambarús e raias.

 
  
 

Para o dia seguinte, tínhamos como programação um mergulho no MINUANO. Solicitamos ao Nico a troca por mais um mergulho no BAHIA, o que só poderíamos saber no dia seguinte, pois dependíamos da condição de mar.
Passamos a noite em Barra de Catuama, ansiosos pelo último dia de mergulho.
 
SÉTIMO DIA


Começamos a navegar por volta das 5h30, rumo ao.....VAPOR BAHIA. Mais um belo mergulho, onde todos do grupo aproveitaram para relaxar e curtir a beleza desse naufrágio.

   
 
   
O segundo mergulho foi na CHATA DE NORONHA. Um naufrágio até hoje sem o nome certo da embarcação. Está aos 33 metros de profundidade. Podemos destacar o casario de cabeça para baixo, o hélice e o leme, além do motor a diesel.
Um belo mergulho de despedida, que deixou um gosto de despedida em todos nós.

Terminamos a noite com um grande jantar de confraternização, em Olinda, que ainda teve a participação do pessoal da Aquáticos, Gabriel (Gaba) e Edisio como convidados.
Podemos dizer que a viagem foi perfeita.
   
 
Agradecemos ao Staff do Voyager por trabalhar incessantemente pelo sucesso da viagem. Aos Deuses dos mares, obrigado pelo mar quase sempre calmo e pela paz nos mergulhos.
Foram mais de 300 milhas navegadas. Treze mergulhos. Quase doze horas de fundo. Fortalecemos amizades. Criamos novas amizades.
Um gosto de quero mais está presente em todos que participaram dessa expedição. Uma certeza que todos compartilharam ao fim da viagem é que amamos esse esporte.
Parafraseando uma gloriosa citação dos antigos navegadores:

"Mergulhar é preciso; viver não é preciso".
 

 

  
Miguel Alex é
Mergulhador autônomo desde 2004
[email protected]
 
Veja como foi a Expedição 2007
Veja como foi a expedição de 2008