...NAUFRÁGIO da
CORVETA IPIRANGA
(V 17) |
Um
dos naufrágios mais famosos do Brasil a Corveta V 17 - Ipiranga,
da Marinha do Brasil, descansa a cerca de sessenta metros nas águas
da Ponta da Sapata em Fernando de Noronha. |
Vista lateral da Corveta Ipiranga |
Após
o choque com a cabeça da Sapata, a corveta afunda lentamente.
Ao fundo
o Morro do Pico da posição
em que a corveta acabou por naufragar. A tripulação foi socorrida pelos pescadores da ilha. |
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Após o choque, a Corveta V-17 demorou cerca de 8 horas para afundar. Durante esse período, várias embarcações da ilha aproximaram-se da corveta auxiliando nos trabalhos de descarregamento e retirada de diversas peças importantes e dos tripulantes. O inquérito da marinha concluiu que não haviam culpados pelo acidente. |
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Desenho realizado
a partir das plantas originais cedidas por Ramon Gomez e fotos da corveta
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Descrição
Pousada corretamente no fundo, o navio mantém toda a estrutura original. Na proa, onde normalmente está fixado o cabo de descida, existe uma pequena escotilha aberta. Atrás do guincho da âncora encontra-se o canhão de proa; seguindo-se na direção da popa chega-se ao casario com dois pavimentos. No primeiro pavimento existem duas torres laterais de metralhadoras. Estas foram retiradas antes do afundamento da corveta. Na parte mais alta do casario de proa encontra-se a cabine de comando, com abertura pelas portas laterais a bombordo e a boreste. Dentro dela, encontramos todos os instrumentos de navegação como telégrafo de máquina, timão, cúpula de radar e rádios. Uma das vigias está aberta e tem vista para a proa da corveta. No convés atrás do canhão de pora, uma das portas se rompeu permitindo o acesso ao interior do primeiro convés. |
Convés com guincho e canhão |
A
partir da cabine pode-se penetrar na superestrutura do navio, diversas portas
do casario também estão abertas permitindo diversas rotas
pelo interior chegando mesmo a sala de máquinas. Virada para a popa
está um mastro em V, parcialmente caído e a partir de 2020
partido na sua ponta. A bombordo existem suportes vazios de salvavidase
pendem diversos cabos até o fundo. A popa é aberta com estruturas de amarração e cabos de aço, as duas grandes estivas de porão estão fechadas porém com as tampas deformadas para dentro. a partir de 2022 parte do costado de bombordo da popa já desabou. Os hélices e leme estão livres do fundo, porém o hélice de bombordo perdeu uma de suas três pás. Na parte superior do casario estão a chaminé e parte do mastro duplo e parte das antenas de comunicação. |
O telégrafo de máquinas da sala de comando |
O hélice de boreste intácto e o de bombordo com uma das pás quebrada |
Mastro de comunicação projeta-se para a popa no alto do casario |
A descompressão é obrigatória nos mergulhos da corveta |
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Penetração |
A
condição de profundidade do naufrágio manteve a estrutura
da corveta integra e muito bem conservada, por isso, as condições
para penetração são muito boas. |
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Banheiro |
Mergulhadores sem
treinamento específico em naufrágios não deveriam tentar
a penetração, já que ela obriga o domínio de
conhecimentos como: estrutura e estabilidade de naufrágios, técnicas
de penetração, orientação e natação,
além de uma cuidadosa configuração de equipamento. Antes de planejar uma penetração, consulte a operadora de mergulho responsável pela atividade. Informe-se, se o procedimento é autorizado e se é compatível com o planejamento do mergulho. |
Motor e gerador |
Telégrafo da sala de máquinas |
Cozinha |
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Maurício e Niko da Atlantis, que deu apoio para realização do mergulho na Corveta Ipiranga - Competência e Simpatia | ||
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Retirada
da placa símbolo da corveta Ipiranga
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A
origem do mergulho em naufrágio está intimamente associada
com a remoção dos destroços que tanto prejudicavam
a navegação nos portos depois da primeira e segunda guerras
mundiais. Os governos estimulavam fortemente a remoção desses
despojos para acelerar a desobstrução das rotas marítimas.
Assim, é razoável entender a orientação das
primeiras gerações de mergulhadores, "arrancar o que
se podia". Ao longo dos anos muitas peças de naufrágios se perderam, os mergulhadores retiravam quaisquer partes dos navios como lembranças, normalmente por valorizarem as peças associadas a atividade que tanto amam. Alguns mergulhadores das décadas passadas não percebiam que essas peças não apresentam valor longe do seu contexto, o naufrágio, as quais pertencem. Mas isso não significa que sejam pessoas do mal. |
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O
tempo passou a consciência do valor cultural dos bens subaquáticos
amadureceu, mas a cultura não muda rápido. Apontar o dedo
e criticar os outros tem sido cada vez mais a característica de nosso
tempo. É mais trabalhoso tentar entender o contexto histórico
e a educação das pessoas. É necessário mostrar
a elas um novo momento na cultura subaquática. Minha experiência
me aponta que isso nem é tão difícil, educação
é a chave de tudo. Pela educação do público, tenho voltado meu trabalho para tentar resgatar alguma dessas peças e permitir que a história trágico marítima brasileira possa ser melhor contada. A placa da Ipiranga Em meados de 2017 uma pessoa que não conhecia entrou em contato comigo através do site, querendo se informar sobre a possibilidade da venda de uma peça retirada do naufrágio da Corveta Ipiranga. Eu solicitei que ela me enviasse uma foto para tentar identificar de que peça se tratava. A foto indicava o ótimo estado de uma das placas com o emblema e nome do navio da lateral da chaminé. Questionei a origem da peça e ela me informou que a placa havia sido retirada por uma pessoa já falecida. Imaginei logo que devia ter sido retirada na mesma operação que, entre 1985 e 1986, retirou o sino do navio (matéria indicada abaixo). Essa operação foi registrada no documentário do Discovery Channel que foi exibido na TV brasileira. A pessoa me questionou se a peça apresentava valor comercial e eu expliquei que a venda de objetos retirados de naufrágio é proibido por lei (lei 7542). Ela não fez mais contato durante algum tempo. |
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No segundo contato, meses depois, ela novamente perguntou se havia interesse em adquirir a peça e mais uma vez eu expliquei que não haveria possibilidade de compra de uma peça dessa natureza, principalmente por tratar-se do naufrágio de um navio da Marinha Brasileira e o risco legal. Diante dessa situação ela expressou a intenção de livrar-se da peça, para não ter problemas. Argumentei que, se o objetivo era não possuir mais a peça, a placa poderia ser doada Marinha do Brasil pois a peça era de relevância histórica, então fui questionado se não haveria o risco. Procurei ao longo de vários e-mails convencê-la que eu poderia recolher a peça e devolver diretamente a Marinha, sem sua participação, enviando depois uma foto para comprovar o que havia combinado. Ela pediu um tempo para pensar e consultar outros familiares, mais alguns meses de agonia, mas só podia esperar. Alguns meses depois, novo contato para propor que eu pegasse a peça. Rapidamente entrei em contato como Museu Naval da Marinha na figura das Comandantes Miquilini e Miriam da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha. Expliquei a urgência da situação, já que temia que a placa desaparecesse. As oficiais me posicionaram que eu poderia recuperar a peça para que retornasse a Marinha do Brasil. No início de julho de 2018 recebi a peça de um portador e já na segunda-feira seginte entrei em contato com a Comandante Miriam e combinamos que levaria a peça até o Museu Naval, dessa forma a placa com a insígnia do navio pode retornar a Marinha do Brasil seu original proprietário. |
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Retirada do sino da corveta Ipiranga |
O sino foi retirado por um grupo de mergulhadores brasileiros. As filmagens fazem parte de um programa do Discovery Channel, porém não sabemos o destino do sino, que pode ter sido entregue a Marinha do Brasil. Sabemos também que o Brasão da República que ficava na proa e os emblemas da embarcação, que guarneciam cada um dos lados da chaminé, também foram retirados na mesma época, um deles foi recuperado (veja acima) e devolvido a Marinha. |
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Shipwreck WRECK WRAK EPAVE PECI |