Destino: naufrágio | ||
Cargas Perigosas | ||
Naufrágios como o Camaquã, que ainda tem explosivos ativos, |
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Revista
Mergulho, Ano XI Nº 136 - Novembro/2007 |
Texto:
Maurício Carvalho |
Em
1944, a guerra já esfriava no Atlântico, com a Marinha Alemã
isolada e encurralada pelos aliados em torno da Europa; os tempos bons para os
U-boats alemães haviam terminado - eles eram sistematicamente afundados.
No dia 21 de julho a Camaquã terminava mais um comboio no limite de sua
restrita autonomia, o que a deixava, com pouco carvão, água e perigosamente
leve. O mar estava agitado e uma sucessão de três ondas acabaram
por virar o navio (cabe lembrar que as corvetas da classe C, eram conhecidas na
Marinha como "Classe Cambalhota", devido a sua já conhecida instabilidade).
Um dos tripulantes, antes de ser jogado ao mar, descreveu ter visto o comandante
da Camaquã; Gastão Montinho ser lançado ao interior da cabine
de comando. Após emborcar, o navio afundou em 20 minutos. O
Mergulho Apoiada
sobre boreste a 57 metros de profundidade a Camaquã
está em ótimas condições. Uma das características
que faz desse navio único no Brasil é o fato de ter afundado durante
uma patrulha em tempos de guerra, o que justifica a existência a bordo de
grande quantidade de munição e explosivos a bordo. | ||
O
Risco de Explosão Por todo o Brasil encontramos naufrágios onde existem munições. Embora o comportamento desejado para o mergulhador seja de manter uma postura contemplativa, muitos adoram essas relíquias e só manipulá-las já os leva de volta ao tempo em que impunham a força pelo peso do chumbo. Balas esféricas de canhão e mosquete podem ser manipuladas com razoável segurança. Porém, quando encontramos balas ogivais (munição ainda presa a um cartucho), ou como no caso da Camaquã, cargas de profundidade a história muda completamente de figura. O risco de ignição desses explosivos é real. Há registros recentes de munição de rifles da Segunda Guerra Mundial, minas e até de um torpedo, mesmo após décadas no fundo, explodirem após manipulação inadequada. |
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Carga de profundidade da Camaquã quebrada, expondo o sistema de disparo e explosivo | O
dados técnicos indicam que as minas da Camaquã utilizavam dinamite
e, como era o final da guerra talvez outro explosivo mais poderoso. Todos os tipos
utilizados permanecem estáveis mesmo após muitos anos submersos
e expostos a águas. Na prática, significa dizer que uma manipulação errada poderá causar graves acidentes com os mergulhadores. Pelo menos uma das cargas de profundidade da Camaquã está totalmente aberta e parte de seu explosivo e do sistema de disparo (Pressostato), estão expostos.As munições não são as únicas cargas perigosas contra as quais os mergulhadores devem se precaver. Em um bom curso de Mergulho em Naufrágio, você terá a oportunidade de conhecer mais detalhes. Certos motores marítimos são ativados com sistemas de ar comprimido e por isso, cilindros de aço podem estar pressurizados no fundo a espera de uma fadiga no material, que certamente vira com a oxidação do metal. |
Esses
cilindros podem ser vistos facilmente no Cavo
Artemidi, BA. e Rosalinda,
Abrolhos. Além disso, naufrágios como o Navio
do Gás (Igel) em Porto de Galinhas, PE., receberam seu nome da perigosa
carga, que hoje ainda vaza lentamente dentro de seu porão e se acumula
no teto do naufrágio. O mergulhador de naufrágio além de cuidadoso com a estabilidade das estruturas, deve ser um observador atento e identificar todos esses artefatos potencialmente perigosos. |
Curso de Mergulho em Naufrágios | |
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Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil. | |
Veja mais em: Naufrágio Camaquã | |