...NAUFRÁGIO do ALFAMA DE LISBOA
 
Em minha última viagem, depois de participar da expedição do Voyager pelos naufrágios do Nordeste, permaneci mais alguns dias em Recife mergulhando com o Joel Calado do Projeto Mar.
Durante uma visita a sua escola, tive a oportunidade de conhecer o Carlos Vilar, de quem sempre ouvi falar pela descoberta do Alfama de Lisboa.
Depois de uma boa conversa ele simpaticamente concordou em contar a história de mais essa descoberta.
 
Essa embarcação portuguesa de madeira é conhecida na reião como galeão ou nau, mas provavelmente, pela data tratava-se e uma barca a vela de madeira. O Alfama partiu de Lisboa em 1809 passando pela Inglaterra onde recebeu um carregamento de porcelanas e faianças (Por isso ficou conhecida como navio dos pratos). Foi perdida ao se aproximar do porto de Recife, mas a tripulação foi salva.
Pelo aspecto dos destroços com âncoras presas ao fundo parece ter o navio tentado ancorar. Mas existe pouca coisa no fundo, alguns sinais de fogo, duas grandes âncoras. Os destroços foram explorados ao longo da década de 1980.
O Naufrágio foi encontrado acidentalmente or um grupo de caçadores submarinos em setembro de 1982.
 
 

DADOS BÁSICOS

Nome do navio: Alfama de Lisboa

Data do afundamento: 18.08.1809

LOCALIZAÇÃO

Local: Recife

UF:PE.

País: Brasil

Posição: Em frente a praia de Candeias, a 1 milhas da costa

Latitude: 08º 11.501' sul

Longitude: 034º 52.947' oeste

Profundidade mínima:10 metros

Profundidade máxima: 17 metros
DADOS TÉCNICOS
Tipo de embarcação: Galeão
Material do casco: Madeira Propulsão: Vela
Carga: Porcelanas e faianças

CONDIÇÕES ATUAIS: Desmantelado

 

 
Texto: Carlos Vilar
A história da descoberta
Em 07.09.1982 um pescador profissional nos convidou para mergulhar em um cabeço, em que, recentemente tinha ferrado um grande peixe, que quebrou o nylon, achava ele que seria um Mero. Então eu (Carlos Sarmento) e Fred Ozanã fomos com ele até o cabeço e para nossa surpresa, constatamos tratar-se de um naufrágio. Ao mergulharmos nos deparamos com um grande amontoado de louças empilhadas, tijolos, garrafas etc.
O que mais chamava a atenção neste naufrágio era a grande quantidade de louças (pratos, cuias, xícaras, canecos, pinicos, travessas, jarros, bacias etc.) empilhadas uma dentro da outra. Então informamos ao Pescador Leno que não era um cabeço e sim um naufrágio.
Resolvemos explorar este naufrágio, e para isso, fomos até a Capitania dos Portos PE., onde fomos informados que a área de Ponta de Pedra (limite Norte) até Tamandaré (limite sul) era concedida a SAlVANAVE firma do Sr. Deni Albanese, um francês naturalizado brasileiro que morava no Rio de Janeiro.

Vista da praia de Candeias
Pratos e armas de origem inglesa
Pratos, cuias de faiança portuguesa
Carlos Vilar, um dos
descobridores do Alfama de Lisboa
 
Entramos em contato com o mesmo e ele veio imediatamente para Recife e o levamos para o local de "olhos vendados", pois na época não existia GPS. Ele ficou muito interessado e levou umas amostra de cada louças para análise no museu naval do Rio de Janeiro nos museus do exterior e em poucas semanas já tinha o nome do navio e data de naufrágio.
Trata-se do ALFAMA DE LISBOA que naufragou nas proximidades do Recife-PE em 1809. Nau Portuguesa, que tinha saído de Portugal com carregamento de Louças, com destino à Inglaterra onde pegaria mais louças e seguiria para Pernambuco, onde naufragou.
As louças são de pó de pedra, os pratos e travessa (de borda azul) são ingleses e as cuias canecos, xícaras, bacias e pinicos são portugueses. Havia também grande quantidade de garrafas de vinho, algumas ainda cheias, fechada com rolha, mas, infelizmente o vinho já tinha virado vinagre.
Na época eu era 6º anista de Medicina e só tinha tempo para explorar o navio no final da tarde, e assim nós (eu e Fred Ozanã) o fizemos por cerca de 40 dias até que o pescador de um barco lagosteiro, que pescava de mergulho, sempre nos via no mesmo lugar mergulhando e resolveu saber do que se tratava, e terminou sabendo também que era um naufrágio, daí por diante ficou difícil mergulhar no Alfama devido a grande quantidade de embarcação apoitada em
cima dele, a mergulhar.
É realmente uma grande emoção mergulhar em um naufrágio virgem (nunca mergulhado por ninguém antes).
A primeira peça que achei foi um sino de bronze, que guardo até hoje.
 
 

Pinicos e Lava-mãos de faiança portuguesa recuperados em grande quantidade da carga do Alfama de Lisboa.
As peças ficaramprotegidas dentro de recipientes cheios de argila,
que era a forma usual de seu transporte.

Os pratos de borda azul são
típicos
dos navios ingleses e são
encontrados em vários naufrágios pelo
Brasil, como a Fragata Thetis.