Histórico |
Revista Manchete de 1974 |
Armas de pederneiras inglesas Clay & Co |
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Vista da costa do ponto sobre o naufrágio (foto 2023) Aproximadamente 40 metros do costão |
Vista da praia Vermelha do mesmo ponto sobre o naufrágio (foto 2023) |
Em julho de 1987 fiz meu primeiro
mergulho no naufrágio do California na Ilha
Grande. Na época ele foi mais um navio que me encantava pela
beleza. Mas o interesse pelos naufrágios cresceu e comecei a buscar
informações sobre todos naufrágios do Brasil, num verdadeiro
trabalho de garimpagem. Os jornais de 1866 e anos adjacentes foram lidos
e revirados, mas nenhuma informação do California existia.
O erro não surpreendia, já que a quantidade de datas incorretas
no documento da marinha era bastante grande. Ao longo dos anos alguns autores afirmavam ser um vapor de transporte de escravos, mas a argumentação não fazia sentido, já que na década de 70 uma carga de armas, de diversos tipos, perfumaria, pentes, escovas de dente, entre peças de nobre porcelana foi resgatada do naufrágio, como está fotograficamente representado no livro Super Sub, 1983 de Américo Santarelli. |
No meio dessa névoa de hipóteses,
fala-se de ataque de piratas, incêndio, entre outras versões
fantasiosas, que não passavam de contos verbais e não encontravam
na bibliografia o apoio necessário a sua ratificação.
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A
Descoberta No dia 30 de novembro de 2015 recebi pelo telefone, uma foto que em uma única linha me deixou muito feliz. Era a prova que faltava para fechar a identificação. O amigo e jornalista Mauro Ferreira - que não era mergulhador, mas tornou-se um apaixonado pelas histórias dos naufrágios, havia encontrado a notícia que faltava durante a pesquisa para a produção do argumento de um programa para a TV que estávamos preparando. No jornal Correio Mercantil de 04.01.1860 estava o necrológio da linha de vapores intermediários, pertencente a Companhia Brasileira de Paquetes a Vapor, nessa pequena matéria pode ler o destino de vários navios da companhia, e especificamente estava descrito: "vapor Rio de Janeiro (antigo California) incendiado na Ilha Grande". |
Estava
desfeito o mistério A história do Rio de Janeiro O paquete a vapor Rio de Janeiro pertencia a Linha de vapores Intermediários para o Sul, que prestava serviço entre alguns dos principais portos do Rio de Janeiro até o porto de Rio Grande, RS. Ele era comandado pelo experiente tenente Pedro Hippolyto Duarte e prestava serviço de carga e passageiros como, anunciado regularmente no jornal Diário do Rio de Janeiro. Frequentemente prestava serviço de transporte de armamento para o exército brasileiro. Em sua última viagem, no dia 1º de junho de 1853, às 8 horas da manhã, saiu do Rio de Janeiro com destino a Santos. Ainda no dia 1º, às seis horas da tarde, passava por fora da Ilha Grande, quando a tripulação descobriu que havia fogo na carvoaria. |
Jornal que confirmou a identificação que estava feita desde 2007 |
Maurício Carvalho e Mauro Ferreira, juntando os pedaços do quebra cabeça |
Comandada bravamente
pelo tenente Hippolyto, a tripulação tentou de tudo para controlar
o fogo. Sendo baldados os esforços para deter o incêndio, o
comandante determinou embicar para a costa; seu medo era o fogo atingir
o porão onde estava uma carga de 200 arrobas de pólvora -
cerca de 3.000 quilos - o que produziria a explosão do navio. A meia-noite o fogo cresceu e era considerado descontrolado, o vapor foi levado a Praia Vermelha na Ilha Grande, a fim de garantir a segurança dos 12 passageiros e dos 20 tripulantes, no caso do fogo atingir a carga. Meia hora depois de ancorado, todos os que nele viajavam foram desembarcados na praia. O comandante, contramestre, maquinista e o Sr. Marim, capitão de navio mercante, que vinha como passageiro e prestou relevantes serviços no combate às chamas e organização dos passageiros, foram os últimos a deixar o navio. Poucos minutos depois o vapor Rio de Janeiro sofria duas grandes explosões, sendo, as partes fora d´água completamente destruídas e indo ao fundo de uma vez. Uma das explosões pode ter sido provocada pela caldeira, o que explicaria a aparência de meio cilindro que pode ser visto no fundo. |
Dois fatos
curiosos ocorrem nesse naufrágio. O primeiro é o cuidado que
os doze passageiros tiveram em preparar, logo na manhã do dia 3,
ainda na Praia Vermelha, um abaixo assinado, com os maiores elogios ao comandante
e tripulação, pelos esforços em salvar o navio e seus
passageiros diante do perigo de uma explosão. A segunda é o comentário sobre a possível causa do naufrágio, segundo alguns jornais: "Há razões para acreditar que o fogo foi provocado por um escravo que se degolou depois de cometido este ato de barbárie." Na manhã do dia 3 os passageiros e tripulantes do vapor Rio de Janeiro, foram resgatados pelo vapor da Marinha do Brasil, Pedro II, que transportou todos ao Rio de Janeiro. Nos meses que se seguiram o seguro do navio foi pago no Rio de Janeiro. Em 1854 um comerciante de nome Antônio Vicente Pereira foi contratado para, segundo os jornais, "tirar do mar os restos do vapor incendiado" Em dezembro deste mesmo ano, o comerciante reclamava na justiça seu pagamento e o juiz municipal de Angra dos Reis, determinou o pagamento e informou que: "na primeira embarcação, faria a remessa para o arsenal de guerra dos artigos bélicos salvos do vapor Rio de Janeiro; que estavam sob a guarda do comandante do Corpo de Infantaria e cavalaria do município. |
Máquinas
a vapor do tipo
"Direct Acting Engine" |
Máquinas
a vapor
encontradas no Rio de Janeiro |
Mas em que momento o Rio de Janeiro
desapareceu do conhecimento comum, isso ainda não sabemos. Possivelmente,
por ter, alguma peça gravada com seu nome ter sido recuperada durante
sua exploração. Fato semelhante ocorreu com o navio brasileiro
Therezina, naufragado
na Ilha Bela, SP. em 1919. Ele constava nas mesmas listas da Marinha do Brasil que o naufrágio registrado como Sigmound, seu nome antigo. O Sigmound tinha seu nome escrito no casco com letras em alto relevo. Quando o navio foi passado ao Brasil, provavelmente por seu estado já precário, não valia a pena retirar as letras. Assim, foi aplicada tinta sobre essa as letras e pintado sobre elas o novo nome, Therezina. Passado anos no fundo, com a tinta já desfeita, foram recuperadas as letras do nome original, que estavam presas ao casco. Nos documentos da Marinha, dois naufrágios passaram a existir Therezina e Sigmound, até que o erro foi descoberto na década de 90. |
Desmontadas
no fundo, nos dois bordos do Rio de Janeiro,
encontramos diversas das
pás de propulsão, um pouco que sobrou das rodas de propulsão |
Cilindros
e pistões das máquinas
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Condensador
de paredes duplas
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Suporte
do eixo de rodas
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Descrição Assentado a cerca de 45º em relação ao costão direito da Praia Vermelha, de onde está afastado cerca de 30 metros, o navio encontra-se a cerca de 8 metros e bastante enterrado, apenas com as peças assinaladas a mostra. Existe atualmente cerca de 50% das estruturas que compunha o vapor. Em pouca profundidade a água costuma ser mais clara que abaixo de 12 metros. A partir de 8 metros é vista parte da quilha com suas cavilhas, chega-se a caldeira única e partida, restando apenas meio cilindro. Parte do encanamento de baixa pressão do trocador de calor é visto sobre a parte que sobra da caldeira. Caído ao lado de bombordo da caldeira está o condensador de paredes duplas, mas que infelizmente ruiu em 2017 ficando com a abertura em formato de boca. Segue-se as máquinas a vapor do tipo "Direct Acting Engine", caídas sobre o fundo, restando apenas metade dos 2 cilindros principais e os pistões e barras de ligação entre os pistões e o virabrequim. Ao lado de bombordo está o cilindro da bomba d'água. |
Nas duas laterais
das máquinas estão um grupo de engrenagens e algumas das pás
das rodas de propulsão. Até o meio do navio podem ser vistas
partes do costado com suas cavernas de madeira. A meia nau, logo atrás das máquinas está a maior estrutura do naufrágio, que se ergue até os 6 metros de profundidade. Ela sustentava todo o conjunto de máquinas com seus pistões e o eixo das rodas de pás. No alto dessa estrutura, a bombordo, pode ser visto o mancal do eixo. De meia nau para trás não existem peças distinguíveis, apenas um aglomerado de partes, principalmente a estrutura da quilha e parte da carga, encobertos por muito sedimento. |
Visão superior da caldeira e condensador |
Detralhe do dente da caldeira |
Caldeira em sela |
Tubulação do trocador de calor de baixa pressão |
As
foto da Caldeira revelam características interessantes.
A caldeira é do tipo sela, que pode ter explodido durante o afundamento, pode ser vista inteira no vapor Paulista. É uma caldeira de baixa pressão, que pode ser comprovada pelos tubos de troca de calor de grande diâmetro |
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Shipwreck WRECK WRAK EPAVE PECIO |