Estrutura do casco

Casco

Como casco, conhecemos o revestimento externo e estanque a água da embarcação, que permite a ela permanecer flutuando. O casco pode ser fabricado de uma grande variedade de materiais; couro, madeira, ferro, aço, alumínio, fibra de vidro, plástico e até mesmo concreto nos períodos de grande escassez de aço.
O mesmo casco que permite a embarcação flutuar, também é o responsável pelas características náuticas de navegação. Desta forma, veleiros, por necessidade de menor resistência, precisam de cascos mais afilados. Grandes cargueiros possuem um perfil de casco mais largo, a fim de acomodar maior quantidade de carga. A parte imersa do casco recebe o nome de obras vivas, enquanto à parte emersa é chamada de obras mortas.
O casco pode ser formado por várias chapas, como nos antigos navios de madeira, ou por grandes secções, típicas de navios de ferro e aço. Ele é preso à estrutura interna de vigas, cavernas e quilhas, que darão resistência contra as forças sobre o casco, para isso utiliza-se grandes pregos, chamadas cavilhas, ou mais recentemente solda.

 

Tamanho e Tonelagem dos navios

O tamanho de um navio mercante é determinado pela sua capacidade de transporte (medida em toneladas inglesas = 1016 quilos) ou pelo seu volume interior.
Toneladas de Registro Bruto (TRB) também chamada Arqueação bruta. Compreende todo o volume interior, desde a quilha até à coberta superior.
Toneladas de Registro Líquido (TRL) cada tonelada representa 2,83 metros cúbicos.Compreende apenas o volume útil (carga + passageiros), excetuando-se o peso da própria embarcação.
 
Histórico
A evolução na fabricação dos cascos permitiu a utilização não só de diversos materiais, mas de suas combinações como no Composite. Também os métodos de fixação e proteção contra o mar sofreram modificações. Até meados do século XVIII temos unicamente cascos de madeira e madeira chapeada com folhas de cobre ou bronze (os primeiros registros de revestimento são em torno de 1570). As chapas de cobre eram presas ao casco por pequenos pregos do mesmo material - Califórnia; 1866 - Ilha Grande, RJ. De ferro ou bronze; sua função era proteger o casco de Teredos ou Gusanos, que como outros organismos marinhos perfuram o casco.
Em 1780 surgem os cascos de ferro. Com a chegada do século XIX, cascos desse material tornaram-se comuns; sua evolução, da origem, a partir de meados do século XIX, de navios do tipo Composite, onde a estrutura era de ferro e o forro de madeira.
Entre 1870 e 1880 surgem os cascos de aço, por serem de custo mais alto, estavam restritos aos navios militares de alta resistência, como os Encouraçados e Monitores.
No século XX, os cascos de aço, por sua maior resistência e pelo desenvolvimento das siderúrgicas que tornaram o aço mais barato, tomaram o lugar definitivamente do ferro e da madeira, sua maior resistência permitia menor espessura e peso, altamente vantajosas.
 
Dicas de mergulho
Datação: O casco é uma das primeiras peças a soltar-se da estrutura do navio naufragado, especialmente por ser preso ao cavername somente por pregos, rebites ou solda, muito mais suscetíveis à corrosão. Também influencia no desmonte o fato do casco absorver grande parte da energia do choque contra o fundo.
É possível inferir sobre o tipo de navio, se o formato do casco puder ser observado com precisão. Como exemplo, o tabuado das caravelas portuguesas eram feitos de pinho, enquanto em galeões espanhóis a madeira escolhida era o sobro. Até 1915 os grandes navios possuíam cascos formados por placas rebitadas, a partir desta data começam a surgir os cascos inteiramente soldados.
Infelizmente essa identificação não é nada fácil, pois geralmente, o casco fragmentou ou foi recoberto pelo sedimento.
Orientação: Ao longo de todo casco, são encontradas peças especializadas que podem indicar ao mergulhador em que posição está o navio e em que local do naufrágio ele se encontra.


Sinal manual para casco
 Pequenas projeções laterais, localizadas abaixo da linha d'água ao longo de todo o casco, são chamadas quilhas de balanço. Na extremidade da proa existem os escovéns, que são os orifícios de passagem das âncoras.
Se ainda existe uma certa continuidade do casco, o mergulhador poderá saber que porção dos destroços está observando. O casco segue o perfil das cavernas, assim o formato em V indica a proa, enquanto o perfil em U a popa. Quanto ao centro de embarcações comerciais, ele deverá ter um perfil mais quadrado com fundo quase plano, que acomoda melhor a carga (considerando-se embarcações comerciais).
Em naufrágios desmantelados, devemos observar o casco, a procura dos cavernames. Se eles estiverem visíveis, podemos deduzir que o casco abriu, caindo para fora dos destroços. Quando o casco está liso, é claro sinal de que observamos sua face externa, por isso deduzimos que caiu para o interior da embarcação. Tal fato demonstra que pode haver partes importantes dos destroços escondidas sobre ele.

Cavername
As cavernas são peças de madeira ou metal, geralmente curvas e ligeiramente flexíveis, que partem perpendicularmente da quilha, compondo a estrutura transversal do navio; e onde está preso o casco.
Histórico
O tipo de material das cavernas, foi sendo mudado com o desenvolvimento das embarcações. Inicialmente feitas de madeiras, a partir de 1866 começaram a serem feitas de metal, em navios conhecidos como Composite, pois apesar do cavername de Ferro possuíam o casco de madeira. Durante um furacão em 1838, várias embarcações de madeira e uma de ferro foram jogadas contra um penhasco nas costas da Inglaterra, então ficou clara a grande vantagem do ferro, pois somente a embarcação deste material safou-se do naufrágio.
Até o primeiro terço do século XX, as cavernas de aço, eram montadas em estruturas integrais e compactas, porém foram substituídas com perfis perfurados e de bordas reforçadas, utilizadas ainda hoje.
 
Dicas de mergulho
É uma estrutura freqüentemente observada nos naufrágios, presas ou não ao casco.
Caracterização e Datação: Pelo tamanho das cavernas, podemos avaliar as dimensões do barco e pelo tipo de perfil, o seu período de construção. Em embarcações dos séculos XVIII e XIX, o cavername de madeira era todo preso por grandes pregos de cobre ou bronze, chamados cavilhas. Cavernames de perfil sólido ou vazado também revelam a época de construção do navio.
A posição do cavername e da quilha, como veremos, é muito importante para determinar a posição do navio no fundo.
Orientação: Na grande maioria dos naufrágios que mergulhamos, podemos perceber um padrão de formato do cavername, com isso podemos utilizar esses formatos para nos orientarmos durante o mergulho e deduzir por qual parte dos destroços estamos nadando.
Na proa, o perfil das cavernas é o V, com cavernas cada vez mais próximas a medida que nos aproximamos do bico de proa. Nadando em direção ao centro da embarcação, as cavernas tornam-se mais quadradas e afastadas uma das outras. Na popa, as cavernas têm um perfil em U que se torna mais raso até atingir o espelho de popa.
Formato dos cavernames

Perfil em V

Perfil quadrado

Perfil em U
 
Animação do desmonte de casco e cavername para diferentes posições de naufrágios.
Casco e Cavername / Conveses / Carga / Sedimento
 
Naufrágio em posição correta



Casco e Cavername / Conveses / Carga / Sedimento

O navio ao pousar no fundo em sua posição correta apóia-se sobre a quilha. Apesar das peças estarem apoiadas em seus lugares apropriados, o que aumenta o tempo de estabilidade da estrutura, ela sofre a força de sua carga e acaba por abrir o casco e cavername. A queda normalmente ocorre para fora dos destroços; com isso, a largura dos destroços é superior a boca original do navio.
Os convéses desabam sobre o interior dos destroços. A carga se espalha de forma homogênea para os dois lados da quilha e o sedimento quando cobre os destroços forma uma "mesa" de formato regular e plano.
 
Naufrágio adernado


Casco e Cavername / Conveses / Carga / Sedimento
Muitos destroços, devido à inclinação do relevo do fundo, acabam por pousar adernados, apoiados em sua quilha de balanço. A carga subitamente deslocada para um dos bordos, rompe o casco entre as cavernas, fazendo com que o conteúdo se espalhe apenas em um dos lados dos destroços.
O cavername que permanece voltado para cima, inclina-se permanecendo quase perpendicular com o fundo, o casco inferior desaparece sob o sedimento. Os destroços ficam deslocados para o lado mais inclinado, a pirâmide formada tem um dos lados de declive suave enquanto o outro mergulha abruptamente.
 
Naufrágio caído de lado


Casco e Cavername / Conveses / Carga / Sedimento
Navios militares, com casarios pesados, como os Couraçados e Cruzadores da 2ª Grande Guerra assim como em naufrágios causados por mau tempo, os cascos têm tendência a adernar totalmente, pousando no fundo por um dos bordos, ou até mesmo de cabeça para baixo. Nestes casos, a carga rompe os conveses e espalha-se pelo fundo. A parte superior do casco, colaba sobre os destroços encerrando muitas partes do navio.
A configuração final dos destroços é de uma grande concha, com partes espalhadas em um dos bordos. O sedimento cobre as partes mais baixas do naufrágio deixando exposto o casco, que muitas vezes apresenta, virada para cima uma das quilhas de balanço.
 

Quilha

É a espinha dorsal da embarcação, sendo constituída por uma peça muito resistente, disposta por todo o comprimento do casco, na parte mais baixa do barco.
Podem haver de uma a três quilhas de fundo, além das quilhas de balanço, de acordo com o tipo de embarcação.
Da quilha parte o cavename, que dará a sustentação ao casco. Por ser a base da estrutura do navio, são construídas com o material mais nobre.

Histórico
Nas antigas caravelas e galeões era utilizada o Carvalho para a confecção dessa peça, em navios de metal o material escolhido é o melhor aço, de maior dureza e resistência já que o navio fica apoiado sobre ela na carreira seca.
 

Dicas de mergulho
A quilha é uma peça muito reforçada e por isso, uma das mais resistentes à corrosão, restando preservadas na maioria dos naufrágios; também contribui para isto, o fato de rapidamente ser coberta por sedimento, por estar no fundo do navio.
Ligadas, direta ou indiretamente à quilha, ficam praticamente todas as estruturas transversais do barco, além do casario, a mastreação e outros elementos, constituindo-se por assim dizer a "coluna vertebral" da embarcação. Por sua análise, podemos detectar a posição do navio no fundo e se houve ruptura


Sinal manual para quilha
durante o naufrágio, naufrágios partidos freqüentemente apresentam quilhas descontinuadas, veja
- Bellucia, 1903, Guarapari ES.
Na maioria dos naufrágios não conseguimos observar a quilha, pois ela encontra-se coberta por outros destroços ou pelo sedimento.
 

Convés
É o mais alto pavimento contínuo da embarcação dentro do casco, estendendo-se da proa à popa. Os pavimentos abaixo do convés são chamados de cobertas. Do convés erguem-se a superestrutura, os castelos de proa, popa e meia-nau, quando existentes e os mastros passam a ser externos.
Nele também estão fixadas peças como guinchos, cabeços de amarração, turcos entre outros.
A forma do convés dependerá do tipo de embarcação.
 
Dicas de mergulho
Orientação: Quando a embarcação está em sua posição correta, o convés, sob o peso das estruturas, precipita-se sobre o resto do navio, formando-se uma pilha de destroços sobrepostos. Em naufrágios adernados ou tombados de lado, o convés, projeta-se para fora do casco. Nos dois casos, são obstruídos os outros níveis. (Veja as animações sobre desmonte acima).
No convés, encontramos não só uma série de peças muito comuns em destroços como: guinchos das âncoras, cabeços de amarração e guindastes, mas também as entrada dos porões chamadas escotilhas, que darão acesso ao(s) porão(ões).
 

Superestrutura

Também chamado de Casario ou Casaria. São as construções com pavimentos acima do convés superior da embarcação, possuem portas e vigias, sendo na maioria dos casos compostas por corredores e compartimentos, que podem formar um verdadeiro labirinto, por vezes, com vários andares de compartimentos.
Geralmente o peso da superestrutura faz desabar o convés sob ela, junto com o casario.

Histórico
Dos Séculos XV ao XVII o maior casario era localizado na popa, com essa caracterização temos Caravelas, e Galeões.
Nos séculos XVIII e XIX, a casaria não passava de um pavimento, abaixo do sistema de velas da embarcação, sendo os ícones do período Brigues, Escunas e Patachos. No início do Século XX, surgem os clássicos cargueiros de três castelos, com a superestrutura de maior volume no centro da embarcação. Na maioria dos navios modernos a superestrutura ergue-se na popa.
Em cargueiros dos séculos XIX e XX, encontramos na parte frontal e superior da superestrutura a sala de comando (ponte), esta estrutura, até meados deste século encontrava-se a meia-nau.
 
Dicas de mergulho
Orientação: A posição das superestruturas no fundo podem indicar o que ocorreu com os destroços durante o processo do naufrágio e do desmanche.
Quando o navio esta em sua posição natural forma-se uma grande massa de ferros amontoados em um ponto específico dos destroços. Essa região normalmente eleva-se vários metros acima do restante do naufrágio sendo a região mais rasa.
Quando o navio aderna ou tomba de lado, a superestrutura, por efeito de alavanca, é arrancada do convés rompendo o casco e caindo de cabeça para baixo.
Segurança: Em uma penetração as superestruturas são normalmente o local de maior dificuldade, pois os corredores são estreitos as portas dificultam a passagem de um mergulhador e existem poucos pontos de luz. Para complicar ainda mais os utensílios do compartimento, como camas, mesas etc obstruem a passagem.
O mergulhador deve procurar passar pelas portas na sua maior dimensão, evitando-se ficar preso pela parte de cima do cilindro.
Porta na vertical
Mergulhador em posição normal.
Porta na horizontal
Mergulhador em posição lateral.
 

Escotilhas

São as abertura do convés, para a passagem de carga, pessoal, luz ou ar, para o interior da embarcação. Podem ter diversas configurações e formas de acordo com sua função.
As escotilhas de carga são também erroneamente chamadas de estiva, que é a arrumação da carga a bordo. Nestas escotilhas, normalmente retangulares, existe um borda vertical, que impede a entrada de água para os porões quando o cargueiro possui mais de um nível de porão, também existirão duas ou mais escotilhas sobrepostas em cada um dos níveis do porão.


Vigia
Ao lado das escotilhas de carga, freqüentemente encontramos escotilhas comuns, que servem para dar acesso a pessoas através de uma escada inclinada.
Essas escotilhas possuem tampas, fixadas através de ferrolhos aparafusados por borboletas.
As vigias, também são por vezes chamadas de escotilhas.
 
Dicas de mergulho
Orientação: As escotilhas têm um importante papel para os mergulhadores pois, quando são de carga funcionam como passagem e entrada de luz para o interior dos porões.
No caso de vigias, podemos utilizá-las para prover o interior do naufrágio com luz e para mapear os destroços. Além de sabermos que por trás de uma vigia existe um compartimento, podemos contá-las pelo lado de fora dos destroços e utilizar esse número como orientação quando nadamos pelo interior dos destroços. Deste modo podemos saber em que ponto dos destroços estamos, ou se há mais algum compartimento a nossa frente.
Segurança: Tampas de escotilhas devem ser checadas antes da passagem do mergulhador para o interior do naufrágio, garantindo que não podem mover-se e obstruir a saída. No caso de dúvida calce a escotilha com algum outro destroço.

Conheça outros sinais manuais
para naufrágio
 

Consulte nosso guia de estruturas de vapores e conheça mais sobre sua construção e características, caso deseje identificar as peças pelo visual utilize o esquema na página de Navios à vapor.
 
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