Destino:
naufrágio |
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Revista Mergulho,
Ano XIII - Nº 170 - Setembro/2010
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Texto
Maurício Carvalho
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Os naufrágios
que ocorreram no interior do Parque Nacional Marinho de John Pennekamp,
em Key Largo, têm o acesso dos mergulhadores liberado, porém
existe uma preocupação muito grande com a preservação
dos sítios.
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Há muito se discute a forma de proteger os naufrágios brasileiros. Alguns desejam afastar os mergulhadores desses pontos, simplesmente proibindo o acesso. É a medida fácil e ditatorial do "sou eu que mando", como se os mergulhadores fossem os responsáveis pela destruição desse patrimônio. Essa atitude é a comprovação da própria incompetência para gerar ações mais educativas. |
Outros,
desejam que os navios fiquem entregues à própria sorte ou
à pouca eficiência dos heróicos esforços de vigilância,
que as operadoras de mergulho conseguem efetuar. Nem mesmo os naufrágios
do Parque Nacional de Abrolhos
estão totalmente protegidos, embora em melhores condições.
Os naufrágios que estão em áreas proibidas como o
Lily em Bombinhas, estão longe dos lhos do público e assim
não podemos saber como as medidas de proteção impactaram
o naufrágio. Se existe o equilíbrio e transparência entre a utilização dos recursos turísticos e a preservação de um patrimônio subaquático, ele deve passar próximo as Keys, no sul dos Estados Unidos. O estado da Florida conhecido pelas atrações de Disney e pelo mergulho em cavernas, também é um paraíso para os mergulhadores de naufrágios. A partir de Fort Lauderdale, passando por Miami e, seguindo-se para o sul por uma interminável sequência de pontes e pequenas ilhas (Keys) até Key West, ponto mais ao sul dos USA, está um litoral com mais de 1000 naufrágios. Alguns desses naufrágios são partes do projeto de recifes artificiais, porém, também é grande o número de acidentes ocorrido devido aos perigosos recifes de coral que serpenteiam pela costa. Esses mesmos recifes são os principais responsáveis pela grande proteção desses naufrágios nos dias atuais. |
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Em 1994 os órgãos estaduais americanos da Florida perceberam que era necessário proteger esse patrimônio histórico e biológico e, por isso, foi desenvolvido um projeto de conservação pela FKNMS (Florida Keys National Marine Sanctuary) que já em 1999 protegia nove navios: Adelaide Baker - 1889, Amesbury - 1887, Benwood - 1950, City of Washington - 1917, Duane - 1987, Eagle - 1985, North America 1842, San Pedro - 1733 e Thunderbolt - 1986. KEY LARGO |
Em Key Largo existem hoje três grandes naufrágios Bibb, Duane e Spiguel Grove, além de outros destroços desmantelados entre os belos recifes, como: o City de Washington. Em todos esses naufrágios o acesso dos mergulhadores é livre, porém percebemos uma preocupação muito grande com a preservação dos sítios. Os naufrágios são marcados com várias boias de ancoragem (chegamos a ver seis delas) que permitem a atividade de diversas embarcações simultaneamente. As tripulações dos barcos de mergulho incluem em seus briefings avisos sobre a proteção aos destroços. O número de operadoras de mergulho é alto e a atividade muito intensa nos meses de verão. |
Para não dizer que tudo são flores, durante nosso mergulho no City of Washington, uma lancha particular, lançou uma pesada âncora sobre os recifes e a menos de dois metros e nós. Mas enfim, "não existe procedimentos seguros, os idiotas são muito inventivos". |
NAUFRÁGIO
DUANE
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O naufrágio é
simplesmente maravilhoso. Ele está apoiado corretamente no fundo
e suas estruturas variam de 36 a 18 metros, na ponta mastro. Suas estruturas estão completas, com casco, casaria e hélices. Por ser um navio militar, de estrutura reforçada, encontra-se ainda muito firme e deve durar muito anos no fundo. |
A fauna marinha presente nas estruturas
é muito variada. As esponjas já dominam o cenário e
em um pequeno espaço, avistamos tubarões, arraias, muitas
barracudas e um mero gigantesco, além de cardumes de xaréus
que circulam o alto dos destroços praticamente o tempo todo. Esses
animais protegem-se em um grande labirinto formado pelos compartimentos
do navio. Muitas aberturas foram feitas no casco durante a preparação do navio e não encontrei nenhum compartimento onde não houvesse no mínimo dois acessos com visão direta de um acesso ao outro, o que torna a atividade nesse navio muito segura. Ao largo das Keys na Florida, os amantes de naufrágios encontrarão um grande número de naufrágios de qualidade como o Vandeberg, Eagle, o que permitirá uma viagem muito proveitosa se for bem organizada. Em Key Largo recomendo a Operadora Pirate Islands (www.pirateislanddivers.com), com excelente e estrutura e ótimos profissionais, responsáveis em grande parte pelo que deu certo em nossa viagem pela região. |
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Maurício Carvalho é biólogo, instrutor especialista em naufrágios, autor do SINAU (Sistema de Identificação de Naufrágios) e responsável pelo site Naufrágios do Brasil. |
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