Eliane Stathatos - injustiçado pela fama

Revista Scuba, ano VI, Nº 50

Texto : Maurício Carvalho
 
Pensar na Corveta Ipiranga quando se programa mergulhar em naufrágio em Fernando de Noronha é quase instantâneo, também pudera; seu estado de conservação, posicionamento no fundo e a áurea de aventura do mergulho profundo, tornaram a V-17 um dos mais famosos mergulhos do Brasil.
Por tudo isso, o cargueiro grego Eleani Stathatos, afundado nas rasas e calmas águas do Porto de Santo Antônio, ficou relegado à segundo plano. Quanta injustiça!
Um dos três naufrágios de nome Stathatos que ocorreram em Noronha (ver boxe) o Eleani é sem dúvida nenhuma, um dos melhores mergulhos em naufrágios do Brasil.
A facilidade de acesso, que pode ser feito a nado, a partir do porto, as águas tranqüilas e abrigadas e a claridade e biodiversidade do mar de Noronha já seriam uma razão para o mergulho, no entanto, o que mais impressiona é o conjunto dos destroços, que apesar de desmantelado, apresenta todas as mais importantes estruturas em seqüência da proa ao leme, sem faltar nenhuma peça. Sem dúvida uma raridade em se tratando de naufrágios.
  

Histórico

Amorim Netto, em viagem a Ilha em 1930, ouviu relatos de moradores; que em outubro de 1929, o comandante do Eleani Stathatos jogou propositalmente seu navi sobre as rochas no sul da ilha de Fernando de Noronha. Após o choque, com dois enormes rombos na proa, navegou lentamente para o lado norte da ilha encalhando na Baía de Santo Antônio.
O navio estava carregado com material ferroviário para uma estrada de ferro na Argentina, além de outros valiosos produtos, todos garantidos com excelente seguro.
O navio permaneceu encalhado e em alguns meses foi abandonado pela tripulação apesar de os porões de popa permaneceram lacrados e conterem um carregamento de máquinas de escrever. Parte das 800 toneladas de carvão foram roubadas nos meses subseqüentes.
Houveram oferecimentos em jornais da época e negociações para a compra do casco do navio pelo governo de Pernambuco. Pretendia-se, depois de retirar a carga útil, utilizar o casco como uma forma. Ele seria recheado com concreto, tornando-se um pequeno píer, que segundo os estudos permitiria a atracação de pequenas alvarengas.
O autor do texto, Amorim Netto, esteve na Ilha para avaliar as condições do casco a fim de formalizar-se a proposta de compra. Finalmente, o cargueiro foi arrematado pelo governo Pernambucano pela quantia de 50 Contos de Réis, porém o projeto do píer não foi levado a cabo.
O casco permaneceu encalhado, acabando por submergir em meados de 1946.

 

Mergulho

Os destroços estão dispostos perpendicularmente a costa do fundo da Baía de Santo Antônio e paralelo ao píer. A primeira parte dos destroços está logo abaixo da bóia de perigo isolado na saída do porto, com uma profundidade máxima é de 8 metros. A proa do navio está partida e caída sobre o bordo de boreste. O casco está destruído e deixa a mostra os escovens. Existem duas pequenas estivas abertas no convés e ao lado, estão caídos o guincho, cabeços de amarração e outras ferragens.
Atrás da popa, podem ser localizados seis eixos e rodas de trem, que faziam parte da carga. O casco está parcialmente aberto e caído para fora da embarcação, no centro o porão de proa. A bombordo, já fora do conjunto principal dos destroços, está o mastro de proa.
Atrás das máquinas, o fundo do navio é plano e nele está apoiada, ao longo de 12 metros, a casa do eixo, dentro do qual pode ser visto o eixo caído dos mancais. Ao término da casa do eixo os mancais estão alinhados até popa, porém o eixo está caído a seu lado.

Fora dos destroços a estibordo, está o hélice e a bombordo boa parte do mastro de popa.
Na popa, pode ser localizado o leme e seu volante ainda unidos.
A bombordo do leme, podemos encontrar outros destroços que pertencem ao segundo navio naufragado na Baía de Santo Antônio.
O ideal é iniciar o mergulho pela proa, seguindo-se para a popa, a orientação é muito fácil pois, os destroços estão cercados de areia e praticamente a mesma profundidade. Recomenda-se cuidado apenas junto à proa, devido à circulação de embarcações que entram e saem do porto.

 
 
Existem registros históricos para o naufrágio de três navios gregos em Fernando de Noronha. Todos da mesma companhia de navegação: os outros dois são: Themone Sthatatos e Maria Sthatatos, porém não foi possível confirmar qual deles está afundado junto ao Eleani Stathatos.
 

Agradecimento

A operadora Atlantis e seus instrutores pelo apóio durante o desenvolvimento dos mergulhos nos naufrágios da Ilha de Fernando de Noronha.

Referências

Fernando de Noronha, notas de viagem, 1930, Amorim Netto, Empresa A Noite.
Fernando de Noronha, imagens do passado, 1992, Maria José Borges Lins e Silva, Edições Edificantes, Recife, PE.

Ficha Técnica:
Nome do Navio: Eleani Sthatatos
Data do Naufrágio: 10.1929
Motivo do Naufrágio: Choque e encalhe
Local: Saída do porto da Baía de Santo Antônio - Fernando de Noronha.
Posição: Latitude: 03º 50' Sul e Longitude: 032º 24' 24"Oeste.
Profundidade: 2 a 8 metros.
Tipo de Navio: Cargueiro
Comprimento: 160 metros


 
Conheça mais sobre o Naufrágio
 
 
OBS: Na matéria original constam outros fotos