O NAUFRÁGIO
No dia 07 de junho, devido aos fortes ventos da região o Prince
of Wales encalhou em um ponto da deserta praia do Albardão na província
do Rio Grande do Sul, a cerca de 80 quilômetros do Arroio do Chuí
- ponto do litoral que marca a divisa com o atual Uruguai.
O tempo piorou, o navio adernou e parte da mastreação começou
a quebrar.
Os tripulantes e passageiros deixaram a embarcação utilizando
cordas esticadas até a praia. Em seguida, alguns deles, seguiram
a pé em direção da cidade de Rio Grande, em busca
de auxílio para o navio e para os tripulantes e passageiros que
continuavam no local.
A partir deste momento do naufrágio os fatos são obscuros
e controversos.
Segundo os britânicos: quando no dia 18 retornaram ao local para
tentar rebocar a embarcação encalhada, encontraram na praia
os corpos de dez tripulantes e constataram que a maior parte da carga
havia sido saqueada, que os náufragos teriam sido assassinados
e despojados de seus pertences. Os corpos de oito homens, uma mulher e
uma menina foram localizados longe dos destroços e alguns estavam
enterrados.
Diante da gravidade da situação, comunicaram os fatos ao
embaixador britânico no Rio de Janeiro, William Dougal Christie.
Este apresentou um protesto ao imperador Pedro II.
Segundo as autoridades brasileiras, que apuraram os fatos: no dia 12,
o juiz de paz de Rio Grande informou de que vários cadáveres
estavam dando a praia defronte a sua casa no Albardão. O guarda
mor da cidade reuniu alguns soldados e seguiram para o local. Ao chegarem
no dia 16, o navio já estava destruído na praia, por onde
se espalhavam barris e caixotes vazios. Havia apenas um amontoado de destroços,
com restos dos camarotes de popa e na proa partes do costado, onde ainda
estavam fixadas as letras PRIN de parte do nome do navio.
As autoridades atestaram que no intervalo entre o naufrágio e a
chegada dos soldados, desconhecidos em terra, ao se depararem com um naufrágio,
cnsideraram a carga como perdida e resolveram apoderar-se dela. Em Porto
Alegre, os exames comprovaram que as vítimas teriam morrido afogadas.
Segundo informações locais, até hoje, na praia do
Albardão, restos do costado do navio podem ser vistos enterrados
em parte em dias de maré baixa.
A QUESTÃO CHRISTIE
As relações entre o Império do Breasil e a Inglaterra,
já não caminhava muito bem.
O embaixador britânico William Christie exigia um pedido de desculpas
formais e indenização pelo saque do navio e o Império
do Brasil se recusava a pagar. Para complicar ainda mais, em 1862 marinheiros
bêbados da fragata H.M.S. Emerald, envolveram-se em uma briga com
marinheiros brasileiros, ocorrendo uma morte. A polícia do Rio
de Janeiro acabou por prender todos até o dia seguinte e as autoridades
queriam que os britânicos fossem entregues para julgamento.
Diante dos novos problemas, Sir William Christie exigiu do imperador o
pagamento da indenização referente ao Prince of Wales e
à prisão dos policiais e marinheiros brasileiros, ameaçando
fechar a Baía de Guanabara com navios da marinha britânica.
A resposta foi de que o império estaria pronto para a guerra. Imagine!!
Em 1863 uma esquadra inglesa, comandada pelo almirante Warre bloqueou
o porto do Rio de Janeiro e aprisionou navios mercantes brasileiros exigindo
uma indenização de 3,2 mil libras esterlinas. Agora, quem
exigia um pedido formal de desculpas e indenização era o
Brasil. Com a negação britânica, o imperador decide
romper as relações diplomáticas com a Inglaterra.
Este episódio, conhecido como Questão Christie, é
considerado um dos momentos de crise mais marcantes da diplomacia brasileira.
A questão diplomática foi arbitrada pelo Rei Leopoldo I
da Bélgica e embora tenha havido um parecer favorável ao
Brasil, o Imperador mandou pagar as indenizações. As relações
diplomáticas ainda continuaram rompidas por dois anos, até
o início da Guerra do Paraguai.
É certo que durante o período de 2º Reinado, os ingleses
não aceitavam que seus cidadãos fossem julgados por cortes
que não as inglesas, mesmo que o crime fosse cometido no estrangeiro.
Também é importante ressaltar, que no ano de 1887, naufragou
na mesma região o Rio Apa, um dos maiores naufrágios de
nossa costa. Segundo o narrado na época: diversos cadáveres
nas praias apresentavam sinais de terem sido despojados de seus objetos
de valor, inclusive com mutilação de dedos e mãos,
além de ter ocorrido também saque das cargas.
A verdade está perdida no tempo e em algum ponto deserto do Albardão.
Com um litoral tão extenso muito da história de nosso país
passa pelos naufrágios e suas consequências. Conhecer esses
fatos faz com que destroços em uma praia deserta ganhem vida diante
dos olhos e enriquecem a cultura da nação.
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