Destino:
naufrágio |
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Revista Mergulho,
Ano XIII - Nº 155 - Junho/2009
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Texto
Maurício Carvalho
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O
desaparecimento do Luxuoso Principessa Mafalda nas águas baianas
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Principessa Mafalda |
O Transatlântico
Principessa Mafalda foi construído em 1908, recebendo o nome da filha
do rei da Itália Umberto I. Possuía uma longa história
na companhia Italiana Navegazione Generale. Em 1927 a longa carreira do paquete já cobrava seu preço e corriam fortes rumores, na imprensa e entre as companhias de seguro de Londres que o navio estava em más condições. Esses boatos fizeram a empresa anunciar que o navio deixaria a rota da América do Sul, passando a navegar apenas pelo Mediterrâneo. No início de outubro, o Principessa Mafalda deixou Gênova para sua 90ª viagem para a América do sul. Mas assim que o navio saiu do Mediterrâneo começaram os problemas: em Barcelona, horas de atraso na partida, e, durante a travessia do Atlântico, diversas paradas de máquinas por muitas horas, sem que nenhuma explicação fosse dada aos passageiros. Além da capacidade de navegação estar comprometida e em parte da viagem o navio navegar adernado para bombordo, as condições a bordo também não eram nada boas. |
Duas posições anunciadas do Principessa Mafalda Posição 1: 16º 58' sul e 037º 51' west Posição 2: 17º 45' sul e 038º 11' west |
Os banheiros
não funcionavam e a refrigeração estava defeituosa.
No dia 25 de outubro, depois de escala em Santos partindo de Buenos Aires, o paquete, em boa marcha, já passara ao largo dos Abrolhos. Após o almoço, muitos passageiros estavam recolhidos a seus camarotes e descansavam com as vigias abertas devido ao forte calor - piorado pelos problemas da refrigeração. No final da tarde, tripulantes e passageiros foram violentamente surpreendidos com um grande estrondo na popa. Algumas testemunhas relataram até três grandes explosões. O navio parou imediatamente e, grande quantidade de água começou a inundar a parte traseira do Principessa Mafalda, atingindo a sala de máquinas. Os alarmes foram acionados e, segundo todos os relatos, a partir daí o pânico tomou conta de bordo - passageiros armados, tiros disparados e pessoas sendo esfaqueadas por tripulantes! |
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Em meio ao pavor, muitos botes salva-vidas
foram baixados, mas desesperadas, diversas pessoas se atiraram ao mar agitado,
afogando-se. Pelo telégrafo, o Paquete fazia pedidos desesperados às estações telegráficas e a outros navios na região: " SOS, Principessa Mafalda afundando, posição 16º 58' sul e 037º 51' west (aproximadamente 75 milhas do litoral entre Cumuruxatiba e Caraiva, BA; " - porém há controvérsias). Diversos vapores navegaram em seu socorro: Voltair, Formosa, Empire Star, Mosella e Piauhy entre outros, passaram imediatamente a resgatar os diversos náufragos e botes salva-vidas, em torno dos quais, muitos cadáveres boiavam. Os primeiros vapores a chegar assistiram aos derradeiros momentos do Mafalda. O navio mergulhava de popa e outras duas explosões, provavelmente das caldeiras que ainda estavam quentes, foram ouvidas pelas centenas de passageiros presos no navio, pois não havia mais barcos de socorro. |
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Uma grande
nuvem de fuligem subiu do paquete e 3 horas depois do acidente, já
na escuridão da noite, o Principessa Mafalda estava no fundo, levando
muitos dos passageiros que se recusaram a pular no mar. O navio transportava 287 tripulantes e 968 passageiros distribuídos em três classes. O pânico, provavelmente foi o responsável por vitimar parte dos 305 passageiro e 32 tripulantes - inclusive o capitão Simone Guli. No entanto, algo de muito estranho ocorreu nos últimos momentos do Principessa Mafalda: só na terceira classe o número de vítimas foi de 228. Alguns sobreviventes denunciaram que os passageiros mais pobres ficaram trancados nos decks inferiores, sem chances de abandonar o navio. |
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Após a tragédia, duas versões tentavam explicar o acidente: na primeira, de um tripulante do vapor, uma das pás do hélice partiu-se e, o giro excêntrico do hélice passou a bater sucessivamente no casco, abrindo um rasgo a bombordo, que adernou o navio. A outra, que consta do relatório do comandante do Voltair, afirma que: o tubo do eixo do hélice direito rompeu, abrindo um orifício no casco. Possivelmente, os dois efeitos podem ter ocorrido em sequência; a quebra do eixo provoca o giro excêntrico do hélice que se choca contra o casco. Muitos mistérios ainda cercam o naufrágio do Principessa Mafalda, inclusive sua real posição. O pesquisador do navio e, hoje, responsável por um belo Site do Principessa Mafalda. Me enviou, anos atrás, a seguinte carta: "No jornal francês La Prensa, de 11 de novembro de 1927, existe um reporte do capitão do navio Saint Anthony, que poucos dias antes descobriu parte da ponte do Principessa Mafalda. Através da água muito clara, ele pode ver a maior parte do navio a cerca de 18 a 20 fathons (40 metros), o que significaria que o naufrágio estaria de lado, em águas com profundidade em torno de 75 metros". Com todo esse mistério e história, esperamos que nossos mergulhadores possam se interessar por descobri-lo, aprofundando a pesquisa e, quem sabe um dia, desvendando sua posição e um pouco do mistério que envolveu suas últimas e trágicas horas de navegação. |
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FONTES
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Jornal
O Paiz, 12.01.1927 - Os Boatos Sobre o Princesa Mafalda, pág 01. |
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Veja mais informações em: |
Curso de Mergulho em Naufrágios | |
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Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil. |
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