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Histórias de um mergulhador | |
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Revista
Scuba, Nº fevereiro 1999 | |
Local:
naufrágio Wakama, Búzios - Rio de Janeiro. Profundidade: 55 metros Tempo de fundo: 35 minutos | |
Era
uma madrugada fria em Búzios quando partimos para encontrar o Wakama;
o forte vento parecia anunciar uma batalha ainda mais dura, pois nosso alvo estava
a três horas de navegação e a 55 metros de profundidade. Esperávamos encontrar
águas muito turvas e frias, com visibilidade em torno de três metros e temperatura
em torno de 10° C, e nessas condições a narcose passa a ser um problema. Não seria
um mergulho fácil, mas um alvo como o naufrágio Wakama nunca o é; que o diga o
instrutor Carlos Bertran, que levou mais de 60 saídas de mar para conseguir localizar
seus destroços, ponto exclusivo de alguns pescadores locais que guardam suas referências
com muito cuidado. Com as misturas e tempos de descompressão calculados no computador, mais toda a parafernália característica do mergulho técnico, chegamos ao local no início da manhã surpreendidos por um mar calmo, claro e quente. Não havia tempo a perder. Montamos o sistema de cabos de descida e descompressão e começamos a pesada equipagem. Com mar parado, sem ondas nem correntes, perdíamos o cabo de vista através da água quente e clara, o que já compensava a noite sem dormir. A descida foi suave e tranqüila até os 40 metros, onde uma termóclina de água turva nos aguardava. Ainda assim, a visibilidade de mais de seis metros estava acima de nossas expectativas. Finalmente, aos 48 metros, chegamos ao Wakama. O cabo de descida estava fixado no casco, junto ao porão de proa, alguns metros à frente do mastro caído sobre o convés. Nessa posição, podíamos perceber bem a ruptura do casco e do cavername, provável efeito dos trabalhos de resgate de parte da carga, 30 anos atrás. Descendo pelo casco, encontramos o fundo lodoso aos 52 metros. O navio parecia estar posicionado corretamente no fundo e grande quantidade de gorgônias vermelhas colonizam os destroços pelo lado de fora, contrastando, sob: luz das lanternas, com o marrom escuro do metal enferrujado. Começamos a explorar os destroços junto ao fundo do porão; garrafas, pratos e outros utensílios iam aparecendo entre os destroços. Uma grande quantidade de entradas na parte interna do naufrágio permitia projetar um trabalho complexo ao longo dos mais de 100 metros do cargueiro. Infelizmente, o pouco tempo disponível de fundo (planejamento máximo de 25 minutos) não permitia uma exploração completa. E enquanto fazíamos a parada descompressiva, outra equipe de mergulhadores que estava descendo e cruzou conosco, pôde ver em nossos olhos o fantástico mergulho que estava por vir para eles. Semanas de preparação, um custo mínimo de R$ 300 para um mergulho de 25 minutos e mais de uma hora da descompressão: será que vale a pena: Com certeza, essa foi uma das várias perguntas feitas pelos mergulhadores que participaram dessa exploração do Wakama. Nem a certeza do mergulhe existia; então, para que tanto esforço? A resposta é simples: além de resgatar uma "úmida" lembrança dos tempos da 2º Guerra Mundial, que a maioria pensa ter ocorrido muito longe do Brasil, mergulhos como o do naufrágio Wakama abrem uma oportunidade para a exploração ele novos naufrágios em nosso litoral, atenção abandonados pela barreira da narcose. O mergulho em naufrágio é uma especialidade técnica que exige dedicação; no entanto, seu retorno em emoção e satisfação é garantido. Vale a pena aperfeiçoar-se e desfrutar dessa emocionante atividade. |
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Maurício Carvalho é Biólogo, mergulhador há 18 anos, Instrutor Trainner PDIC, especialista em naufrágios e autor do livro Técnicas Avançadas pela PDIC. |