HMS Belfast
The Queen's Walk - Londres, Inglaterra
 

The Queen's Walk - Margem do Tamisa - Londres

Por toda a Inglaterra existe um grande e bem preservado patrimônio de museus de guerra e navios históricos. Na região de Londres e seu entorno, onde existe a disposição um sistema de transporte muito eficiente e acessível, podem ser visitados diversos navios. Em Portsmounth estão o HMS Victory, navio do comandante Nelson, o encouraçado HMS Warrior, a canhoneira M-33 da batalha de Gallipoli e o submarino Alliance. Em Londres estão um vapor de rodas transformado no "Pub on the Tamisa", o Golden Hinde, réplica do navio do capitão Drake e o HMS Belfast. Já em Greenwich está o lendário clipper Cutty Sark.
Juntam-se a eles uma série de museus onde existe um enorme patrimônio para os amantes de navios e naufrágios, com o Museu da Indústria em Londres e o National Maritme Museum em Greenwich.
Cada uma dessas atrações ilustra um período importante da história da navegação e permite ao mergulhador de naufrágio treinar seus olhos na estrutura dos navios antigos para, mais facilmente, reconhecer no fundo as peças dos naufrágios.

O museu HMS Belfast é uma atração imperdível da capital inglesa. O navio está ancorado na margem direita do rio Tamisa, região é conhecida como The Queen's Walk, entre a London Bridge e a Tower Bridge. Ele é um autêntico representante dos navios de guerra do período entre a 2ª Guerra Mundial e a Guerra da Coreia.
A visita permite conhecer os nove decks do navio com total acesso ao convés, torres de canhões, casario, alojamentos, enfermaria, cozinha e a incrível sala de caldeiras e máquinas. Tudo muito organizado e bem conservado.
O HMS Belfast abre de março a outubro, das 10h às 18h, e de novembro a fevereiro, das 10h às 17h. Em julho de 2019 o ingresso para adultos custava £ 16 e podia ser comprado na hora.

 


Vista da Tower Bridge e do HMS Belfast a partir do terraço do Sky Garden, outra atração de Londres
 

 

O Navio

O HMS Belfast (HMS - Her/His Majesty's Ship - Navio de Sua Majestade) é um cruzador da classe Town cujo projeto se iniciou em 1933, com planejamento para a construção de vários navios de 9.000 toneladas. Foi encomendado ao estaleiro da Irlanda Harland e Wolff em setembro de 1936 a um custo esperado de £ 2.141.514 e lançado ao mar em 17 de março de 1938, sendo equipado e testado até agosto de 1939, quando entrou em serviço na Royal Navy, menos de um mês antes do início da Segunda Guerra Mundial.
Após mudanças no projeto inicial, apresentava um comprimento total de 187 metros, com 19,3 metros de boca e 5,3 metros de calado, deslocando mais de 10.500 toneladas.
Era impulsionada por quatro caldeiras a óleo, fornecendo vapor a máquinas de três cilindros e turbinas a vapor Parsons, que acionavam quatro eixos e hélices. Transportava 2.400 toneladas de óleo combustível, que permitiam, a uma velocidade de cruzeiro de 13 nós, um alcance de 8.664 milhas náuticas. Em velocidade máxima podia atingir até 32 nós (59 km /h).

 

Casco com
186,9 metros - 10.500 toneladas e 4 torres (2 proa e 2 popa) de canhões de 6 polegadas
 
DADOS TÉCNICOS
Tipo de embarcação: Cruzador ligeiro classe Town Nacionalidade: inglesa
Lançamento: 17.03.1938 Estaleiro: Harland and Wolff, Belfast, Irlanda do Norte
Comprimento: 186,9 metros Boca: 19.3 metros Calado: 5.56 metros
Deslocamento: 10.553 toneladas Material do casco: aço - blindagem 114 mm
Propulsão: 4 turbinas Parson a vapor - 4 caldeiras a diesel - potência de 80.000 shp
Velocidade máxima: 32 nós (59 km/h)

Armamento (1939): distribuição dos 104 canhões
* 12 X 6 inch (152 mm) MK XXIII - 4 torres (2 na proa e 2 na popa)
* 12 X 4 inch (102 mm) MK XVI -2 torres de cada lado do casario
* 16 X 2 pounder (40 mm) antiaérea
* 08 X 0.5 inch (12 mm) antiaérea
* 06 X 21 inch (533 mm) tubos lança torpedos - atrás do casario
*
1 catapulta (2 aviões supermarine Walrus) - atrás da 1ª chaminé

Tripulação (1939): mais de 880 homens
 
Duas baterias de canhões na proa à frente da ponte de comando.
Atrás do casario estavam os tubos lança torpedos, posteriormente removidos
Duas baterias de canhões na popa. Entre as chaminés ficava a catapulta de lançamento dos aviões.
Mas com a melhora dos radares, foram removidas do navio ainda durante a 2ª guerra
 


O bico de proa do Belfast, mostrando o escovém e as
correntes da âncora. As 10.000 toneladas do Belfast
são divididas por 9 decks e todos podem ser visitados



Na popa em cunha, estavam quatro hélices
impulsionados por três máquinas e turbinas.
As salas de caldeiras e de máquinas estão
abertas a visitação
 


A âncora reserva do tipo Halkins
As enormes âncoras eram puxadas por guinchos
localizados no convés principal e na primeira coberta
As correntes originais ainda fixam o Belfast a duas
grandes estacas presas ao fundo do rio Tamisa
 
Na praça de popa estão o sino de prata presenteado ao navio pela população da cidade de Belfast. O farol de comunicação passava sinais luminosos em código Morse
 

 
O Armamento

Seu armamento no lançamento ao mar era composto por 12 canhões Mk XXIII de 6 polegadas instalados em 4 torres triplas, com uma taxa de disparo de até 8 tiros por arma por minuto. Doze canhões de 10 cm em 6 montagens duplas, posicionados nos bordos do casario.
A defesa antiaérea era formada por 16 canhões de 2 quilos em montagens de 8 canos e 2 metralhadoras Vickers .50. Essas armas eram suficientes para tornar o Belfast capaz de produzir sua própria defesa aérea. O cruzador ainda contava com 6 tubos de torpedo Mk IV de 21 polegadas em duas montagens triplas e dois lançadores de cargas de profundidade Mk VII na popa, removidos posteriormente.
Ao longo de sua história, o navio sofreu diversas reformas e modernizações que alteraram o calibre e tipo das armas.
A blindagem principal era de 114 mm, o que permitia suportar impactos diretos de projéteis de até 203 mm. Era equipado com dois hidroaviões Supermarine Walrus lançados por uma catapulta localizada atrás da chaminé dianteira, a função principal era expandir a patrulha a área em torno de toda rota de navegação.
Proa vista da sala de comando, alguns dos canhões
foram substituídos durante as sucessivas reformas
Interior de uma das baterias de canhões da proa, a frente da peça vermelha
está a culatra do canhão central e ao lado os abastecedores
Duas baterias na proa - 3 canhões de 6 polegadas que
podiam atirar até oito vezes por minuto
 
Baterias de proa e popa podiam manter uma cadência de tiro
suficiente para manter uma barreira de fogo
Ponte de comando
Sala de controle de tiro das baterias de proa.
Mesas de cálculo, controles de direção, altura e disparadores
 
Ao longo dos bordos diversas armas de menor calibre (Vickers .50)
mantinham a proteção da embarcação contra ataques aéreos
O interior do Belfast é um verdadeiro labirinto, com
alojamentos, cozinhas, enfermaria e paiós de suprimentos
Os diversos compartimentos e níveis de decks
eram isolados por portas estanques
 

 
O Serviço

O Belfast iniciou suas operações a partir do porto de Scapa Flow, nas Ilhas Orcades na Escócia, participando inicialmente da operação de bloqueio ao comércio marítimo alemão, interceptando cargueiros que tentavam escapar para o Atlântico.
Com a invasão da Alemanha à Polônia em 3 de setembro e sucessiva declaração de guerra da Grã-Bretanha e da França ao estado nazista, o Belfast recebeu a mensagem "INICIAR IMEDIATAMENTE HOSTILIDADES CONTRA A ALEMANHA", partindo de Scapa Flow logo depois em uma força tarefa com mais 7 navios.
Entre 13 a 14 de outubro 1939 estava ancorado em Scapa Flow, quando o encouraçado Royal Oak foi torpedeado pelo submarino alemão U-47, que havia se infiltrado no porto, em uma das mais famosas e ousadas ações da guerra.
Em novembro 1939, atingiu uma mina magnética que quebrou a quilha e destruiu uma de suas salas de máquinas e caldeiras, provocando a morte de um tripulante. Foi rebocado a Grã Bretanha para reparos. Durante o primeiro semestre de 1940 o casco e quilha foram reconstruídos, seu armamento foi atualizado com dezoito canhões Oerlikon de 20 mm. Recebeu novos radares de controle aéreo e de tiro, o que dispensava as aeronaves de patrulha de complexa operação, as catapultas foram posteriormente removidas. Em novembro de 1942 voltou ao trabalho ativo.
Participou da perigosa tarefa de escoltar comboios pelo Ártico para a União Soviética e participou de alguns combates contra a frota alemã do norte, inclusive o encouraçado Tirpitz, irmão gêmeo do Bismarck e o último captânia sobrevivente da marinha alemã depois da 2ª guerra.
 
 

O Dia D - operação Overlord

Em 1944 o HMS Belfast foi tornou-se o captânia da força de bombardeio para apoiar a operação Overlord - invasão das praias da Normandia na França - planejada para o dia 5 de junho de 1944 e conhecido como Dia D. Sua missão era apoiar o desembarque de forças britânicas e canadenses nos setores de Gold e Juno Beach na região leste da Normandia. Essas praias eram chave para o domínio da cidade de Caen, que permitiria as forças aliadas penetrar com todo aparato bélico pelo território francês.
Em 2 de junho, o Belfast deixou o rio Clyde próximo a Glasgow, para se posicionar em sua área pré-estabelecida de bombardeio.
O mau tempo adiou o início da operação de desembarque por 24 horas. Assim, no dia 6 de junho de 1944, às 5h30, o HMS Belfast abriu fogo contra as bateria de artilharia pesada alemã, com canhões de 120 mm, localizadas a 60 metros da praia em Ver-sur-Mer e que formavam parte da Muralha do Atlântico. O bombardeiro tornou os canhões alemães inoperantes, até o local ser invadido pela infantaria britânica. O navio permaneceu apoiando os combates com cobertura de artilharia até o dia 8 de julho, com o sucesso da operação retornou a Scapa Flow.




O museu Overlord na Normandia possui um grande
acervo do material do desembarque



Setores de desembarque no dia D. O Belfast atacou as posições
alemães de canhões pesados em Ver-sur-Mer


Museu em Juno Beach, setor que ficou a cargo dos britânicos e
canadenses e que recebeu apoio da artilharia do Belfast



Toda a região da Normandia é parte de um museu
que conta a história do desembarque



O Belfast, nas primeiras horas do dia D, disparando
contra as posições alemães na costa da Normandia


Praia de Juno, atacada pelos ingleses com apoio do Belfast

 
Com o final da guerra na Europa o navio passou, por reformas e atualização dos armamentos, principalmente o reforço na defesa antiaérea, para se preparar para atuar contra o Japão no cenário do Pacífico, onde era esperado o ataque de aeronaves japonesas kamikazes. Partiu para oriente em abril de 1945.
Com o fim da guerra contra o Japão em agosto de 1945, o Belfast permaneceu no extremo oriente, realizando vários cruzeiros para portos no Japão, China e Malásia até navegar de volta a Portsmouth em agosto de 1947.
Após a guerra integrou como captânia o 5º Esquadrão de cruzadores da frota do extremo oriente que se encontrava instável pelo avanço dos exércitos comunistas. Em 25 de junho de 1950, enquanto Belfast visitava o Japão, as forças norte-coreanas cruzaram o paralelo 38º, o que marca o início da Guerra da Coreia.
A partir daí, o Belfast passou a fazer parte das forças navais das Nações Unidas. Em março de 1951 disparou uma salva contra as concentrações de tropas inimigas na costa oeste da Península Coreana, apoiando tropas que lutavam em torno de Yongdok. Entre 1951 e 1952 participou de inúmeras patrulhas e bombardeiros sendo atingido por um projétil de 75 mm, o que causou a morte de um marinheiro. Em setembro de 1952, foi substituído por outros dois cruzadores da mesma classe e retornou ao Reino Unido.
Em 1955 foi tomada a decisão de modernizar Belfast. O trabalho incluiu fornecimento de novos canhões MK 5 de 40 mm e os de 4 polegadas, melhoras na proteção do navio contra ataques nucleares, biológicos ou químicos, além de novas acomodações, sistemas de radar e comunicação.
Em dezembro de 1959 o Belfast chegou a Cingapura onde participou de exercícios entre os portos de Hong Kong, Bornéu, Índia, Ceilão (Sri Lanka), Austrália, Filipinas e Japão, partindo de volta à Inglaterra em dezembro de 1961. Finalmente em dezembro de 1963, com estrutura já obsoleta foi passado a reserva.
 
Por todo o navio cenários da vida a bordo ilustram
como era a rotina no Belfast

Se a comida cenográfica não tem uma cara muito boa
imagine o gosto da verdadeira.
A cozinha, que funcionava
continuamente, servia mais de 2400 refeições por dia

O centro médico possuía várias mesas cirúrgicas, além
de muitos leitos de enfermaria
 
Sala de máquinas

O cruzador Belfast, apesar de suas mais de 10.000 toneladas, precisava ser uma embarcação rápida, para permitir uma pronta resposta em comboios, manobras de ataque e patrulhas. Por isso, foram instaladas quatro caldeiras flamotubulares a óleo Admiralty, abastecidas por 2.400 toneladas de óleo combustível transportadas a bordo. O vapor era fornecido a máquinas de três cilindros e turbinas Parsons gerando 80.000 shp. O sistema impulsionava quatro hélices, permitindo a velocidade de cruzeiro de 13 nós com um alcance de mais de 8.600 milhas náuticas. Em picos de velocidade podia atingir 32 nós (59 km /h).
 
Diversos andares da sala de caldeiras e máquinas
com suas passarelas apertadas
O número de canos, ductos, válvulas e mecanismos é enorme
O telégrafo de máquinas passava e recebia as ordens do comando
Manômetros por todos os lados controlavam a pressão do
vapor nas caldeiras, máquinas e turbinas
Vista frontal de uma das 4 caldeiras a óleo do navio
Interior de uma das fornalhas da caldeira, mostrando embaixo
e a esquerda a tubulação por onde o vapor quente circulava
Vista frontal de um das máquinas
Vista de uma das turbinas cuidadosamente aberta para
permitir a visualização do sistema interno
O enorme sistema de transmissão das máquinas para os eixos,
que seguem em direção a popa através do mancal vermelho
 

 
Em 1968 o Museu Imperial da Guerra, o Museu Marítimo Nacional e o Ministério da Defesa estabeleceram um comitê conjunto, para verificar a possibilidade de preservar todo o navio. No entanto, no início de 1971, o governo decidiu contra a preservação e ordenou o desmanche da embarcação.
Um fundo privado (Belfast Trust) foi formado para fazer campanha pela preservação do navio. Após a recuperação do movimento o governo inglês decidiu entregar o Belfast aos curadores em julho de 1971. Ele foi rebocado de Portsmouth para Londres, onde foi montado como museu. Em 15 de outubro de 1971 o Belfast foi rebocado para seu local definitivo na margem do rio Tamisa, acima da Tower Bridge.
 

 

No Brasil

No Brasil não temos cruzadores deste tipo afundados nas águas próximas ao litoral, mas existem navios militares da época como o Vital Oliveira no litoral do Espírito Santo e embarcações mais recentes como o Contra torpedeiro CT Paraíba, no Rio de Janeiro, a Corveta (V-17) Ipiranga em Fernando de Noronha e o Tender Beberibe na Ilha da Trindade.

 


VISITAÇÃO
HMS Belfast Museum - Imperial War Museum
The Queen's Walk - Margem do Tamisa - Londres, Inglaterra


 


 
Consulte nosso guia de estruturas de vapores e conheça mais sobre sua construção e características, caso deseje identificar as peças pelo visual utilize o esquema na página de Navios à vapor.
 


Navios a Vapor