Destino: naufrágio

Garimpando a História
O Vapor Alice


 
Revista Mergulho, Ano XV - Nº 189 - maio/2012
Texto: Maurício Carvalho
 

Entre as novas descobertas do mundo dos naufrágios, estão as informações (*) do pequeno vapor Alice,
uma bela embarcação que repousa no fundo do mar em João Pessoa, na Paraíba

 

Depois de muitos anos e algumas descobertas, tinha me convencido de que a pesquisa de naufrágios se parecia muito com árdua jornada de um garimpeiro. Muito trabalho, toneladas de material imprestável para que de vez em quando surgisse uma brilhante pepita. As histórias de grandes fortunas pareciam estar sempre muito longe da realidade. No entanto, em fevereiro deste ano, o destino mostrou que o inesperado pode acontecer.
Um contato despretensioso abriu a mim uma nova fonte de documentos públicos e o resultado é que dessa vez, por pura sorte, achei um filão principal.
Os documentos continham um volume nunca imaginado por mim de informações de naufrágios novos e outros já conhecidos. Tão grande, que minha expectativa é não terminar a análise antes do final do ano. São dezenas de novas descobertas.
Entre elas estão os pontos de naufrágios ainda não localizados como o Goytacaz; cujos dados eram tão precisos que a equipe da PL Dive de Arraial do Cabo, a quem passei as informações, localizou o naufrágio na primeira saída de mar.

 

 

Além disso, vários naufrágios que não tinham sua história conhecida como o Carolina de Cabo Frio, RJ. e o San Salvador em Jauá, BA. Foram revelados. Finalmente como já era esperado, muitas correções das histórias de alguns naufrágios serão necessárias.
Entre as novas descobertas está o Alice, um belíssimo naufrágio de João Pessoa na Paraíba, que tinha a história de seu naufrágio ainda obscura.

 
Cabeço-de-amarração Arco do leme, hélice e leme Condensador máquinas a vapor Caldeira auxiliar caldeiras principais Guincho de carga Âncora almirantado Turcos Cabeço-de-amarração Guincho de âncora  

O vapor Alice
O pequeno vapor Alice de 840 toneladas deixou o porto de Recife, PE. no dia 25 de junho de 1899 com destino a Mossoró no Rio Grande do Norte onde foi carregado de sal destinado ao Rio de Janeiro. Já a caminho da capital escalou na Paraíba onde recebeu duas mil sacas de algodão.
No final do dia 19 de agosto deixou o porto da Paraíba com destino ao sul. Logo depois de transpor a barra, o vapor começou a fazer água e os esforços, comandados pelo capitão Duarte, não surtiram efeito.
Diante da impossibilidade de esgotar a água do navio, foi dada ordem de guinar o vapor de volta ao porto. Porém, já não havia mais tempo para o Alice. A cerca de 4 milhas ao sul da barra e a 3,5 milhas da praia do Bessa em João Pessoa, o Alice afundava com a proa voltada para terra.

 
Quando não havia mais esperanças, o comandante e a tripulação passaram aos botes e após algumas horas de navegação, atingiram em segurança o porto de Cabedelo, PB. no meio do dia 20.
O casco da embarcação assentou no fundo a 14 metros de profundidade permanecendo com os mastros fora d´água. O tempo passou e selou o destino de mais um dos belos pontos de mergulho do Brasil.
 
Os Destroços
O Alice esta caído ao fundo sobre o costado de estibordo, apenas a proa e popa ainda mantém alguma integridade. Na proa adernada, estão duas âncoras almirantado, um guincho, turcos e cabeços de amarração.
Para trás da proa, na altura do primeiro porão, o navio esta desmantelado, apenas com parte do costado e um grande guincho de guindaste.
A meia nau, encontra-se duas caldeiras cilíndricas, câmaras de condensação e máquinas a vapor do tipo Duble Expansion Engine.
O eixo segue na direção do arco do hélice na popa, onde estão o volante do leme e o hélice de pás atarraxáveis.

Embora seja o navio mais próximo da costa de João Pessoa e por isso, de águas mais escuras, o Alice é um belo mergulho com fauna rica e variada, além de representar muito bem a estrutura de um vapor típico do século XIX.

 
 
Nos próximos meses, à medida que for possível processar as informações, espero poder começar a divulgá-las, aqui e no Site Naufrágio do Brasil como usualmente faço.
Aqueles que não são apaixonados pela história desses naufrágios poderiam pensar que é loucura comparar a descoberta de tão rica fonte de dados históricos com o brilho do ouro, porém a paixão tem razão própria, já a riqueza e sempre temporária e além das cinzas, o que resta é a história daqueles que a acumularam, muitas vezes sem se apaixonar pela vida.
 

(*) o texto da revista da a entender que a descoberta do navio é nova, porém as novidades são as informações sobre o vapor Alice.

 
Guincho de âncora Cabeço-de-amarração Turcos Âncora almirantado Guincho de carga caldeiras principais Caldeira auxiliar máquinas a vapor Condensador Arco do leme, hélice e leme Cabeço-de-amarração

Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil.

Mais Informações: O Naufrágio do Alice

 

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