...NAUFRÁGIO do VAPOR DAS CRIOULAS
 
 
O mais novo naufrágio localizado no Rio de Janeiro é um grande, devido a seu
incrível e bem conservado sistema de máquinas é um museu no fundo do mar e
não pode deixar de ser conhecido pelos apaixonados por naufrágios.
 
 
A Pesquisa e localização
O Naufrágio das Crioulas foi localizado no dia 20 de novembro de 2011 pela equipe da escola de mergulho Diving Clube de Niterói e pelos mergulhadores do Rio de Janeiro André Domingues, Eduardo Davidovich e Fabio Conti, depois de duas expedições ao local.
Segundo
Sebastião Mariani (Mineiro), proprietário e instrutor da escola de mergulho Diving Clube de Niterói, a posição do naufrágio foi conseguida com amigos, caçadores submarinos da região, que depois de muita conversa aceitaram "passar o ponto" e levar a equipe até o local.
 


O mesmo naufrágio já tinha sido alvo de uma busca em 2005 por outra equipe de mergulhadores cariocas. A mesma equipe que localizou o naufrágio do "Chuck". Na época, a posição também foi passada por caçadores submarinos, porém, devido a problemas de organização durante a busca, o naufrágio não foi localizado. Até hoje, acredita-se que tenha sido devido a "maldição do Chuck" - pois um dos mergulhadores da equipe tirou o boneco assassino temporariamente de seu túmulo no naufrágio, nunca mais a equipe teve sucesso nas buscas.
A segunda equipe, além de contar com meios eletrônicos mais eficientes, que incluía uma sonda de varredura lateral, possuía também uma competente equipe de mergulhadores com rebreather, o que garantiu um tempo de fundo significativamente maior e uma busca mais completa. Ainda assim, o navio cobrou duas expedições de busca até ser finalmente localizado.
Feita a localização do naufrágio a equipe, mostrando grande maturidade, optou por não fazer segredo do ponto, divulgar a posição do naufrágio e convidar outros mergulhadores para conhecer o local no final de semana seguinte a descoberta.

 

Grupo que localizou o naufrágio:
Eduardo Davidovich (DOC), Sebastião Mariani (Mineiro),
André Domingues e Felipe
 

André Domingues de rebreather
 

Eixo e cubo da roda de pás (Foto: Maurício Avila)
 

 
O mergulho
O naufrágio está localizado a cerca de uma milha ao largo da praia de Maricá no litoral norte do Rio de Janeiro / Niterói, próximo ao arquipélago de Maricá, onde fica o naufrágio do Moreno.
O navio encontra-se a 30 metros de profundidade, sobre um fundo lodoso, o que prejudica muito a visibilidade. A região costuma ter correntes fortes, o que tornam o mergulho mais cansativo.


 
 


Vista das Ilhas Maricá da posição do naufrágio



A Pesquisa
A primeira pergunta que deve ser feita é: o navio está inteiro no fundo?
A equipe de rebreather fez buscas circulares com um afastamento de cerca de 30 metros dos destroços e não localizou nenhuma outra estrutura.
Mas como um conjunto de máquinas e caldeira pesado como este poderia estar navegando seccionado de seu navio? Isso é pouco provável.

As sondagens iniciais feitas em nosso mergulho de prospecção indicam que em torno de todo o navio existe uma grossa camada de lodo sobre os destroços, o que permitiria que o casco, já aberto e caído para os lados, estivesse enterrado.
Assim mesmo, não seria lógico que pelo menos o bico de proa e o castelo de popa não aflorassem acima do fundo lodoso.
O que podemos afirmar até agora é que este vapor de rodas deve ter sido construído entre 1830 e 1870 (período do Oscilating Engine) e que as rodas de pás foram retiradas antes do afundamento, já que, nenhum dos cubos laterais apresentam restos das rodas que justificassem pensar que quebraram durante o naufrágio, desmontaram ou foram resgatadas após o naufrágio.

As medidas dos eixos indicam um navio com boca de cerca de 8 metros, assim podemos pensar navios de maior porte.

 

DADOS BÁSICOS

Nome do navio: "Vapor das Crioulas"

Data do afundamento: 1800 - Sujeito a confirmação

LOCALIZAÇÃO

Local: Maricás

UF: RJ.

País: Brasil

Posição: Ao largo da praia de Maricá. A 0,7 milhas náuticas da Ilha Maricá.

Latitude: 23º 00.151´ sul

Longitude: 042º 53. 835´ oeste

Profundidade mínima: 28 metros

Profundidade máxima: 30 metros
DADOS TÉCNICOS
Comprimento: aproximadamente 15 metros
Tipo de embarcação: Vapor de rodas
Material do casco: madeira chapeada Propulsão: vapor Oscilating Engine
CONDIÇÕES ATUAIS: desmantelado e enterrado
 

 
Descrição
O Vapor das Crioulas apresenta hoje no fundo uma estrutura muito curiosa. O naufrágio é formado basicamente pelo sistema de caldeiras e das máquinas do tipo Oscilating Engine, apoiados sobre a quilha do navio já bastante enterrada no lodo. Em torno dessa estrutura, não existem outras partes do navio.
 
As duas caldeiras estão inseridas dentro de suas caixas abafadoras. A estrutura de bombordo está fechada e não se tem acesso aos trocadores de calor e fornalhas. A caldeira de boreste está com as duas tampas frontais abertas e pode ser visualizada a estrutura interna. A caixa das caldeiras, com cerca de 6 metros de largura por 4 de comprimento, estreita-se na parte superior onde está a abertura da chaminé e um outro sistema de válvulas.
Atrás das caldeiras duas conexões com flanges e dois longos tubos estão caídos, deviam transferir o vapor das caldeiras ao sistema de máquinas. Logo a frente dos cilindros ainda é possível ver um volante de válvula, que possivelmente servia para a admissão do vapor.

 

André Domingues na saída das
caldeiras para a chaminé
 

Muitas redes nos destroços pois a região é
frequentada por pescadores de arraste
 

Válvula de admissão do vapor Cobertura das caldeiras Caldeiras saída da chaminé Cubo da roda de pás Cubo da roda de pás Cilindros oscilantes Cilindros oscilantes

Pouco resta do casco em volta das caldeiras, ainda assim, é possível ver que ele era recoberto por placas de latão.
À frente das caldeiras existe um cilindro que poderia ter feito parte do condensador. A menos de um metro a boreste das caldeiras, está cravada no fundo por uma das unhas uma âncora almirantado. Essa âncora parece ser muito pequena para pertencer ao grupo principal do vapor.
O sistema de máquinas é do tipo Oscilating Engine. Ele possui dois cilindros principais de cerca de 1,5 metros de diâmetro, montados em uma estrutura de cerca de 7 metros de largura por 2 de altura. O navio deveria ter cerca de 8 metros de boca. No fundo, restou o sistema de cilindros, ainda muito completo, com a cobertura dos cilindros, bases oscilatórias e o grande eixo excêntrico acima deles.

 

 

 
O eixo estende-se por 11,5 metros terminando nas duas extremidades nos cubos de roda de cerca de 1 metro de diâmetro. Os cubos fixavam as rodas de pás, das quais infelizmente pouco restou dessas estruturas.
Existem claros sinais de que foram desmontadas previamente, já que apresentam contornos extremamente regulares, sem sinais de quebra depois de afundado. No lado de boreste não existem ferros no fundo, mas a bombordo, um pequeno aglomerado pode ser o testemunho das antigas rodas.
Em volta do conjunto, restam poucas estruturas, algumas de madeira com chapas de latão, que eram utilizadas no casco para protegê-lo da ação dos vermes marinhos. Toda a parte inferior do casco e da quilha está enterrada no lodo. Em um perímetro de pelo menos 30 metros a partir dos destroços não foram encontrados mais registros de peças.
 



Eixo excêntrico e girabrequim sobre um dos cilindros oscilantes
Fotos: Maurício Avila


Cubo da roda de pás, mostrando sinais de desmontagem

 

 
O Vapor das Crioulas é um pequeno sítio, porém de importância extrema, já que o conjunto de máquinas e caldeiras que está no fundo além de ser muito raro está em ótimo estado de preservação, já valendo a pena o mergulho só para conhecer essas raras peças da história da engenharia naval. Máquinas Oscilating Engine só eram encontradas no Brasil anteriormente no naufrágio do Pirapama, Recife, PE. e no naufrágio do Salvador, em Jauá, Salvador, BA. Já as caldeiras, ainda com a cobertura dos abafadores só eram conhecidas no Brasil no vapor Orion, afundado em Bombinhas, SC.
 
 

Pesquisa em Andamento
O vapor de rodas que está no fundo deveria ser um navio de uma chaminé e possivelmente costado baixo, como a figura abaixo. Isso poderia explicar a falta de outras estruturas em torno das máquinas.
Segundo o SINAU (Sistema de Informações de Naufrágios) oito vapores de rodas desse tipo naufragaram no Rio de Janeiro.
Resta buscar mais subsídios bibliográficos e no fundo para tentar a identificação desse naufrágio.

 

Shipwreck WRECK WRAK EPAVE PECIO shipwreck in brazil
Agradecimentos
Sebastião Mariani (Mineiro)
Diving Club
 

Aos amigos
André Domingues e Eduardo Davidovich (DOC)