Destino:
naufrágio |
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Revista Mergulho,
Ano XIII - Nº 163 - fevereiro/2010
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Texto
Maurício Carvalho
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Muita divulgação é feita do resgate de grandes tesouros, e tanto na mídia, como de um mergulhador para outro, as histórias de buscas, sucessos e fracassos que envolvem essas empreitadas atraem o público de uma maneira geral. O brilho do ouro ou o mistério que um bom mapa de tesouro pirata provoca, tornam garantido o sucesso para suas histórias. Algumas delas já foram amplamente divulgadas e documentadas (Veja quadro 1). |
No
entanto, pouco do público brasileiro e mesmo os mergulhador conhecem
o fato de que um dos maiores e mais difíceis resgates de naufrágio
do mudo, ocorreu nas frias águas de Arraial
do Cabo. Uma história até difícil de acreditar,
tantas as agruras que o trabalho impôs.
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Enseada dos Ingleses,
em Arraial do Cabo,local do naufrágio da fragata Thetis
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A FRAGATA
THETIS |
O
RESGATE |
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Uma
das argolas deixadas pelos marinheiros ingleses durante os trabalhos de
recuperação da carga da fragata Thetis
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O
SALVAMENTO DO TESOURO Na praia da Ilha de Cabo Frio (Arraial do Cabo) foi montado um acampamento e posteriormente uma pequena vila de sapê, com oficinas de carpintaria para dar suporte aos trabalhos. A atividade dessa vila, batizada como Saint Thomas, provavelmente originou a cidade de Arraial do Cabo. Os marinheiros ingleses executaram todos os tipos de trabalhos, abrindo trilhas até o alto dos penhascos, fixando as argolas e mesmo mergulhando até os destroços nos sinos. Dickinson planejou construir uma plataforma ao nível do mar, onde receberia o material recuperado pelos mergulhadores do sino que se erguia até 12 metros acima do nível da águas. Para subir os salvados até o alto dos penhascos, foram explodidas diversas rochas e construída uma rampa, por onde uma carroça puxada por mulas servia de elevador. Os primeiros mergulhos desobstruíram os destroços abrindo caminho para os maiores valores. |
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Sistema de cabos para erguer os sinos | |||||
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OS
MERGULHADORES |
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Os sinos construídos por Dicknson a partir da caixas d'água de ferro fundido | |||||
FIM
DOS TRABALHOS Em março de 1832, o Comandante Thomas Dickinson foi substituído no comando da operação. Após um ano ele e seus homens estavam doentes e exaustos. Em julho de 1832 os trabalhos de resgate foram oficialmente encerrados. Oficialmente foram recuperados 15/16 décimos de todo o tesouro registrado no manifesto de bordo. Lembrando que, no período, o contrabando de ouro, prata e pedras preciosas era muito comum e em diversos naufrágios pelo mundo já foi recuperado mais do que o dobro do manifesto de bordo. Além dos metais nobres, grandes peças como canhões, âncoras e estruturas de cobre foram salvas. Apesar de tudo, pouco crédito foi dado a Dicknson e ele teve de recorrer a um tribunal para obter o pagamento por sua empreitada, terminando a vida magoado com seus superiores. Parece que o ouro provoca nos homens essas disputas, e isso o tempo não muda. |
Em 1978 outro trabalho
de escavação na área foi realizado, parceria de dois
pesquisadores, um belga e outro brasileiro, mas os reais resultados desse
trabalho não são conhecidos, porém sabe-se que muitas
peças pequenas ainda são encontradas. Em busca desta fantástica história alguns mergulhadores de naufrágio escalaram os costões da enseada, onde localizamos muitas das argolas ainda cravadas na rocha. Sem dúvida nenhuma, uma atividade um pouco diferente do que os mergulhadores estão acostumados, mas típicas dos pesquisadores de naufrágio, ir a onde a história está. A epopeia completa do resgate, destino do tesouro e personagens pode ser encontrada no Site www.naufragiosdobrasil.com.br - especial da fragata Thetis. |
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Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil. |
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