Durante
muitos anos afirmou-se que o navio que se encontra na Ponta Alta da Parnaioca
na Ilha Grande, RJ. era o vapor Japurá, agora podemos descartar
essa possibilidade, abrindo novos rumos na pesquisa deste naufrágio
de identidade desconhecida.
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A Tragédia do Japurá |
A
Pesquisa do naufrágio do vapor Japurá reveste-se de algumas
surpresas. Durante muito tempo, não se deu nenhuma importância
a história deste navio a não ser pelo fato dele ser considerado
por alguns como a identificação dos destroços
da Ponta Alta da Parnaioca, na Ilha Grande. Ao longo de vários
ano, mergulhando na Ilha Grande, sempre discordei desta afirmação,
uma vez que os destroços que estão no fundo da pareciam
ser bem mais novos, do que a data, que até então era conhecida
para o naufrágio - 1897.
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A Pesquisa |
Sobre
o Japurá existia apenas uma única citação
no Subsídios Para a História Marítima do Brasil,
no entanto quando foram verificados os jornais de 1897, nada foi encontrado.
Durante outras pesquisas, foi encontrado, em 1900, um anúncio
da companhia Sal e Navegação, anunciando a partida do
navio Japurá. A descoberta abriu uma nova pespectiva de localização
do navio da Parnaioca. |
A História |
O
Vapor Japurá, com uma carga de 810 toneladas de sal tomada em portos
do Ceará e Areia Branca, RN. chegou ao Rio de Janeiro no dia 12
de dezembro. Embarcou uma carga de Pinho do Paraná e deixou o porto
no mesmo dia às 9:00 horas da manhã. Com uma marcha de 12
a 14 nós, chegou a Ilha
Grande, RJ. no mesmo dia, seguindo para o Lazareto,
onde os navios e passageiros sofriam um processo de desinfecção,
que visava minimizar as epidemias freqüentes naquela época.
No dia 13, às 17:00 horas, deixou a Ilha Grande com destino a Porto Alegre, RS. Navegou até as 4:00 horas da manhã em segurança e com tempo bom. |
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O Naufrágio | ||
Na
madrugada do dia 14, quando se achava a cerca de 25 milhas a sudoeste da
Ilha Grande, começou a soprar um forte vento sudoeste que aumentando
de intensidade, fez crescer o mar. Ondas volumosas chocavam-se contra o
costado de bombordo, uma depois da outra invadiam o vapor através
de escotilhas abertas, alagando seus compartimentos. O Comandante Daniel W. Ogg, resolveu não arribar a Ilha Grande, porque isso representaria perigo de choque nas condições de má visibilidade da tempestade. Foi dada ordem de fechar todas as escotilhas, porém a água que invadia o convés, entrava pelas clarabóias gradeadas de ventilação. O vapor alagava mais a cada onda; o maquinista deu parte ao comandante que havia muita água no porão das máquinas e que havia posto todas as bombas a funcionar. O comandante aproou o navio na direção da tormenta para ver se escoava toda a água, porém a medida não surtiu efeito. Às 7:00 horas, já parcialmente alagado o comandante resolveu dar popa ao mar, aproando na direção de terra. |
Sentindo o perigo, o comandante mandou preparar os salva-vidas e uma balsa com as madeiras que estivadas no convés. Com o alagamento do navio, o comandante ordenou que fossem baixados os escaleres. As primeira baleeira, assim que foram baixadas à água, foram logo arrebentadas pelas ondas de encontro o costado do Japurá. Os infelizes tripulantes, que vestiam coletes salva-vidas, fugiram de morte rápida que os ameaçava retornando ao navio, onde auxiliaram seus companheiros no preparo das balsas. Às 8:30 sobreveio pela popa, uma grande onda que imediatamente alagou definitivamente os porões e apagou o fogo das caldeiras. Deveria ser 9:00 horas da manhã do dia 14 de dezembro, quando o Japurá submergiu rapidamente de popa. Ficando um grande número de tripulantes a flutuar no meio dos destroços. |
O
Imediato José Carneiro foi jogado ao mar agitado e não mais
viu o comandante nem o maquinista. Meia hora depois, encontrou uma grande
tábua, onde se agarravam o praticante de piloto e um foguista. Ainda,
segundo a lembrança do imediato; permaneceram agarrados pelo menos
até as 18:00 horas daquele dia. No dia seguinte, os dois tripulantes
não mais estavam, tendo sido arrebatados pelas grandes ondas. O Sr. Carneiro, já estava exausto de lutar pela vida durante dois dias, quando na manhã do dia 16 avistou uma vela; era a escuna Feliz que o recolheu a bordo, conduzindo-o para o Lazareto da Ilha Grande, onde chegaram às 14:00 horas, arribados também da tempestade. |
O Destino do Imediato |
Somente
às 17:00 horas a escuna conseguiu contato com terra, vindo até
ela à lancha da saúde. |
Denúncias de crime |
Segundo
o redator do jornal O Paiz "a muito o estado desse vapor expirava receio
nos marinheiros que nele serviam. As cargas eram sempre demasiadas e feitas
a olho, de forma a aproveitar o máximo de espaço e sem a menor
fiscalização, tanto que houve quem apostasse que o vapor não
chegava a seu destino". O manifesto de bordo nada prova, pois a carga
de sal embarcada a rodo não era pesada. O manifesto era feito de
acordo com a carga do vapor. Dois dias depois deste manifesto a companhia nega a versão de excesso de carga afirmando que o calado do Japurá todo carregado era de 11 pés e quando deixou o Rio de Janeiro tinha apenas 9 pés. Além disso, a alusão ao estado de conservação também é falsa, pois o vapor, construído em Glasgow (Escócia) durante 1891 ainda em 1898 e 1899 passou por uma grande reforma que habilitou o Japurá a continuar a gozar da classificação A1G a primeira de Registro Brasileiro. As chapas mestre, segundo o proprietário, tinham o dobro da grossura, para a mesma quantidade de carga que a dos vapores construídos no Brasil. |
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Lazareto, era um hospital
de isolamento, construído com a finalidade de abrigar viajantes portadores
de doenças contagiosas, como a cólera e varíola. O Lazareto da Ilha Grande foi construído em 1893 próximo à Vila do Abraão, na antiga Fazenda do Holandês. Sua função era colocar em quarentena e desinfectar navios e passageiros antes de aportarem no Rio de Janeiro. Serviu como hospital até 1910 em seguida foi transformado em colônias penal que encarcerou em 1932, os líderes do Movimento Constitucionalista de São Paulo. Em 1963 o prédio, foi desativado e demolido sendo os presos transferidos para a Colônia Penal de Dois Rios (presídio da Ilha Grande). Atualmente sobraram do Lazareto apenas ruinas, com algumas colunas e os arcos do aqueduto, totalmente tomados por vegetação. O acesso principal, formado por uma ala de palmeiras e a base de alguns edifícios. |
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Pesquisas
realizadas por: Maurício Carvalho |
Fontes Jornal O Paiz, 18 a 21.12.1901, Naufrágio do Japurá, pág. 1 e 2. Jornal do Brasil, 19 a 24.12.1901, O Naufrágio do Japurá, pág. 1. Subsídios para a História Marítima do Brasil vol. 1, 1938 - Desastres Marítimos no Brasil - Dario Paes Leme, pág. 342. |
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