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Histórico Em meados do século XIX o império alemão tinha um vasto domínio com colônias na África, Ásia, incluindo forte influência na China e Oceania. A ilha de Chuuck Lagoon na Micronésia era seu protetorado. Para suprir as necessidades de patrulhamento e modernização, a Marinha Imperial Alemã (Kaiserliche) decidiu substituir os navios antigos. No final da década de 1890 investiu na construção de seis canhoneiras da classe Iltis, nome de uma canhoneira que naufragou em um furacão e matou setenta e um homens. Elas deveriam ter motores potentes, capazes de subir o rio Yangtze, na China, além de uma autonomia alta. Foram encomendadas seis canhoneiras. A SMS Eber e a Panther foram as últimas. Os navio tinham convés elevado do castelo de proa e popa reta. Sua superestrutura consistia de uma torre de comando com uma ponte aberta no topo. Estavam armadas com duas bateria de canhões SK L/40 (canhão de carregamento rápido) de 10,5 cm (4,1 pol.), um no castelo de proa e o outro na popa. Elas também carregavam quatro canhões de 88 mm e seis canhões de tiro rápido Maxim de 37 mm (1,5 pol.). Sua blindagem era baixa, o composite se limitava a chapas de aço de 8 mm (0,31 pol.) no casco e na torre de comando. A Eber foi a última a ficar pronta e lançada ao mar em junho de 1903, porém, passou os sete anos seguintes como navio de reserva. Em 1910 ela foi ativada e enviada ao porto de Lüderitz (Naníbia) para atuar nas colônias na África Ocidental. |
![]() Canhoneira Eber da classe Iltis |
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Planta
da canhoneira com seus armamentos
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Foto
canhão SK L/40 de 10,5 cm (4,1 pol.)
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Casco
composite - Grossas pranchas de madeira na estrutura, aço como
reforço e cobre de revestimento na
parte externa,
para proteger da ação dos seres marinhos
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A
Eber entra no jogo Em julho de 1914, com o início das hostilidades que levariam a Primeira Guerra Mundial, a Eber partiu da África e cruzou o Atlântico para encontrar o transatlântico alemão Cap Trafalgar da Hamburgsud. As ordens da Marinha eram de transformar esse navio de 186 metros e mais de 18.700 toneladas em um corsário disfarçado, que atacaria de surpresa os navios aliados que cruzavam a região. No final de agosto de 1914, próximo a Ilha de Trindade, os navios se encontraram e foram transferidos para o paquete alemão dois canhões de 10,5 cm, carvão e a maior parte da tripulação militar treinada. No dia 13 o Cap Trafalgar acabou afundado na região em combate com o navio auxiliar inglês Carmania , um navio de linha que também havia sido armado pelos ingleses. |
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O
Cap Trafalgar da Cia de Navegação Hamburguesa Sulamericana
de Navios à Vapor
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A
Eber e o Cap Trafalgar se enconrando em Trindade
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Desarmada
e com pouco carvão, a Eber e o vapor Santa Lucia, que também
tinha se juntado a operação, arribaram a Baía de Todos
os Santos e no dia 5 de setembro ancoraram em frente ao banco da Panela. O comandante da Eber Alfredo Schaumburg alegou que o navio fora transformado em mercante e o comandante do Santa Lucia, que partira de Salvador no dia 10 de agosto, declarou que não conseguiu entrar no porto de Vitória devido ao bloqueio dos cruzadores ingleses. Uma parte da tripulação, deixou a canhoneira, viajaram para o Rio de Janeiro a bordo do Bejamin Constante e posteriormente retornaram a Alemanha, permanecendo a bordo 18 homens, inclusive o capitão Alfredo Schaumburg. Posteriormente a Eber foi ancorada na enseada de Itapagipe, junto a Península de Ribeira, um ponto de observação ideal, onde permaneceria por quase 3 anos, sendo mantida pela tripulação, inclusive com pintura nova. Até então o Brasil permanecia neutro no conflito, mas a estratégi de bloqueio das rotas comerciais pelos submarinos alemães que começou a ser implementada mudaria tudo em 1917. |
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Posição
do naufrágio da Eber em Salvador
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A
1ª Guerra Mundial no Brasil |
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O
Paraná da Companhia de Comércio e Navegação
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O
Tijuca da Companhia de Comércio e Navegação
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O
Macau do Lloyde Brasileiro
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O
Naufrágio Neste mesmo dia 26, pela manhã, moradores da região observaram a retirada de papéis e objetos de valor do navio pelo ex-secretário do consulado alemão Sr. Fritz e repórteres que vigiavam o navio observaram tripulantes derramando gasolina sobre o convés. Segundo o relato do jornal A Tarde, "às 11:00 horas a tripulação abriram as primeiras válvula da Eber, preparando o navio para ser afundado. As denúncias chegaram a Capitania dos Portos e ao General Comandante da Região Militar. Às 18:00 horas o comandante do destroier Piauhy, apoiado por fuzileiros navais, intimou o comandante da Eber a entregar seu navio. Os tripulantes da Eber acabaram de abrir as demais válvulas de fundo e provocaram um incêndio na popa e na proa para impedir a ocupação. Quarenta minutos depois a Eber adernava para boreste e afundava, ficando fora d´água apenas os mastros e parte do costado, impedindo assim que a Marinha Brasileira tomasse posse da mesma. Em três botes a tripulação tentou fugir em direção a Mont Serrat . As patrulhas brasileiras encontraram um terceiro bote onde estavam os 18 tripulantes. Eles foram presos e, com ajuda de populares, conduziram até Itapagipe. Os primeiros prisioneiros de guerra do Brasil foram recolhidos à fortaleza do Barbalho, sendo depois transferidos, após um ano, para o Rio de Janeiro. Dormia no fundo do mar a história da Eber. |
![]() Destroier Piauhy não conseguiu abordar de surpresa a Eber pois a Ponta da Riveira apresentava pouca profundidade |
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![]() Posição da Eber em frente a Ponta da Ribeira |
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O ataque à Eber continuou em Salvador | |
Durante
os meses seguintes a Marinha tentou reflutuar a canhoneira com o objetivo
de integra-la a frota, mas os trabalhos não surtiram efeito. Segundo o jornal O Jornal, de outubro de 1936, foi aprovado pelo ministro a exploração dos cascos submersos dos vapores Germania, Kent e da canhoneira Eber. Segundo o mergulhador de Salvador José Dortas, "em 1967 começaram as explorações de naufrágios da região. Em 1972 foi retirado o telescópico (provavelmente telêmetro) da Canhoneira Eber, além da exploração de naufrágios como o Cap Frio, Germânia, Bretagne, Black Adder, Irman um navio de Amaralina (possivelmente o Manau), o Curuzu em Guarajuba, Salvador e Paraná em Jauá e até o Itapagé em Alagoas". |
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Em
2017, através do Site Naufrágio do Brasil fui procurado pelo
Sr. Felipe Colonese, que me informou ser bisneto do capitão Alfredo
Schaumburg da Eber. Ele me contou que após ter ordenado o afundamento da canhoneira, seu bisavô e os demais tripulantes foram presos, inicialmente em Salvador, mas depois transferidos para o Rio de Janeiro. Posteriormente receberam certa "liberdade" para circular. O resultado é que o comandante se casou, constituiu família e permaneceu no Brasil. Coloquei ele em contato com meu amigo Gilson Galvão da operadora Bahia Scuba e ele fez a ponte com as equipes de jornais e de TV. No dia 26 de outubro de 2017, o Sr. Roberto Schaumburg, neto do comandante Alfredo e seus filhos Felipe Colonese Schaumbburg e Rafael Correia Schaumbburg (bisnetos), retornaram a Ribeira para conhecer o local do naufrágio da Eber. Felipe, que é mergulhador, pode inclusive "conhecer" o navio de seu bisavô. Que história, só mesmo nessa terra maravilhosa da Bahia. |
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Descrição
Hoje em dia, o navio se encontra a cerca de 50 metros, em frente da praia da Penha na Ribeira, orientada proa popa no eixo NW-SE, sobre boreste entre 2 a 8 metros de profundidade. O navio está muito desmantelado, provavelmente devido a exploração e as explosões para a pesca com dinamite. O que resta está bastante enterrado em um fundo lodoso e muitos fragmentos de rede e outros detritos estão embolados nos destroços. Poucas peças podem ser distinguidas. Uma parte do casco, com grandes toras de madeira, cavername, um cabeço de amarração e partes de um dos mastros. |
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da Canhoneira Eber - László Mocsári
Fotos: László Mocsári |
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Parte do casco e cavername da Eber |
Um
dos cabeços de amarração
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Possivelmente
uma das duas chaminés da canhoneira
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Shipwreck WRECK WRAK EPAVE PECIOM |