...NAUFRÁGIO do MORENO
 

Histórico
A companhia de navegação francesa Compagnie des Chargeurs Réunis foi fundada em 1872 de olho no crescente comércio de açúcar, café, carne entre outros produtos com os países da América do Sul. Apenas quatro dias após a apresentação dos estatutos foram encomendados 6 navios, quatro maiores e dois menores, que atenderiam ao Brasil, com uma tonelagem média entre 1500 a 2000 toneladas e o maior atingindo 4000 T. mostrando claramente a ambição dos fundadores de conquistar rapidamente um lugar de destaque no tráfego transatlântico.
No dia 15 de fevereiro foi contratado como engenheiro da empresa, um engenheiro da Marinha francesa, Sr. Duminy. Nesse mesmo dia, os primeiros quatro primeiros navios encomendados na Forges & Chantiers Méditerranée, La Seyne (Toulon - França) foram batizados em homenagem a figuras ilustres da Argentina e Equador: Belgrano (Manuel Belgrano), San Martín e Rivadavia (Bernardo Rivadavia) da Argentina e Moreno em homenagem a Gabriel García Moreno presidente por duas vezes do equador e assassinado em seu segundo mandato em 1870.

O vapor Moreno foi lançado ao mar em 25 de abril de 1872. Era um navio misto, com pouco mais de 95 metros e cerca de 2.000 toneladas. Sua máquina de 860 HP e as velas, distribuídas por 3 mastros, que ainda eram importantes na navegação, permitia ao navio desenvolver uma velocidade de 11,6 nós. Em um ano o navio fez 7 viagens entre o Brasil e a França.

     
O Naufrágio
No dia 15 de outubro de 1874 o paquete saiu do porto do Rio de Janeiro às 15:30 h, seguindo para a Europa, com uma carga de café. Estavam previstas diversas escalas na costa brasileira e chegada seria no porto de Havre na França.
Naquela tarde, o tempo estava muito escuro e chuvoso, o mar encarpelado dificultava a navegação. Além disso, as nuvens baixas impediam uma boa visualização. No seu caminho estava o arquipélago das Ilhas Maricá. Essas ilhas de baixo perfil estão do lado norte da saída da Baía de Guanabara e hoje em frente à cidade de Niterói (praia de Barra de Maricá).


OBS.: De acordo com as características encontradas,
é próvavelque ele seja semelhante ao Belgrano,
constuído no mesmo estaleiro e período

 

DADOS BÁSICOS

Nome do navio: Moreno

Data do afundamento: 15.10.1874

LOCALIZAÇÃO

Local: Ilhas Maricás

UF: RJ.

País:Brasil

Posição:No interior da enseada da Ilha de Maricá

Latitude: 23° 00' 39" sul

Longitude: 042° 55' 06" oeste

Profundidade mínima: 05 metros

Profundidade máxima:12 metros

MOTIVO DO AFUNDAMENTO: incêncio

DADOS TÉCNICOS
Nacionalidade: Francesa
Ano de Fabricação: 1872
Armador: Compagnie des Chargeurs Réunis
Estaleiro: Forges et Chantiers de la Méditerranée La Seyne, (Toulon - França)
Comprimento: 95,45 metros Boca: 10,5 metros
Tipo de embarcação: Cargueiro
Material do casco: aço Propulsão: hélice

Carga: 10.000 café

CONDIÇÕES ATUAIS: desmantelado
 
Shipwreck WRECK WRAK EPAVE PECIO
Segundo o capitão, a visibilidade era muito ruim e o tempo instável, com muitas descargas elétricas, atrapalhavaram o funcionamento da bússola.
Às 19:30 h o vapor da bateu contra o centro da enseada da Ilha Maricá. O grande rombo aberto abaixo da linha de navegação permitiu a rápida entrada da água e alguns minutos depois ela já cobria todo o convés, sendo dada a ordem de abandonar o navio em direção a pequena praia que fica no exato local onde a proa do navio se posicionou.
Diversos pescadores acodiram os 39 tripulantes e nove passageiros. Os rebocadores Pacífico e Gamo dirigiram-se ao local, porém mais nada puderam fazer e regressaram ao Rio de Janeiro com os náufragos.

Local do naufrágio do Moreno (posição da proa)
(Interior da enseada da Ilha de Maricá)
 

 
Destroços
Os destroços do Moreno estão paralelos ao costão da enseada. A proa, próximo à praia, está bastante destruída, mas ainda existe um aglomerado de correntes, um guincho e alguns cabeços de amarração. Continua-se para o meio do navio utilizando o costado de boreste, ainda com parte do cavername e casco visíveis, que seguem quase paralelamente ao costão até praticamente à popa.
A profundidade aumenta aos poucos e poucas peças existem, nessa área de porão, até a região das caldeiras no meio da embarcação. Junto a areia, entre a proa e meia nau, está o primeiro mastro, perpendicularmente aos destroços e ainda existe parte da fiação.
A meia nau existem duas caldeiras Scotch, uma delas encostada à boreste e a outra, está praticamente enterrada por tijolos refratários e outros detritos. Ao lado das caldeiras existe um grande cilindro oco, que tratar-se da câmara de condensação do vapor.
Junto a areia está a caldeira de serviço, ela não é cilíndrica, mas podem ser vistas facilmente as clássicas fornalha e o trocador de calor.

Cana do leme Eixo Turcos Guincho de cabeça para baixo Correntes Chaminé vazada com passagem pelo meio Condensadores Cilindros das máquinas Pequena penetração Hélice de pá reta com apenas uma visível
 
 
Junto à praia da ilha está o amontoado de correntes
Ainda na proa pode ser visualizado o guincho da âncora
O casco de boreste ainda mantem a formação com as cavernas
     

Entre o costão e o casco de boreste
formam-se várias passagens sombreadas
Caldeira de bombordo mostrando as fornalhas
e os trocadores de calor
Parte de trás da caldeira (Flamotubular) de boreste
 
Caldeira de serviço com formato "quadrado" caída na diagonal
Ao lado das caldeiras, o condensador de vapor forma um túnel até a areia
 
Logo atrás das caldeiras encontram-se caídas para bombordo as máquinas do tipo Duble Expansion Engine, onde são facilmente vistos os pistões, cilindros e bielas, além das câmaras de expansão. Em 2005 localizamos junto ao fundo uma caldeira quadrada, que era a caldeira auxiliar, das raras encontradas nos naufrágios do mundo.
Seguindo-se pelo eixo em seções, ainda unidas por flanges, se atinge a popa que ainda mantém sua forma afilada.
A popa, seção mais inteira dos destroços, se ergue mostrando ainda as vigas do cavername e a ligação do casco com o leme, o volante do leme se destaca do conjunto inclinado para a superfície.
O hélice do Moreno, difícil de ser identificado, é uma raridade em termos de construção naval, pois é um dos modelos mais antigos, de pás retas. Um hélice semelhante pode ser visto, totalmente descoberto, no naufrágio do Queimado em João Pessoa PB. Ele está em seu local tradicional, mais parcialmente enterrado, são visíveis duas pás, uma emergindo da areia e outra entre o casco e o leme.
Todo o costado de bombordo está deitado no fundo e praticamente coberto pela areia.

 
Os dois cilindros da máquina a vapor
Compound Engine - Duble Expansion
O longo eixo, ainda na posição, que liga as máquinas ao hélice
A cana do leme indica o posicionamento da popa
 
A popa é a parte mais inteira do moreno e o volante
do leme projeta-se em direção a superfície
O hélice de pás retas está praticamente enterrado
 

 

Abrigado na enseada da maior das Ilhas Maricá, o Moreno encontra-se caído de lado paralelamente ao costão e a pouca profundidade garante um mergulho longo e agradável.

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