TÉCNICA DE MERGULHO
DO BARCO PARA A ÁGUA

 
Revista Mergulhar, ano VII, Nº 52, 1989
Mauricío Carvalho
 
 
OBSERVAÇÃO: É importante lembrar, que desde a publicação do artigo muitas técnicas de mergulho foram aperfeiçoadas e adotadas. Assim o texto técnico, deve servir como fonte de pesquisa histórica, não devendo ser as técnicas de mergulho tomadas como as melhores e mais atuais.
 
Mesmo os mergulhadores mais experientes ficam indecisos quanto a melhor forma de voltar ao barco devido a altura da embarcação, força do mar e outras variáveis importantes. Este artigo procura suprir um pouco este problema fornecendo algumas dicas importantes.
Os procedimentos de entrada do mergulhador embarcado na água fazem parte do currículo básico de qualquer curso de mergulho. No entanto, devido à falta de tempo disponível, a maioria despende poucos minutos com este tópico, e, em geral, mesmo sabendo executar a manobra, fica o estudante confuso quando se depara com a borda do barco, totalmente diferente da piscina. Até alguns mergulhadores com mais experiência ficam às vezes indecisos sobre o procedimento a adotar em face da altura do barco, força do mar e outras variáveis.
Quanto à volta ao barco, jamais vi um curso que abordasse o assunto, o que deixa o mergulhador numa situação difícil na hora de "escalar" uma embarcação com borda alta.
Os barcos apropriados para mergulho possuem escadas e outros artifícios que facilitam a entrada e saída da água. Na maioria das vezes, são utilizadas embarcações adaptadas parcialmente à atividade subaquática. Este artigo pretende transmitir algumas técnicas. É bom saber, no entanto, que quando elas são mal empregadas acarretam sérios problemas, tais como desajustes e perda dos equipamentos.
Entrada na água
Existem várias técnicas que devem ser consideradas de acordo com fatores, colho altura do barco, força do mar, profundidade local e tipo de equipamento que se utiliza.
Uma boa entrada depende de prévia preparação. Em barcos muito pequenos, em que há dificuldade de se caminhar todo equipado pelo convés, é melhor que se procure colocar o equipamento no local onde se vai entrar na água. Observe as muradas da embarcação para estar consciente de que o local está totalmente livre de amarradores e cabos, bem como rabetas de motor muito pronunciadas que constituem grande perigo durante a queda na água, quer para o mergulhador, quer para o equipamento.
Aliados a esses procedimentos de preparação, alguns cuidados são indispensáveis. Ao colocar-se na posição de entrada, não se demore impedindo que outros mergulhadores já equipados também entrada na água; ao cair no mar receba de alguém a bordo a lanterna ou o material fotográfico, que são sensíveis ao impacto da água e dirija-se para um local pré-combinado com seu dupla, deixando o local da queda na água livre para outro mergulhador. São bons lugares para esperar o dupla: o cabo da âncora ou um cabo lançado de popa com uma bóia. Nesta posição, verifique todo o equipamento, pois algo pode ter-se soltado ou se deslocado durante a queda.
Queda dorsal
A queda dorsal é uma das entradas clássicas no mergulho autônomo. Nela, o mergulhador (todo equipado e com o regulador) senta na borda da embarcação, com as pernas para o interior, procurando posicionar-se o mais para a beirada possível e firmando a garrafa em sua posição pelas tiras do back pack (ou colete) e a máscara e o regulador junto ao rosto.
E importante verificar se não há ninguém onde se vai cair - já presenciei um mergulhador caindo sobre o ou-tro. Em seguida, impulsione o corpo levemente para trás, mantendo as pernas dobradas (na mesma posição de quando sentado) e o pescoço flexionado na direção do tronco de maneira a evitar um choque da nuca com o 1º estágio (Fig. 1).
E um bom procedimento quando o equilíbrio do mergulhador está prejudicado pelo movimento do mar e/ ou a altura do barco não é muito grande, pois do contrário pode-se dar uma volta completa no ar e cair com a frente do corpo na água.
Salto vertical
Também conhecido como passo de gigante, o salto vertical é um movimento simples e adequado para grandes alturas (mais de um metro), já que o primeiro impacto na água faz-se com os pés. Consiste em se ficar em pé na borda da embarcação firmando a garrafa, máscara e regulador. como nas outras manobras. e. com um passo largo. deve se afas-tar do barco unindo os pés no ar de tal forma que eles atingiam a água unidos (Fig. 2). Essa entrada torna-se problemática. caso a embarcação esteja oscilando muito e a borda não ofereça suporte para facilitar o equilíbrio. Nestas circunstâncias. pode o mergulhador cair. com todo o equipamento, para dentro do barco ou d'água. resultando daí contusões ou perda do equipamento.
Entrada silenciosa
A entrada silenciosa é um dos melhores procedimentos: o mergulhador sentado tonto à superfície. com as pernas dentro d'água, gira o corpo para um dos lados. de maneira a apoiar as duas mãos no local onde está sentado. A seguir, com o apoio das mãos. deve deslocar o corpo suavemente para fora do assento. provocando a rotação do corpo que. agora, fica de frente para o barco, após o que, flexionando os braços, o corpo deve escorregar devagar para a água. Com o corpo já deixando a superfície, uma das mãos mantém-se apoiada na borda para que o corpo permaneça afastado do barco, enquanto a outra segura a máscara e o regulador junto ao rosto (Fig. 3).
Esta técnica é aconselhável, pois o material e o mergulhador sofrem um mínimo de impacto contra a água e não provoca muito barulho. o que assustaria a vida ma-rinha local. É ideal para entrada em barcos infláveis ou que possuam plataforma de popa para fotógrafos subaquáticos e em locais com pouca profundidade. visto que. ao contrário de outras técnicas. não se corre o risco de atingir o fundo.
Entrada frontal
A entrada frontal é aconselhável em barcos infláveis ou com a borda muito pequena. resolvendo o proble-ma da entrada na água com equipamentos de vídeo. fotográfico ou com a lanterna. sem necessidade de alguém que coloque este material na água. Nela. o mergulhador já todo equipado e com o regulador na boca ajoelha-se no fundo do barco apoiando a barriga na borda. Uma das mãos, com o equipamento frágil. é colocada na água de maneira a que não sofra impacto: com a outra apoiada na borda. escorrega-se suavemente até a cabeça atingir a superfície. evitando-se um choque da água contra o vidro da máscara. Neste momento. dá-se um impulso com as pernas para que o resto do corpo se desloque como uma alavanca e escorrega-se para fora do barco (Fig. 4). Essa operação tem a desvantagem de permitir que o cinto-lastro possa se abrir ao arrastar-se contra a borda. No entanto, é uma entrada suave, silenciosa e que deixa uma das mãos livre.
Entrada leve
Atualmente há mais um tipo de entrada que exige o uso do colete equilibrador tipo jacket. Este procedimento elimina os desequilíbrios e a dificuldade de locomoção por causa do peso do cilindro, bastando que se en-tre no mar com o equipamento básico. O cilindro é passado junto com o BC ligeiramente inflado, onde estarão protegidos nos bolsos os 2° estágios e o manômetro já instalados na garrafa. A colocação do material nas cos-tas será bastante fácil dada a conformação do dispositivo jacket. Esta manobra é possível, já que com este colete o cinto-lastro pode ser colocado primeiro. Este procedimento deve ser evitado quando o mar estiver agitado, muito frio ou com forte correnteza para evitar perda de calor desnecessariamente ou deriva para longe do barco enquanto se efetua a equipagem.
A chamada "manobra de cambalhota" é ensinada a muitos mergulhadores sob a alegação de que poderá ser adotada no caso de perda de equilíbrio no salto vertical, o que possibilitará ao mergulhador cair com a garrafa na água protegendo o rosto de um impacto frontal. Todavia, por se tratar de movimento complicado, que exige agili-dade, existe a possibilidade de o mergulhador bater com a base do crânio no 1º estágio, o que poderá provocar o imediato desmaio pela pancada a nível do tronco cerebral.
O choque com a água também é muito mais violento por se estar em um movimento acelerado. Se houver a possibilidade do desequilíbrio, o mergulhador estará escolhendo o método errado para entrar na água. Além do que, sempre se pode contar com o companheiro para proporcionar equilíbrio. Por fim, quem consegue impulso suficiente para produzir uma cambalhota, conseguirá trazer as pernas à frente corrigindo a postura do corpo para cair em segurança na água.
Saindo da d'água
O bom senso manda que não se entre em um lugar do qual não se possa sair. Contudo, muitos já mergulharam a partir de uma escuna e se viram no final do mergulho diante de uma fina e frágil escada, completamente im-própria para a subida de um mergulhador, sendo que a altura deste tipo de embarcação é um obstáculo para a passagem do material a alguém embarcado. Em face disto, aqui vão algumas sugestões que tornarão a subida para o barco mais fácil e segura.
Um erro freqüente constatado entre os mergulhadores é o hábito de levantar a máscara, deixando-a junto a testa, quando se está na superfície. Esta atitude pode provocar a perda dela se uma onda mais forte chegar ou mesmo se houver uma queda durante a subida pela borda. Além do mais, em alguns países, a máscara na testa é sinal de emergência e o mer-gulhador estará sujeito a ver-se subitamente cercado por vários Dive-Supervisors. Desta forma, se for necessário retirar a máscara, puxe-a para o pescoço de onde certamente.

OBS: Na matéria original constam outros fotos.

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