Orientação espacial para o
mergulho em Naufrágios


Rodrigo Nuno Peiró Correia

Professor Mestre em Educação Física pela Universidade de São Paulo – USP
Mergulhador técnico e Instrutor pela
International Association, Nitrox, and Technical Divers (IANTD)
- IANTD.
 
 
Na prática do mergulho em naufrágios, a orientação espacial do mergulhador é de fundamental importância para que este não se desoriente ou se perca de importantes pontos de referência durante a navegação, quer esteja explorando o naufrágio em seu interior ou exterior. É comum encontrarmos um naufrágio posicionado de lado ou virado para baixo, o que dificulta consideravelmente a orientação espacial do mergulhador.
Entende-se por orientação espacial, a capacidade que o indivíduo tem de situar-se e orientar-se em relação aos objetos, as pessoas e o seu próprio corpo em um determinado espaço. É saber localizar o que está à direita ou à esquerda; à frente ou atrás; acima ou abaixo de si, ou ainda, um objeto em relação a outro (ASSUNÇÃO JOSÉ E COELHO, 1995).

Desde o nascimento, o ser humano começa a se relacionar com o espaço em função de estímulos exteroceptivos, que são advindos do meio onde está inserido. O crescimento físico e o desenvolvimento maturacional e a necessidade de se locomover, passa a dimensionar algumas noções de espaço. Como a maturidade cerebral é associada ao desenvolvimento corporal, os movimentos vão se tornando mais coordenados e precisos, determinando uma evolução da noção espacial (NEGRINE, 1986).

A noção espacial se estrutura e se orienta através de atividades de exploração, que se processam a partir da construção do esquema corporal. Fazendo-se um paralelo para a atividade do mergulho em naufrágios, percebe-se a importância dos mergulhadores em vivenciarem diferentes situações de mergulho em espaços físicos distintos. Desta forma, a experiência corporal auxilia na definição das noções espaciais.

 
 
 

As noções espaciais já vivenciadas pelo corpo, tais como: esquerda; direita; acima; abaixo; próximo; distante, logo terão significado, possibilitando a interação com o meio. A partir deste processo, nasce a atividade mental, o raciocínio lógico, auxiliando o mergulhador na resolução de possíveis problemas associados à desorientação subaquática em naufrágios.

Um exercício simples, porém, muito eficaz para o desenvolvimento da orientação espacial, é caminhar pelos cômodos de uma casa ou apartamento, repetindo o trajeto efetuado com ausência de luminosidade. Confeccionar uma planta baixa no papel, destacando os cômodos da casa e tudo que compõe seu interior, facilita no processo de memória fotográfica e consequentemente na orientação espacial.

No mergulho em naufrágios, é de fundamental importância para o processo de orientação subaquática, levar em consideração o estudo dos croquis correspondentes a cada naufrágio a ser explorado, como podemos observar de forma detalhada nos vários exemplos descritos neste site.


Fotos: Corveta Ipiranga - Fernando de Noronha
 

A análise prévia de plantas dos compartimentos internos do naufrágio, no caso de um mergulho com penetração, é primordial para possibilitar uma orientação espacial mais eficaz. Desta forma, problemas de desorientação poderão ser evitados, assim como, acidentes (enrosco, ar insuficiente) que possam levar o mergulhador ao óbito.

É de grande valia destacar que a utilização da carretilha em penetrações, bem como do lado externo do naufrágio, poderá garantir segurança ao mergulhador em caso de desorientação e perda de visibilidade por levantamento de suspensão.
Características como atenção, memória e sequenciamento, influenciam diretamente para que o mergulhador melhore significativamente sua orientação. Abaixo, podemos destacar um exercício que favorece o desenvolvimento das características citadas anteriormente.

Copie o quadro abaixo em uma folha de papel e assinale os números na ordem crescente, do menor para o maior (01 a 48). Durante o processo de sequenciamento numérico, aqueles números que faltarem no quadro deverão ser preenchidos aleatoriamente nos espaços em branco, afim de que no final do exercício todos retângulos estejam assinalados. O exercício deverá ser realizado em menor tempo possível.
*Obs.: Resposta no final do artigo.

 
23
38
32
40
13
16
17
02
11
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43
36
44
24
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22
06
07
09
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01
35
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.
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18
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26
31
30
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46
04
47
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08
33
21
42
15
.
29
20
39
03
12
27

 

Outro exercício eficaz para o desenvolvimento da orientação espacial é a prática da corrida, simulando perda de visibilidade através do uso de venda nos olhos. Com o auxílio de um profissional de Educação Física para o desenvolvimento deste exercício, o primeiro passo é o reconhecimento do espaço. É fundamental conhecer as dimensões (largura e comprimento) do local, percebendo os obstáculos, se houverem, e reconhecendo referências que possam auxiliar na orientação espacial (sons, cheiros, vibrações). Assim é possível criar o mapa mental do ambiente, diminuindo o medo do imprevisto. Para correr, o indivíduo deverá estar acompanhado deste profissional ou de um guia supervisionado por ele, que irá orientá-lo em seu deslocamento durante a corrida. O guia deverá correr ao lado do "aluno" e ligado a este por uma corda entre as mãos, ou entre mão e braço ou ainda, segurando em sua camisa. Nunca poderá puxar, empurrar ou lançar o indivíduo à frente, pois estas ações prejudicam o seu desenvolvimento motor, exceto quando tais ações são caracterizadas por um comando que traga proteção a ele. O guia também poderá correr ao lado da pessoa, dando informações verbais, além de tátil.
Na construção do método pedagógico são utilizadas informações táteis diretas e indiretas (OLIVEIRA FILHO E ALMEIDA, 2001). Como exemplo, o exercício citado a seguir poderá ser desenvolvido baseando-se nestas informações.

Preparar um "corredor" com cabos elásticos paralelos, com aproximadamente 20 metros de comprimento. Quando o indivíduo se locomover através do corredor, sem visibilidade, ele irá perceber que deverá reorientar sua direção ao tocar nos cabos elásticos. Estes cabos deverão estar na altura do quadril do indivíduo, protegendo-o para que este não saia do espaço previsto. No início, esta estratégia deverá estimular uma corrida segura sendo basicamente uma informação tátil direta e, após a assimilação do exercício, o estímulo passa a acontecer essencialmente através de informação tátil indireta. Uma variação para este exercício é a utilização de um cabo transversal amarrado aos cabos paralelos, funcionando como freio. O indivíduo ao esbarrar neste cabo deverá parar, uma vez que o mesmo estará no final do percurso, indicando seu término.
Bons exercícios e excelentes mergulhos !

 

*Resposta do exercício de sequenciamento numérico:
Os números a serem preenchidos nos espaços em branco podem ser distribuídos aleatoriamente e são os seguintes:
(05; 10; 14; 19; 25; 28; 34; 37; 41; 45 e 48)

 

Referências bibliográficas:

ASSUNÇÃO JOSÉ, Elisabete da; COELHO, Maria Teresa. Problemas de Aprendizagem. 6ª edição. São Paulo: Ática, 1995.
NEGRINE, Airton da Silva. Educação Psicomotora: Lateralidade e Orientação Espacial. 1ª edição. Porto alegre: Globo, 1986.
OLIVEIRA FILHO, C.W.; ALMEIDA, G.J.J. A iniciação e o acompanhamento do atleta deficiente visual. IN: Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada. Temas em Educação Física Adaptada [S.L]: Sobama, 2001.

 

 
Rodrigo Nuno Peiró Correia
Contato pelo e-mail: [email protected]
Blog: http://rodrigonpcorreia.blogspot.com



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