SNORKELING - 0 primeiro passo para o mergulho

 
Revista Sub Nº 5 dezembro/janeiro 1994
Texto e Ilustrações: Maurício Carvalho
 
 
 
Quem mergulha sabe o quanto é fácil e divertida a prática desta fascinante atividade. Só quem mergulha consegue convencer outras pessoas a entrarem no mundo subaquático.
Mas, às vezes, a quantidade de equipamentos e sua aparente sofisticação chega a assustar pessoas leigas, embora interessadas.
Por isso, nada melhor que convencer amigos e parentes ase iniciarem no mergulho através da prática do snorkeling. Mas que palavra estranha. Qual será o seu significado?
Snorkel é a denominação de uma peça do equipamento do mergulhador. Trata-se daquele famoso tubo que permite a respiração na superfície, sem precisar tirar a cabeça da água.
Nadar na superfície com o auxilio de nadadeiras e observar o fundo através de uma máscara e snorkel para respirar, podendo ficar grudado naquilo que acontece lá embaixo, é que chamamos praticar snorkeling.
Quer coisa mais fácil que isto. Até pessoas que sempre tiveram medo e dificuldade em nadar, vão descobrir uma nova e fantástica maneira de ficar dentro d'água.
Mas atenção: snorkeling não é mergulho em apnéia, embora seja possível para quem o prática experimentar pequenas e rápidas descidas ao fundo, sempre a pouca profundidade. Isto porque a própria prática exige uma boa observação do fundo durante a natação. A baixa profundidade deixa a vida submarina e suas cores mais próximas dos nossos olhos, não exigindo visibilidade especial, embora quando a água é transparente, o espetáculo é sempre melhor.
Praticar snorkeling é um excelente exercício físico de baixo esforço, treina a respiração subaquática, sendo um ótimo preparo para a prática do mergulho autônomo e livre, uma vez que faz com que o praticante se acostume ao uso de equipamentos básicos como máscara e nadadeiras.
Infelizmente, pouquíssimas escolas e operadoras de mergulho perceberam a importância desta fundamental disciplina do mergulho. A tendência é encontrar cursos de mergulho livre que estão além da prática do snorkeling. Uma única aula seria suficiente (tanto em piscina como no mar) para que qualquer pessoa tenha condição de ini-ciar esta prática.
Mesmo assim, você que mergulha, fale com seus amigos sobre a facilidade em dar uma espiadinha neste fantástico mundo submarino. Não é à toa que nos Estados Unidos, onde para os 3 milhões de mergulhadores em atividade, existem 70 milhões de pessoas que praticam snorkeling.
Tudo deve começar pela compra do equipamento. E é melhor começar com o pé direito. Indique uma boa loja especializada; quem mergulha sabe das inúmeras vantagens que um Dive Center oferece: grande variedade de marcas e modelos e, portanto, preço, assim como uma boa assessoria na hora da escolha. Um Dive Center considera seus clientes praticamente vitalícios. Portanto, sempre os atenderá bem para que estes voltem mais e mais vezes.
Na hora de comprar não podemos esquecer que o preço não é o único que deve ser considerado. Qualidade -- que se traduz em matérias-primas, projeto, fabricação e acabamento --, deve ser diretamente pro-porcional ao desembolso.
Mas não pense que podemos parar por aqui. A qualidade que você vai querer pagar deverá ser proporcional à utilização que você vai querer fazer do equipamento.
No caso da máscara é importante experimentar vários modelos até encontrar o que melhor se adapta ao rosto. Quanto ao snorkel, o ideal é que seja da mesma marca da máscara, para que a vedação seja perfeita. Isto porque, geralmente, são oriundos de uma mesma concepção de projeto.
No caso das nadadeiras, a prática do snorkeling exige apenas um modelo do tipo standard, que são menos sofisticados e mais econômicos. Os cuidados neste caso devem ser em relação ao conforto dos pés.
O conjuro máscara, nadadeiras e snorkel, custa menos do que um bom par de tênis, mas abre a porta para um novo modo de vida.
O primeiro contato direto com o mergulho sempre acontece através de uma máscara, snorkel e nadadeiras. É do sucesso deste encontro que pode depender seu futuro como mergulhador. Por isso, as técnicas referentes ao uso de tais equipamentos e seu rápido domínio permitira uma harmoniosa integração com o mundo subáquatico.
 
MÁSCARA
Por ser a peça mais importante do mergulho, já que sem ela não hã como vislumbrar nitidamente o mundo subaquático, alguns mergulhadores carregam sempre uma máscara de reserva, prevenindo-se de uma quebra acidental.
Preparação:
O uso deste equipamento começa com um bom ajuste no rosto; a mascara deve estar firme, mas nunca apertada a ponto de deformar o contorno natural da face. Se a água penetra, mesmo com a máscara apertada, é sinal de que o modelo não se ajusta ao rosto ou ela está defeituosa.
A parte mais importante da preparação da máscara visa a evitar que ela se embace. Muitos mergulhadores negligenciam esta operação e o resultado é uma visão turva durante todo o mergulho. A preparação deve começar logo depois da compra; o vidro novo costuma estar coberto por substância oleosa, que deve ser retirada através de uma lavagem com muito sabão.
Pouco antes do mergulho, com a máscara ainda seca, esfregue rigorosamente, sobre toda a superfície do vidro, saliva ou substância "anti-fog", que é vendida nas lojas de mergulho. Ao esfregar a saliva rio vidro deve ser produzido um pequeno som, assim você garantirá a eficiência do método. Perca um minuto a bordo e ganhe uma visão subaquática perfeita.
Uso
A colocação da máscara e simples. Molhe a face para facilitar o ajuste, retire o cabelo da região de contato evitando vazamentos; com uma das mãos, apoie a máscara no rosto, na posição mais confortável, e com a outra puxe a tira para trás da cabeça ( FiG. 1 ). A tira da máscara pode ser colocada por cima ou por baixo do capuz; no entanto, por baixo é menos provável a soltura da máscara - com a conseqüente perda ou alagamento -, pois o próprio capuz ajuda a mantê-la no lugar.
A entrada na água, seja qual for a técnica empregada, deve ser cercada de cuidados, evitando-se o choque direto da máscara com a superfície, o que poderia provocar seu deslocamento. Assim sendo, durante a entrada, segure-a firmemente contra o rosto. (FIG. 2).

Por ser um espaço aéreo, a máscara sofre, durante o mergulho. todos os efeitos da variação de pressão, podendo causar durante a descida - caso não sejam equalizadas as pressões interna e externa - um baurotrauma facial. que vem a ser uma lesão da pele devido à sucção do sangue nos vasos ala superfície do rosto. Para evitar esse fenômeno, à medida que a profundidade aumentar, injete um pouco de ar pelo nariz, igualando a pressão que a água faz sobre o vidro (FIG .3). Com o tempo essa manobra passa a ser automática e o mergulhador não mais se preocupa com ela.
Com o aumento da pressão, existe também a necessidade de compensar o ouvido médio. Para isso, a manobra mais utilizada é a de valsalva, que consiste em pinçar o nariz com os dedos, enquanto o ar é forçado para os ouvidos por um sopro. Entretanto, pinçar o nariz no interior de alguns modelos de máscara com o uso de luvas grossas, pode não ser um procedimento simples. Dois modos podem ser testados (Fig. 4), devendo ser escolhido o que melhor se adapta ao modelo de sua máscara.


A última técnica visa eliminar a água que porventura penetre na máscara. Essa manobra de desalagamento é muito simples. Basta direcionar a cabeça para cima -- aproximadamente 45º --, firmar a parte superior da máscara com dois dedos, enquanto o polegar afasta a parte inferior do rosto. Feito isso, libere suavemente o ar pelo nariz. Esse procedimento será suficiente para que a água seja explulsa da máscara, quando então ela é novamente fixada ao rosto. Existem máscaras com válvula de exaustão, porem seu uso vem desaparecendo.
 
SNORKEL
Este equipamento, que tem como função permitir a respiração mesmo quando a cabeça está voltada para: baixo da superfície, ê tão simples que pouca coisa pode ser dita sobre seu uso.
Preparação
Antes mesmo da hora do, ajuste o snorkel na máscara, encontrando a posição mais confortável. Ele deve ser preso à tira da máscara por uma presilha e não passado sob ela, prevenindo sua perda caso seja necessária a retirada da máscara.
O lado do rosto é uma escolha pessoal. Alguns alegam que no lado esquerdo o snorkeI não incomoda quando for necessário o uso do regulador; já os defensores do lado direito, garantem que nessa posição ele pode ser manipulado pela mesma mão que o regulador, facilitando a troca na superfície.
Uso
A boquilha anatômica do snorkel deve ser presa no interior da boca por uma suave pressão dos dentes, enquanto a vedação é garantida pela pressão dos lábios. Deste modo; não ocorre ruptura dos apoios dentários e em mergulhos longos, não há fadiga dos músculos da mandíbula.
A respiração no snorkel deve ser suave e profunda. Como obviamente ele se enche de água durante a submersão, no retorno à superfície a água deve ser expulsa com um forte sopro, antes de reiniciar a respiração. Essa manobra é facilitada inclinando-se a cabeça para trás (Fig. 5) ou com o uso de um snorkel com válvula de exaustão.
Durante a imersão com equipamento autônomo não se utiliza snorkel, porém, sua presença não devei ser negligenciada. Em grutas e naufrágios, ele pode roçar no teto sobre o mergulhador deslocando a máscara e acarretando seu alagamento. Nesta especialidade é prudente retirá-lo, prendendo-o na correia da faca ou ao colete.
 
NADADEIRAS
Destinadas a aumentar a propulsão, as nadadeiras são peças fundamentais no mergulho.
Preparação
Como nos itens anteriores, o primeiro cuidado deve ser no ajuste. Nadadeiras frouxas causam perda de rendimento na natação, além de. possibilitar ferimentos devido ao atrito da borracha com o pé sem proteção de botas de neoprene. Quando estão demasiadamente apertadas, freqüentemente causam cãibras, devido à restrição da circulação sangüínea. É aconselhável a utilização de nadadeiras reguláveis, uma vez que permitem ajuste preciso.
Uso

A enfiada na água deve ser feita com as nadadeiras, prevenindo problemas na flutuabilidade. Apenas em praias e costões calmos e de baixa profundidade, devido à dificuldade de se caminhar de costas com elas tom-bos com todo equipamento são perigosos , recomenda-se sua colocação com a água na altura da cintura. Assim mesmo, existe o risco de uma onda inesperada roubar-lhe as nadadeiras das mãos.
A grande área das nadadeiras permite que elas sejam usadas para diminuir o impacto do corpo contra a superfície na passagem de locais altos para a água. Por isso, dê preferência a entradas que primeiro atinjam a água com os pés, como no passo de gigante (Fig. 6).
Sem duvida, a mais importante técnica sobre o uso de nadadeiras, diz respeito à natação. Elas devem impulsionar o mergulhador através de movimentos firmes das pernas -- sem a flexão dos joelhos. Isto porque os músculos das coxas, nádegas (glúteos) e bacia (psoas-ilíacos), responsáveis pela flexão da perna sobre o quadril, estão entre os mais desenvolvidos do corpo. Evite o movimento de pedalar como numa bicicleta.
Procure alinhar pés e pernas, evitando movimentos laterais dos tornozelos que, em mergulhos mais longos, ocasionariam dores nesta região.
A natação sempre deve ser lenta e coordenada, evitando-se fadiga e cãibras por esforço físico demasiado. Na superfície ou submerso, nadando contra a corrente, altere os estilos de natação (Fig. 7). Esta variado permite utilizar grupos musculares diferentes, diminuindo o cansaço e a possibilidade do aparecimento de cãibras.
A favor de uma forte corrente, quando não é preciso nadar, use as nadadeiras como leme, direcionando sua trajetória.
Com poucas técnicas, a máscara, as nadadeiras e o snorkel tornam-se tão naturais e eficientes, a ponto de alguns mergulhadores terem dificuldades de se locomover na água desequipados.

 

 
Ilustrações: Extraídas do livro Manual de Mergulho: Técnicas Avançadas

OBS: Na matéria original constam outros fotos.

 
Maurício Carvalho é biólogo e instrutor de mergulho, com especialidade em Rescue e Naufrágios, tendo sido supervisor de mergulho do GREC-DF. Autor do livro Manual de técnicas Avançadas. Instrutor PDIC.
 

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