...NAUFRÁGIO de CREST
(conhecido por muitos como São Janeco)
 
Histórico
O cargueiro misto (vapor e velas) Crest foi construído nos estaleiros de J. L. Thompson & Sons Ltd., North Sands na Inglaterra em 1877, sendo lançado ao mar em 19.10.1877 para a empresa Dent, Hodgson & Co., Newcastle.
Apresentava com 1.697 toneladas brutas e 1.098 toneladas líquidas, com 260,7 feet (78 metros) de comprimento, 34 feet (10,2) de boca e 23,8 feet (7,1 metros) de calado. Suas máquinas eram de dois cilindros (33, 62 x 39 in), proporcionando 180 hp que mobilizava uma hélice. Seu casco era de ferro e apresntava dois mastros.
Em 1879 foi transferido para Dent & Co., Newcastle.

 

Vapor semelhante ao Crest
(existem discrepâncias entre os pesquisadores
das características desse navio)
 

Pesquisa
Os naufrágios na ilha de São Sebastião no litoral de São Paulo sempre estiveram rodeados de informações confusas e falsas, com a citação de vários naufrágios que não ocorreram. Por exemplo, os navios France (1906), Western World (1931), se chocaram com a ilha, mas foram recuperados; o Borborema, que se chocou com o Guarany (1913) ao largo do litoral, também não afundou. O Campos (1943) afundou ao largo da costa e o Sigmund (1919), que nem existe, este era o antigo nome do Therezina.
De acordo com minhas pesquisas, tudo indica que está havendo mais uma identificação errada de naufrágio. Desta vez são os destroços do
"S. Janeco", que é na verdade tratam-se dos destroços do Crest.
Com o intuito de esclarecer mais uma das lendas dos naufrágios da Ilhabela que seria a identificação dos destroços do São Janeco e do Crest, estive conversando com três colegas. O Andreoli (Universo Marinho), Quim (Narwhall Ilhabela) e o Ricardo (Colonial Dive), profundos conhecedores da região. Eu acreditava que as informações do São Janeco e do Crest estavam confusas e eles me disseram que tinham a mesma percepção. Assim, depois de muitas pesquisas, acreditamos que alguns dados precisam ser corrigidos para dar justiça a uma área tão importante e de destaque no Mergulho do Brasil.

Vamos aos fatos.

1 - Inicialmente não há no Google nenhuma outra referência ao termo "S Janeco", "São Janeco" ou "San Janeco" que não seja a respeito do naufrágio da Ilhabela.

2 - A única referencia a "S. Janeco", cuja informação original escrita que não vêm da comunidade de mergulho, é de uma lista do Radio Farol de São Paulo (Jornal A Tribuna, 01.05.1936, Radio Farol da Ponta do Boi - Acidentes Marítimos de São Paulo, pág. 03. ) que diz "1920 - S Janeco, veleiro inglês naufragou fora da Ponta da Sela na mesma noite que o Theresina, cerração". Ainda assim, o naufrágio do Therezina ocorreu em 1919 e não 1920.
Esse texto ipsi literis foi, posteriormente parte de um artigo da Marinha do Brasil (Anais Hidrográficos, tomo XII, vol. 4 - Acidentes Marítimos no Brasil, pág. 91, Marinha do Brasil.).

3 - Não existe, nos arquivos internacionais, referências para nenhum navio como o nome de "S Janeco", "São Janeco" ou "San Janeco".

4- Além disso, essa única referência indica ser o navio um veleiro, mas o ponto do "São Janeco" os destroços no fundo demonstram ser de um navio a vapor e com hélice.

5 - Existe para a ilha de São Sebastião a identificação de destroços com o nome de São Janeco e Crest. Mas alguns dos mais antigos operadores da região, respondendo ao meu questionamento, me disseram que se for pedido "dois mergulhos um no São Janeco e outro no Crest" eles ocorrerão no mesmo lugar.

6 - Na região, também não existe uma outra posição para o naufrágio do vapor (com hélice) inglês Crest, naufragado em 15.12.1882. Mas pelos registros históricos, ele está na mesma posição do suposto "São Janeco" (Ponta de Borrifos).
7 - As características da embarcação identificadas no fundo também são compatíveis com o Crest (vapor com hélice) e não com o São Janeco (veleiro)

 

Jornal A Tribuna, 01.05.1936,
O rádio farol da Ponta do Boi, pág. 03.
Lista do Radio Farol de São Sebastião sobre Desastres marítimos do litoral paulista.
Única citação histórica (não associada ao mergulho) do São Janeco
Assim, chegamos à conclusão de que, até que apareçam outras evidências (princípio da refutabilidade), tudo indica que os destroços na Ponta de Borrifos da ilha de São Sebastião são sim do vapor Crest.
Restando a pregunta: Se é que ele existe, onde está o São Janeco?

     

DADOS BÁSICOS

Nome do navio: Crest

Data do afundamento: 15.12.1882

LOCALIZAÇÃO

Local: Ilhabela

UF: SP.

País: Brasil

Posição: A Sudoeste dos Borrifos

Latitude: 23° 54' 08" sul

Longitude: 045° 27' 06" oeste

Profundidade mínimo: 09 metros

Profundidade máxima: 17 metros

MOTIVO DO AFUNDAMENTO: mau tempo

DADOS TÉCNICOS
Nacionalidade: Inglesa
Ano de Fabricação: 1877
Armador: Dent & Co.
Estaleiro: Thompson & Sons.
Comprimento: 78,2 metros boca: 10,2 metros calado: 7,1 metros
Deslocamento: 1.697 Toneladas Tipo de embarcação: vapor
Propulsão: hélice
Carga: café

CONDIÇÕES ATUAIS: desmantelado

   

   
O Naufrágio
Deixou o porto de Santos no dia 13 de fevereiro de 1882 com destino a Nova York, transportava uma carga de 3.400 sacas de café embarcadas por Holworth & Ellis.
Ao deixar o porto e Santos enfrentou tempo muito ruim com forte cerração o que impediu a visualização da ilha de Saõ Sebastião (Ilhabela) o que provocou, as 10 horas da noite o choque contra o costão na região de Borrifos na Ilha de São Sebastião.
Às 2:00 da manhã saltou a tripulação acompanhada de 2 passageiros que ali tinham embarcado dirigindo-se para a cidade de São Sebastião.
No dia 25 partiy de santos a fragata amnazonas que navegou até o local entre as Pontas da Sela e a Ponta da Pirassununga, resgatando 22 ingleses inclusive o capitão e transportando todos até santos onde chegaram em segurança.
O vapor acabou por afundar paralelo ao costão.

 


 
Descrição
O navio encontra-se bastante desmontado, só existindo segmento dos destroços de meia-nau até a popa. Os destroços extenden-se do fundo de areia a 15 metros, até a cerca de 6 metros, junto ao costão.
No fundo está a popa ainda mantendo sua estrutura inteira tombada para boreste. A hélice apresenta duas pás expostas e a terceira enterrada. Caídos no fundo ao lado do hélice e separados da estrutura do navio estão o leme e o volante do leme.
Da popa podemos seguir pelo longo eixo até as máquinas a vapor a cerca de 6 metros. Todas as flanges de união ainda mostram continuidade.
Dos dois lados do eixo estão cavernames e outras peças auxiliares como: diversos mancais, um guincho e uma câmara de condensação.
 
Posição do Crest
Parte das máquinas
 
Junto ao costão a cerca de 6 metros está o que sobrou das máquinas a vapor e parte do girabrequim. Um grande cilindro corroído, sua tampa e o pistão interno.
De meia nau até a proa todo o navio parece ter sido removido ou ficou totalmente destruída pelo embate do mar, não foram localizadas as suas partes. Muito pouca coisa sobrou do casco de ferro do navio.
 
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O guincho do Crest
 
 
Agradecimentos


Operação: Colonial Diver



Organização: Carlos Bruno e Daniel Degan
 
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