U-199
Uma história incompleta

Emblema da 12ª
Flotilha de Bordeaux
Compilação do texto: Maurício Carvalho
 

A Segunda Guerra Mundial mostrou ao Brasil, um país na época basicamente agrário e subdesenvolvido,
que não seria possível manter-se neutro comercializando com as nações beligerantes.
A alta disponibilidade de recursos minerais e agrícolas e a privilegiada posição geográfica para o cruzamento do oceano Atlântico, colocaram nosso país inevitavelmente na rota da guerra. O Brasil alinhou-se com as nações panamericanas e Estados Unidos e em 1943 nossos navios
e outros de bandeira estrangeira já eram afundados a poucas milhas de nosso litoral.
O ataque e naufrágio do U-199 foi apenas uma das últimas jogadas no xadrez da guerra, mas enquanto sua localização
não for encontrada continuaremos a especular sobre os fatos de nossas batalhas marítimas.

 
U-199

Ao longo da Segunda Guerra a Alemanha nazista produziu mais de 1500 submarinos, essas embarcações ficaram conhecidas como U-Boats, termo originado da palavra alemã Unterseeboot (barco debaixo-de-água). Com essa arma a Alemanhapraticamente estrangulou o comércio marítimo da Inglaterra.
Quando o conflito torna-se mundial o esforço de guerra alemão necessitou enviar seus submarinos a pontos mais distantes. É neste cenário que surgem submarinos melhores e maiores.
Em 1942 a Alemanha lançou o U-boat tipo IX D no intuito de bloquear ainda mais o fluxo de matérias primas necessária ao esforço de guerra de seus inimigos. Os submarinos do tipo IX D 2 (very long-range) da 12º flotilha - Bordeaux, começaram a operar em novembro de 1942. Considerados na época, como de última geração eram capazes de executar patrulhas de ataque em regiões afastadas da América do Sul
. Atingindo assim importantes portos como Santos e Rio de Janeiro.

 
  Em suas patrulhas, eram abastecidos em alto mar por unidades submarinas de apoio, chamadas vacas leiteiras, estendendo assim, ainda mais, seu raio e tempo de ação.
Mas com a entrada dos Estados Unidos na Guerra e devido ao forte desenvolvimento da aviação de patrulha, que se instalou no Brasil em bases como Aratu, Salvador e Rio de Janeiro tudo mudaria.
O U-199 foi construído nos estaleiros AG Wesser em Bremen e comissionado em 28 de novembro de 1942. Ele era um submarino modelo IX D2 (very long-range), com dimensões de 87,58 metros de comprimento por 7,5 metros de boca, pesava submerso cerca de 1611 toneladas, podendo atingir mais de 2500 T em seco.
Possuía velocidade de cruzeiro de 20,8 nós na superfície, empurrado por dois motores diesel e 6,9 nós quando submerso, a custa de motores elétricos. Podia transportar 24 torpedos, para 6 tubos de proa e dois de popa e 44 minas. Sua tripulação podia variar de 55 a 63 homens.
 
 
Dados Técnicos do Submarino Tipo IX D
 
Deslocamento
Medidas
Velocidade
Armas
Tripulação
  • 1.610 T. na superfície
  • 1.611 T. submerso
  • 2.150 T. total
  • Compr.: 87,58 m.
  • Boca: 7,50 m.
  • Altura: 10,20 m
  • 20,8 nós na superfície
  • 6.9 nós submerso
  • 24 Torpedos
  • 44 minas
55 - 63
 
Foi lançado em julho de 1942 e começou a operar em novembro do mesmo ano. Considerado na época, como um submarino de última geração. Seu comandante o Capitão-tenente Hans Werner Kraus pretendia fazer no sudeste brasileiro uma devastação semelhante a que o Capitão Schacht do U-507 fizera 11 meses antes na costa sergipana.
 

 
Outros submarinos do eixo afundados no litoral do Brasil
 
 
Distância do Litoral em Milhas
U-199 (RJ.)
30 milhas
U-128 (Al.)
32 milhas
U-591 (PE.)
33 milhas
U-598 (RN.)
60 milhas
U-164 (CE.)
80 milhas
U-507 (PI.)
100 milhas
U-161 (BA.)
120 milhas
U-513 (SC.)
120 milhas
U-662 (AP.)
180 milhas
U-590 (AP.)
200 milhas
Arquimede (FN.)
115 milhas

Os cerca de vinte e cinco submarinos do eixo que atuaram no nosso litoral afundaram confirmadamente 36 navios brasileiros e 56 navios de bandeira estrangeira.

Além deles, diversos navios foram atacados, mas conseguiram chegar navegando a um porto para reparos, Como o Bury, o Florida e o Cardinal Gibson entre outros.
Vários desses navios acabaram registrados erroneamente como naufrágios em nossa costa.

 

 

O U-199 em missão

O U-199 partiu do porto de Berger em Kiel, Alemanha para sua primeira missão na América do Sul no dia 13 de maio de 1943. Sua tripulação consistia de 61 homens e estava sob o comando do Capitão-Tenente Werner Kraus, tendo como guarnição: sete oficiais, dois guardas-marinha, seis suboficiais e 41 marinheiros.
Cruzou o equador no início de junho, mas a forte disciplina de Kraus não permitiu que seus homens celebrassem a travessia do equador, por considerar que a festa distraia os tripulantes na travessia do Atlântico de Freetown a Natal.
Durante a travessia o U-199 foi avistado por um Hudson A-28 americano, porém ele estava desarmado e não houve conflito.
A 200 milhas do litoral do Brasil, Kraus recebeu ordens de interceptar e destruir navios inimigos, somente então houve a comemoração pela travessia do equador. Após a celebração o U-199 mudou o curso para contornar a costa do Brasil.

 

Comandante do Capitão-Tenente
Hans Werner Kraus
 
No dia 18 de junho de 1943 o U-199 chegou a sua área operacional entre o sul do Rio de Janeiro e São Paulo e foi adotada a tática de permanecer submerso durante o dia, em profundidade de periscópio (20 metros), elevando o periscópio a intervalos regulares para reconhecimento.
Durante o patrulhamento desta área o comandante Kraus ficou frustrado com o baixo número de alvos. Poucos cargueiros, espanhóis e argentinos, países neutros no conflito, cruzavam o litoral.
Após alguns dias de patrulha o comandante Kraus recebeu autorização do alto comando alemão para trocar a área de patrulha.
Na noite do dia 26 de junho o U-199 avistou o navio mercante americano Charles Willian Peale, que navegava a escoteiro (sozinho) a 50 milhas do Rio de Janeiro. O U-199 lançou um torpedo de proa, mas este errou o alvo. Não se sabe porque o comandante Kraus desistiu do ataque.
No dia 3 de julho o U-Boat estava na superfície, quando por volta das 21 horas foi localizado por um avião BPM Mariner da Marinha Americana, pilotado pelo tenente Carey. O avião começou a circular, procurando com seus faróis o submarino na superfície.
O comandante Kraus imediatamente ordenou toda velocidade a frente e mandou guarnecer as armas do convés. O Mariner mergulhou para o ataque, porém, para surpresa dos alemães, chocou-se violentamente com a superfície explodindo.
Após sua captura e interrogatório, os tripulantes do U-199 declararam não terem atirado no avião e que embora tenha sido feita uma busca na superfície, não foram encontrados sobreviventes.
 

Segundo fontes da Internet esse seria o Henzada, porém existe uma possibilidade de ser outro navio com o mesmo nome
  Ainda com a presença de poucos alvos, o comandante Kraus decidiu, sem ordens da Alemanha devido ao silêncio de rádio, alterar novamente a área de caça, agora para o sul do Rio de Janeiro, ampliando a linha de patrulha para 300 milhas.
No dia 4 de julho o U-199 navegava na superfície, em sua nova área. Durante a noite, localizou a esteira do navio brasileiro Bury. O comandante Kraus posicionou o U-199 e disparou três torpedos dos tubos dianteiros. Dois torpedos erraram e o Bury, imediatamente respondeu com uma salva de tiros de canhão de seu deck. Os navios cargueiros na segunda metade da guerra também eram guarnecidos com dois canhões - proa e popa. O Bury sofreu avarias e embora o U-199 tenha comunicado ao comando alemão seu afundamento, o vapor chegou ao porto do Rio de Janeiro.
 
 
Após a ação frustrada, o comandante Kraus decidiu mudar novamente a área de patrulha, pois deduziu que o Bury informaria a posição do ataque e aviões de patrulha seriam enviados a sua caça.
No dia 25 de julho, por volta das 9:00 horas o comandante Kraus localizou pelo periscópio o cargueiro inglês Henzada. Esse cargueiro de 4100 toneladas navegava a escoteiro (sozinho) de Santos para o norte e a apenas10 nós, um alvo perfeito.
O U-199 disparou 3 torpedos da proa, porém todos falharam. O comandante reposicionou seu submarino a frente do Henzada e aguardou o momento de um novo ataque. Às 12:00 horas o comandante ordenou o disparo de dois torpedos de proa, um deles atingiu o vapor no meio, partindo o navio em dois e provocando seu afundamento em menos de dez minutos.
Finalmente na madrugada do dia 31 de julho, o U-199 aproximou-se da zona fortemente patrulhada da entrada da Baía de Guanabara no Rio de Janeiro. Seu objetivo era atingir a linha de 100 fathons (192 metros), submergir e espreitar a passagem dos navios na saída do comboio JT 3 (Rio de Janeiro- Trinidad) prevista para aquele dia. A ação da espionagem alemã nos principais portos do Brasil já era conhecida na época e embora alguns de seus agentes tenham sido presos, muitas informações de trânsito de embarcações foram passadas aos submarinos do eixo.

 


 
Os aviões atacantes
 

O PBY-5 Catalina Arará
No dia 28 de agosto 1943 foi realizada no aeroporto Santos Dumont no Rio de Janeiro, a solenidade de batismo do avião anfíbio PBY-5 Catalina, nomeado de Arará e adquirido por subscrição do povo do Rio de Janeiro para a Aeronáutica.
Antes de ser batizado com o nome de Arará o avião já havia afundado um dos corsários do eixo nas proximidades do litoral do Brasil e o perfil do navio estava pintado em sua carlinga.
O Catalina foi batizado com o nome de Arará , em homenagem aos tripulantes do navio de mesmo nome que foi afundado em 17.08.1942 pelo U-507 na costa da Bahia, enquanto tentava resgatar os marinheiros do navio brasileiro Itagiba, torpedeado horas antes no mesmo local pelo mesmo submarino.

 
Sua tripulação durante a operação de ataque ao U-199 consistia:

Piloto, Primeiro-Tenente-Aviador Luís Gomes Ribeiro.
Copilotos, Segundo-Tenente-Aviador José Carlos de Miranda Correia e Aspirante-Aviador Alberto Martins Torres (pilotava o avião na hora do ataque).
Observador, Capitão-Aviador José Mendes Coutinho Marques (antigo aviador naval).
Sargentos Sebastião Domingues, Gilson Albernaz Muniz, Manuel Catafino dos Santos.
Cabo Raimundo Henrique de Freitas. Soldado Enísio Silva.
No dia do ataque ao U-199 (31.07.1943) o plano de vôo original do PBY-5 Catalina da FAB era fazer a cobertura aérea da saída da Baía de Guanabara até o Cabo Frio para o comboio JT-3 (Rio de Janeiro até Trinidad).

 
Os demais aviões: PBM Mariner P-7 e o A-28 Hudson

Varrendo a frente do comboio, do sul para o norte, paralelamente à rota do comboio JT-3, estava o avião brasileiro PBM Mariner P-7 do esquadrão VP-74 de Aratu (Natal, RN), mas com a esquadrilha deslocada para o Rio de Janeiro. Ele iniciava a operação de varredura das proximidades da Baía de Guanabara, comandado pelo capitão-tenente William F. Smith, quando captou um contacto pelo radar, indicando um objeto a 19 milhas de distância.

 

A esquerda o PBY Catalina Arará
e o PBM Mariner P-7.
Acima o Lockheed A-28 Hudson

 

O Lockheed A-28 Hudson,
Tinha como tripulação:
Comandado Piloto Capitão-Aviador Almir dos Santos;
Co-Piloto, Policarpo. Tenente-aviador Sérgio Cândido, Schnoor.
Tripulantes Sargentos João Antônio do Nascimento e Manuel Gomes de Medeiros Filho.

A estratégia de ataque anti submarino dos aviões
A estratégia mais eficiente durante a Segunda Grande Guerra para destruir os submarinos era a utilização de aviões bombardeios. O objetivo dos aviões era em um mergulho rápido, passar sobre o submarino na diagonal (veja foto 1). O lançamento de bombas espaçadas deixava cargas explosivas dos dois lados do casco.
A tática trazia vantagens, pois escondia algumas das armas de defesa antiaérea dos U-boats atrás da torre.
Além disso, as poderosas bombas MK 44, MK 47, quando explodiam dos dois lados do casco, produziam uma forte torção da embarcação (veja foto 2), que facilitava a sua ruptura, além de empenar profundores, eixos, hélices e lemes; o que prejudicava muito a manobrabilidade e capacidade de submersão dos submarinos.

 
 
 

Foto 1

Foto 2

 


Na foto 1: a rota de ataque diagonal do avião, pode ser determinada pelas marcas de bala na superfície do mar.

Na foto 2: as explosões das bombas lançadas pelo avião em ambos os bordos do casco.
 

 
O ataque ao U-199
Iniciava-se o dia 31 de julho de 1943 e uma das últimas ações da guerra submarina em nosso litoral estava prestes a começar.
Partindo do Rio de Janeiro o comboio JT-3 receberia cobertura aérea de dois esquadrões. O esquadrão VP-74 de Aratu, composto por PBMs Mariner, mas deslocado para o Rio de Janeiro, deveria executar a varredura a frente do comboio até o nordeste brasileiro. Apoiando essas operações, o PBY Catalina Arará, do esquadrão do Rio de Janeiro, patrulhava as proximidades da Baía de Guanabara.
O PBY Catalina e o BPM Mariner decolaram da base aérea do Galeão, Rio de janeiro, para cumprir suas respectivas funções na cobertura do comboio
Pouco depois das 7 horas da manhã; o Mariner 74 P-7, que voava a 4.000 pés, captou pelo radar um contacto, a 19 milhas ao sul da Baía de Guanabara, navegando na superfície a 5 nós.
A aeronave seguiu direto para o alvo, a 15 milhas o Mariner pode divisar na superfície agitada uma fina esteira e, finalmente a 5 milhas o U-Boat foi identificado.
O U-199 apresentava uma camuflagem com tons cinza e marrom no casco e, a base da torre de comando e a popa, apresentavam faixas sinuosas brancas semelhantes às ondas no mar.
Rapidamente a tripulação comunicou por rádio ao comando aéreo as coordenadas de 23º 54' S e 042º 54' W (Em frente à Praia de Maricá, RJ.) e iniciou o ataque.
O alarme foi imediatamente atendido pelo Grupo de Bombardeio-médio da FAB no Rio de Janeiro Da base do galeão decolaram dois Mariners, o P-4 primeiro a partir, não foi capaz de localizar o U-199, devido a um erro na localização passada pelo P-7. o Mariner P-2 chegaria no final da ação.
Um Lockheed A-28 Hudson, pilotado pelo Tenente Sérgio Schnoor, com o objetivo de completar o ataque ao U-Boat. Ele iria se juntar ao PBY Catalina (Arará), que já estava no ar em missão de patrulhamento ao norte de Cabo Frio, sob o comando do Capitão Coutinho Marques. As duas aeronaves alcançaram o submarino com 10 minutos de diferença, executando uma ação coordenada.

A cerca de uma milha de distância do ponto, o Mariner embicou em direção ao submarino, já com as portas do compartimento de bombas abertas, objetivando passar na diagonal. Esse ataque permitia maximizar o efeito das bombas e esconder algumas das armas antiaéreas do convés.
A partir daí as armas do convés começaram a disparar.
 
Primeira fase do ataque do BPM Mariner ao U-199

U-199 manobra para evitar o ataque diagomal

 

As antiaéreas começam a disparar
e o Mariner responde ao fogo

Explosão das primeiras bombas junto ao casco
Segundo a tripulação do Mariner no tombadilho havia: um canhão à vante e um à ré, que parecia ser um obuseiro. Ambos foram empregados durante a aproximação do Mariner e as granadas explodiram entre 100 e 400 pés da fuselagem, sacudindo fortemente o avião. Da torre de comando duas metralhadoras calibre 30 mm., abriram fogo acertando 3 tiros no motor esquerdo. Entre a torre de comando e o canhão de ré, outras duas metralhadoras, possivelmente de 20 mm. procuravam criar uma barreira á aproximação do avião.
A configuração de armas do U-199 é pouco usual para o final da guerra, pois os canhões já haviam sido substituídos por montagens quádruplas de metralhadoras, já que os U-Boats não encontravam mais espaço para ataques da superfície. Porém, essa configuração podia ser alterada pelos capitães.
Durante o mergulho, o Mariner fez uma série de manobras para evitar o pesado fogo antiaéreo e também revidou os tiros do U-199, utilizando seus canhões de proa e disparando mais de 1.200 cartuchos.
Na aproximação final, o Mariner desceu à altitude de 75 pés (23 metros), mesmo sob pesado fogo inimigo. O U-Boat alterou seu curso para apresentar seu través.
O Mariner lançou a bombordo seis bombas MK-47, espaçadas por 65 pés (20 metros), que caíram à frente da torre de comando.
Segundo o atirador de cauda, que também disparava suas armas, quatro bombas explodiram próximas ao costado de bombordo. Uma grande nuvem de água encobriu o U-199.
O Mariner fez uma agressiva curva à esquerda, desfechando um segundo ataque pela proa, ao longo do eixo do submarino. As duas bombas restantes foram lançadas de forma certeira a menos de 40 pés (12 metros).
O U-199 começou a emitir forte fumaça negra, deixando uma trilha de óleo na superfície e passou a navegar em círculos, com a popa mergulhada. O primeiro ataque aparentemente conseguiu provocar avarias no casco, lemes e profundores o que dificultou a imersão. Assim, as guarnições continuavam no convés mantendo o bloqueio aéreo.
Sem outras bombas o capitão-tenente Smith, informou pelo rádio que havia atacado um submarino nazista, mas devido ao intenso fogo de seus canhões e das metralhadoras antiaéreas não conseguiu destruí-lo, mas que permaneceria sobrevoando a área, já que o U-Boat, aparentemente muito avariado, não poderia mais mergulhar.
 

U-199 avariado, navegando em círculos
e deixando uma esteira de óleo

Já sem bombas, o Mariner circula sobre
o U-199, incapaz de mergulhar
 
Quinze minutos depois do ataque, o U-Boat tentou navegar em direção ao norte. O comandante Kraus procurava águas mais rasas (135 metros), a fim de pousar o submarino do fundo, se protegendo do ataque de outros aviões, enquanto providenciava os reparos necessários a sua fuga.
Todas as vezes que o Mariner P-7 se aproximava em mergulho, o submarino alterava seu curso como forma de defesa.
Às 8 horas e 40 minutos o convés foi rapidamente esvaziado e o submarino tentou submergir. A tentativa foi inútil, o U-199 submergiu completamente, porém voltou à tona rapidamente. O U-Boat parecia sem controle, com dificuldade de permanecer na tona e com a popa completamente inundada.
 

Na superfície, reiniciou a navegação para o norte e a tripulação retornou ao convés, guarnecendo novamente as armas antiaéreas.
O submarino ainda navegou até 9 horas no rumo norte; o ponto do ataque final. Era a Latitude de 23° 47' sul e Longitude de 42° 57' oeste (37 milhas a sul do litoral de Maricá), pouco menos de oito milhas do ponto do primeiro ataque; nesse trajeto, deixou um grande rastro de óleo.
Com a chegada do A-28 Hudson do Tenente Schnoor, o Mariner americano manobrou para atrair o fogo do U-Boat. Com isso, o Hudson executou seu ataque, cruzando a proa do submarino e de cerca de 300 pés (100 metros), lançou 2 bombas MK-47 que explodiram a 30 metros do alvo.
Menos de 10 minutos depois chegou a área de combate o PBY Catalina, do Capitão Coutinho. O piloto, poucos dias antes, havia concluído o estágio de treinamento na base da Esquadrilha VP-74, em Aratu, era literalmente seu teste de fogo.
Embora a barreira antiaérea continuasse, Coutinho conduziu o Arará para seu primeiro mergulho, atirando contra o submarino e lançando 3 bombas MK-44, que caíram na lateral da aleta de bombordo, fazendo com que o submarino rolasse violentamente para frente e para trás. O Catalina ganhou altura e executou outro mergulho, lançando a terceira bomba que restava. Ela explodiu diretamente sobre a popa do U-199, desfechando o golpe final.
Segundo alguns autores, um terceiro Mariner brasileiro, comandado pelo Tenente Estore Pires, chegou à área da batalha pouco depois, mas sua participação no combate não é clara.

 
 
Às 9 horas e 2 minutos, uma hora e quarenta e cinco minutos após o primeiro ataque do Mariner P-2 o U-199 agonizava, a água já atingia a base das armas de convés, diversos tripulantes foram jogados ao mar pela explosão na popa e agora se debatiam no mar agitado.
O comandante Kraus, vendo que não havia esperança, ordenou o abandono do U-199, vários tripulantes saíram pela escotilha da torre e os que estavam sobre o tombadilho atiraram-se ao mar. O afundamento definitivo não demorou mais de três minutos e segundo os tripulantes do Arará ocorreu a 87 km ao sul do Pão de Açúcar no Rio de Janeiro.
 
Após o naufrágio do U-199

Ambos os aviões lançaram balsas, depois que o submarino desapareceu e permaneceram circulando a área, até serem substituídos por outro avião dos Estados Unidos, que orientou e auxiliou o destreoier USS Barnegat a recolher 12 sobreviventes, inclusive o comandante do U-199, Werner Kraus. O USS Barnegat, também havia recolhido os tripulantes do U-513 afundado ao largo de Santa Catarina em 19 de julho de 1943.
Todos alemães foram levados inicialmente para um campo de concentração em Pernambuco - o único existente no Brasil e logo após foram transferidos para
os Estados Unidos, onde foram interrogados e permaneceram presos em um campo de concentração, provavelmente no Arizona, até o final da guerra.
 


Os doze sobreviventes flutuam em balsas lançadas pelos aviões

 

O destreoier americano USS Barnegat recolheu os doze sobreviventes
 

 
O comandante do Arará, Alberto Martins Torres, foi o único brasileiro reconhecido como responsável por um afundamento de submarino alemão. Pelo feito recebeu nos EUA, a medalha Distinguished Flying. No início de 1944 deixou o 1º Grupo de Patrulha, sendo engajado como voluntário para servir no 1º Grupo de Caça (Senta a Pua), seguindo para o teatro de operações da Itália, onde realizou 99 missões de ataque.  
 

Com o desgaste da guerra e os fortes bombardeios de suas bases os U-boat pararam de atuar no litoral brasileiro em 1944. No dia 30 de abril de 1945 Adolf Hitler se suicidava em seu bunker em Berlim. Assumia as forças armadas alemães o mesmo almirante Dönitz, que estivera a frente da guerra submarina. No dia 07 de maio de 1945 ele mesmo assina a rendição da Alemanha. Por rádio, os submarinos remanescentes foram avisados da suspensão das hostilidades. Alguns dos capitães continuaram a navegar por vários dias até que pudessem confirmar as notícias. Vários deles optaram por afundar seus submarinos ao invés de entregá-los aos vitoriosos, como o U-1277, abandonado em Portugal.
A arma submarina alemã teve proporcionalmente as maiores perdas de seus integrantes durante o conflito.

 

 
Bibliografia recomendada
* Os livros abaixo serviram de fonte para esse artigo.
- A Última Guerra Romântica, 1994 - Ivo Gastaldoni; Editora Incaer, Rio de Janeiro.
- Dias de Guerra no Atlântico Sul, 1967 - Paulo de Q. Duarte; Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro.
- A Marinha Mercante Brasileira na 2ª Grande Guerra, 1952, Comandante João Batista, Rio de Janeiro.
- História Naval Brasileira, vol. 5 Tomo II, 1997, A Marinha Mercante na Guerra e Suas Perdas - SDGM, Marinha do Brasil, Rio de Janeiro.
- German U-Boat Losses During WW II, Axel Niestlé, Naval Institute Press de Annapolís - Maryland.
- Galloping Ghosts of the Brazilian Cost, 2005, Alan C. Carey, Iuniverse, Inc., New York.
- U-boat - Mergulhando na História, 2010, Nestor Magalhães, Redes editora, Porto Alegre.


Para saber mais:
uboat.net