|
A Ilha da Trindade | ||
Ponto
mais extremo ao leste do território brasileiro a Ilha da Trindade
se localiza a cerca de 610 milhas (cerca de 1.200 km) da costa do Espírito
Santo na latitude de Vitória e praticamente no meio do Oceano Atlântico
e é um dos cumes da cadeia montanhosa (Cadeia Vitória Trindade),
que junto com a Ilha de Martim Vaz emerge, em seu ponto mais alto, cerca
de 600 metros acima do oceano. Com uma área de cerca de 10 Km2 é de origem vulcânica e calcula-se que a atividade cessou a cerca de 50.000 anos, a partir do qual a ilha vem sendo erodida Trindade foi descoberta em 1501 pelo navegador João da Nova e batizada no ano seguinte, pelo navegador português Estevão da Gamas. As ilhas pertenceram a Portugal até a independência, quando passaram a posse do Brasil. Em 1890, o Reino Unido ocupou a ilha, mas depois de um acordo entre os dois países em 1896, a Ilha da Trindade passou à posse definitiva do Brasil. Em Trindade existe um Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade (POIT) e uma base para pesquisadores do Brasil no Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade (ProTrindade), ambos apoiados apoiados pela Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (SeCIRM) e pelo Comando do 1º Distrito Naval (Com1DN)." Dois naufrágios estão localizados da face de ancoragem da ilha e a pouco menos de 50 metros um do outro, são eles o Beberibe e o pesqueiro chinês Hwa Shing. |
||
Trindade
- cume de uma montanha submarina que se eleva de 5.500 metros de profundidade
|
Morro
do Paredão, parde da cratera do vulcão que ruiu
|
|
Shipwreck WRECK WRAK EPAVE PECIO | ||
|
||
Histórico do Beberibe | ||
Construído
em New Jersey nos Estados Unidos, esse contratorpedeiro de escolta teve
sua quilha batida em 10 de agosto de 1943 e seu lançamento ao mar
em 15 de setembro, sendo incorporado à Marinha dos Estados Unidos
no dia 6 de outubro de 1943 com o nome de USS HERZOG (DE178). Sua série foi especialmente projetada para combate a submarinos e nela foram empregadas novas técnicas de construção da década de 1940, como soldas elétricas e costuras de costados. Atuou com ótimos resultados na Segunda Guerra Mundial. Suas características técnicas eram de 91 metros de comprimento, 11,1 metros de boca e 3,1 metros de calado, deslocando um total entre 1.270 a 1.617 toneladas. |
Eram
equipados com propulsão diesel elétrica, distribuída
por quatro praças de máquinas, com dois motores diesel principais,
General Motors com potência de 1700 HP cada. Cada motor acionava diretamente
um gerador que alimentavam quatro motores elétricos principais, dois
para cada eixo, ligados em série e que acionavam dois hélices
de três pás. A propulsão permitia uma velocidade máxima
de 20,2 nós. Possuía ainda duas caldeiras auxiliares Cycloterm
MC-90, flama tubular, 3.000 libras/vapor/hora. Dispunha de ecobatímetro, sonar e radar para detecção de alvos no fundo e na superfície. Seu armamento original era composto por oito metralhadoras de 20 mm e um sistema triplo de lança-torpedos de 533 mm. Sua tripulação era composta de 13 oficiais e 110 praças Em 1943, após entendimentos entre o governo brasileiro e o governo dos Estados Unidos foram cedidas à Marinha do Brasil oito desses contratorpedeiros, batizados de Babitonga, Baependi, Bauru, Beberibe, Benevente, Bertioga, Bocaina e Bracuí. O Beberibe foi incorporado no dia 4 de agosto de 1944 e batizado com o nome de um rio que atravessa a cidade de Recife (em tupi-guarani significa "rio sobrevoado pelas aves"), recebendo o indicativo visual Be2, que posteriormente foi alterado para D19. Durante o período de atividade na Marinha do Brasil, o Beberibe fez um total de 220.908 milhas e participou de várias comissões de guerra, como em 1944 no primeiro comboio totalmente brasileiro que cobria a rota Rio - Trinidad - Rio. |
Em
1943 USS HERZOG (DE178)
|
||
Em
de 7 de fevereiro de 1964, o navio foi reclassificado como Aviso Oceânico
(AvOC), juntamente com os demais da classe Babitonga, Baependi, Bauru, Benevente,
Bocaina e Bracuí, recebendo o indicativo visual U19. No dia 8 de fevereiro de 1966 o Beberibe partiu do Rio de Janeiro com destino a Ilha da Trindade em frente ao litoral do Espírito Santo e a mais 800 milhas de navegação do Rio de Janeiro, para transportar pessoal e material de reabastecimento do posto oceanográfico da Ilha da Trindade. |
||
Contratorpedeiro Beberibe D19 - 1944 |
Contratorpedeiro Beberibe D19 - no Arsenal de Marinha (RJ) |
Contratorpedeiro Beberibe D19 - Década de 1950 |
|
|
Naufrágio No dia 11 de fevereiro enquanto efetuava a faina de transbordo de material para terra, já fundeado sob forte condição de mar, o navio teve pane em uma das máquinas e ao manobrar, rompeu uma das amarra e perdeu uma das âncoras. Sem capacidade de manobra foi lançado pelo vento e fortes ondas contra os recifes em frente ao fundeadouro e ao lado da praia da Calheta. Às condições do mar estavam impiedosas, as fortes ondas batiam contra o costado do navio, que foi jogado contra as rochas. Não houve vítimas e a tripulação abandonou o navio em segurança. |
Assim
que tomou conhecimento do acidente, o Estado Maior da Marinha enviou
imediatamente ao local o rebocador Tritão, a corveta
Ipiranga e contratorpedeiro Pará para prestar socorro e realizar
os serviços de salvamento. Posteriormente, seguiu uma equipe
de engenheiros e oficiais especializados em salvamento, chefiada pelo
Comandante Sabóia, a fim de a fim de avaliar as condições
para a operação de salvamento. |
Local
dos destroços do Beberibe
|
|
||
Contratorpedeiro
Beberibe encalhado na costa
|
Contratorpedeiro
Beberibe batido pelas fortes ondas
|
Posição
do Beberibe
|
Rota
do Beberibe da área de fundeio até a posição
do encalhe
|
Âncora
reserva no museu da ilha
|
Tampa
da escotilha do Beberibe
|
|
||
|
|
|
Posição
dos destroços na costa
|
Máquinas
do leme na maré alta
|
Máquinas
do leme na maré baixa
|
|
|
|
As
correntes já fundidas as algas calcáreas
|
Um
dos cilindros de ar de partida das máquinas
|
Parte
de um sarrilho (parte de um dos guinchos de cabos)
|
Descrição Os destroços do Beberibe encontram-se, devido a ação forte do mar sobre a região de seu naufrágio, desmantelado em pequenos fragmento e poucas partes e peças são identificáveis. Os fragmentos se estendem da frente do prédio da SeCom (Secretaria e Comunicações) até a frente da casa do comandante da Ilha. Existem algumas peças do navio em exposição na ilha. Boa parte dos destroços fica exposta durante a maré baixa e o restante se espalha em três porções sobre os recifes entre 2 e 8 metros de profundidade. Na parte da costeira fora da água, podem ser vistos pequenos fragmentos, 2 cabeços de amarração e algumas chapas. Na região entre marés estão o escovém de boreste, 4 cabeços de amarração, chapas do costado, muitos painéis elétricos, motores elétricos, duas sessões de mastro e algumas anteparas do navio. |
||
Na
zona de arrebentação, que foi pouco explorada devido às
condições do mar, encontra-se a popa do navio, ainda com boa
parte das máquinas
do leme. Também pode ser visualizados a parte superior de dois
dos motores elétricos (essas estruturas só estão visíveis
durante a maré baixa). No fundo existe uma formação de bancada em franja de algas calcáreas, a base na areia em torno dos 8 metros e a parte superior girando em torno de 4 metros. Na primeira bancada à esquerda dos destroços e onde deveria estar a proa, existem apenas uma parte do costado, alguns poucos ferros e um segmento das correntes do navio. Entre a primeira e a segunda bancada existe uma faixa de areia em torno dos 6 metros de profundidade, nela estão os restos de uma caldeira auxiliar, partes de um sarilho (Tambor horizontal no qual dão volta os cabos ou mangueiras), alguns fragmentos de casco, 2 cilindros de ar semelhantes aos utilizados para dar partida nas máquinas, um deles já rompido e algumas peças menores, inclusive um mictório. Sobre a segunda bancada de algas, em torno de 4 metros, estão 2 segmentos do eixo. Um deles ainda preso ao mancal e na sua extremidade o apoio do eixo no casco (tipo pé de galinha), na extremidade o que sobrou do hélice, com cabeça cônica e as três pás quebradas. Toda a faixa de arrebentação entre 4 e 2 metros de profundidade não pode ser explorada por motivo de segurança, já que durante todo o período da expedição existiam condições de ondas quebrando no local, provocando grande suspenção de sedimentos e forte fluxo de água. |
||
|
|
|
As
correntes já fundidas a bancada calcárea
|
Cilindro
de ignição
|
Peça
de um dos guinchos
|
|
|
|
Mictório
caído de cabeça para baixo
|
Mictório
na posição certa
|
Restos
de uma das caldeiras de serviço
|
|
|
|
Seção
do eixo
|
Eixo
e mancal
|
Pé
de galinha e o hélice
|
Escovém
de boreste arrancado do casco e do convés mostra a força
das ondas sobre o navio
|
||
Máquinas
do leme na maré baixa
|
Cabeço
de amarração totalmente no seco
|
A
faixa de rochas pigmentada pela ferrugem do navio
|
|
|
|
Motores
elétricos na maré alta
|
Motores
elétricos na maré baixa
|
Detalhe
de um dos motores elétricos
|
|
... |
|
Agradecimentos:
À Marinha do Brasil, ao Almirante Paulo Biasoli, a toda equipe do Projeto ProTrindade e às tripulações Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade e do Navio Graça Aranha (H34) que fizeram todo o possível para a realização da pesquisa sobre o Beberibe |