Chata de Noronha, uma viagem inacabada

 
Revista Sub, Nº 18 - agosto/1996
 
Fotos e Croqui da Chata de Noronha
 
Recife é sem dúvida um dos melhores pontos de nosso litoral para os apaixonados por naufrágios, lá podemos encontrar navios muito antigos e outros destroços mais recentes. Depois de desvendar os segredos do Pirapama (Sub Nº 15), voltamos a Recife para encontrar um naufrágio recente, mas nem por isso menos emocionante.
O naufrágio
 
A maioria dos naufrágios de Recife não possui identificação confirmada, sendo conhecidos por seus nomes populares, assim são o Vapor de Baixo, Reboque, Areeiro e a Chata de Noronha. Apesar de muitas horas terem sido gastas entre bibliotecas e o Tribunal Marítimo no Rio de Janeiro, não foi possível confirmar sua identificação, já que nestes locais, o acervo de documentos de Pernambuco é bastante limitado.
O que é contado sobre este navio é que ele fazia o transporte de material de construção entre o porto de Recife e a ilha de Fernando de Noronha. Em 1973 - data sem confirmação -, durante uma tempestade, o grande guindastre que fazia parte da embarcação despencou, fazendo com que o navio submergisse, quando se encontrava a 18 milhas do porto de Recife, no través da praia do Janga.
 
Os destroços
Não resta dúvida trata-se de uma chata de casario de popa. Ela está ligeiramente adernada para bombordo, aparentemente partida a meia nau, com o pouco que resta da proa enterrada na areia. Pelo fato de estar adernado, o casco de estibordo pode ser quase inteiramente visto, enquanto o de bombordo está escondido.
A popa, é a parte mais inteira e visível do navio. Podem ser vistos o hélice, leme e seu volante e o eixo, que penetra no casco junto a quilha. Seguindo-se este eixo, chegamos a parte central do casco, no qual encontra-se o grande motor diesel, geradores e outras peças de grande porte.
Todo o casario que recobria os motores, está caído de cabeça para baixo à bombordo dos destroços. Nele, ainda podem ser vistos os parafusos que o uniam ao convés principal.
No casario de dois andares, encontramos duas escadas, uma traseira vertical e uma lateral diagonal, algumas escotilhas e duas portas que fazem a comunicação dos compartimentos com o exterior; sendo uma delas de fácil penetração.
A meia nau, na frente do casario e compartimento do motor,
encontramos duas grandes bobinas, com cabos de aço e máquinas de um guindaste; o braço não foi encontrado. Deste ponto em direção a proa, não há mais um grande número de peças, pois tratava-se provavelmente do convés da chata. Alguns ferros, mangueiras de incêndio e cabeços de amarração estão espalhados sobre a areia.
Quase isolado dos destroços existem os olhais de âncoras, o reforço de proa, além de um guincho caído de cabeça para baixo, porém não foram encontradas as âncoras propriamente ditas.
 
O mergulho
A Chata de Noronha é, dos naufrágios freqüêntados pelas operadoras do Recife, um dos que está mais afastado da costa, sendo assim, as águas são das mais claras encontradas no litoral pernambucano.
Ao se parar a lancha sobre os destroços as águas são de um azul profundo, com isso, nem se percebe a quase ausência do litoral, que nada mais é do que uma tênue linha no horizonte.
  Caindo na água morna, já é possível visualizar os destroços no fundo
 

apesar dos 30 metros que o afastam da superfície. A medida que a profundidade aumenta, a mancha negra transforma-se em peças identificáveis e uma quantidade impressionante de peixes pode ser visualizada.
São cardumes de Enxadas rodeando os destroços, bijupiras, raias entre outros, além das tartarugas.
Se é que se pode reclamar de alguma coisa neste fantástico naufrágio, é sua profundidade; que limita o tempo de fundo, deixando um gostinho de quero mais. Variando dos 26 até os 34 metros é extremamente recomendável o uso de um computador, já que com tantas estruturas e peixes, a atenção com o procedimento de mergulho é severamente desviada. Para otimizar seu tempo de fundo, ao chegar nos destroços encaminhe-se diretamente para a proa, que é a parte mais funda e daí começe a exploração em direção das partes mais rasas da popa.
A descida ao naufrágio é feita pelo cabo de âncoragem, amarrado aos destroços e o retorno à superfície, pelo cabo, é muito fácil, pela visibilidade da água. Em certos dias a corrente pode ser forte, assim um cabo de descompressão (Join line) é boa providência, principalmente se o mergulho for descompressivo. A água quente dispensa o uso de roupas grossas, lembre-se porém, que tratando-se de naufrágio alguma proteção para a pele é recomendável.


Croquí de Junho de 1996

 
Se você é um apaixonado por naufrágios, além dos diversos destroços faça uma visita ao forte das cinco pontas, no centro de Recife e o de Itamaracá, que contam parte da história das inúmeras batalhas navais que envolveram a região. Nosso agradecimento especial a Expedição Atlântico pela enorme simpatia e apóio sem o qual não seria possível conhecer, em tempo tão curto, os muitos naufrágios da região.
 
FICHA TÉCNICA
Dados do Naufrágio
Dados Técnicos
Data do Afundamento: 1973. Nacionalidade: brasileira.
Localização: a 18 milhas da costa de Recife (PE); (posição GPS: Latitude 07º 56' 58" e Longitude 034º 43'84"). Tipo de Navio: chata com guindaste.
Condições atuais: semi-inteiro. Medidas em metros: aproximadamente 30 metros.
Profundidade: de 26 a 34 metros.

 
COM QUEM MERGULHAR
  • Expedição Atlântico: Saídas em dois barcos, todos os dias, para dois mergulhos por R$ 50,00, incluindo cilindros e lastro. Recargas e loja. Curso Open Water R$ 200,00. Certificação SSI. Responsáveis Peninha. Rua Comendador Bento Aguiar, 520/101 Cep:50750-390 Recife PE. Tel.:(081) 227-0458 Fax: (081) 421-2593 (loja - slaide 2 / Novo barco da Expedição Atlântico - slaide 3) Obs: publicar uma das fotos se possível
  • Projeto Mar: Saídas em dois barcos, todos os dias, para dois mergulhos por R$ 35,00, incluindo cilindro e lastro. Recarga e loja. Cursos. Responsável Joel. Rua Padre Bernardino Pessoa 410 Boa Viagem Recife PE.

 
NA PISTA do ERIE
Pouco depois de fecharmos a revista, com a matéria do Erie, recebemos do National Maritime Museum, mais documentos sobre este navio. O Erie foi construído para servir principalmente ao transporte de passageiros e carga entre Boston e Liverpool, no entanto, devida a forte concorrência das companias inglesas, o navio acabou sendo vendido duas vezes até ser arrematado em 1871 pela U.S. & Brazil Mail Steamship Company. O navio foi construído em cinco câmaras separadas, com proa reforçada e era luxuosamente adornado.
  
 
Maurício Carvalho é biólogo, instructor trainer PDIC, especialista em Naufrágio; ministrando curso do tema em todo o Brasil.
 
OBS: Na matéria original constam outros fotos.

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