TÉCNICA DE MERGULHO
CONFIGURAÇÃO HIDRODINÂMICA

Originalmente publicado no SUB AQUA Journal, Março/Abril de 1995, Vol. 5, No. 2
Copyright SAJ Publishing Inc.
Joel D. Silverstein - www.subaqua.com
Texto: Capitão Roger Huffman
Tradução: Carlos Arruda Accioly
Hidrodinâmica. A mera sugestão de que algum mergulhador tem equipamento hidrodinâmico faria um atum morrer de rir. Enquanto o atum evoluiu uma cauda com relevo para maximizar rotações por minuto, nós usamos nadadeiras para rastejar batendo as pernas. Enquanto ele tem fendas na pele para embutir as barbatanas e reduzir o arrasto, nós penduramos equipamento em mosquetões. Comecei a pensar no assunto e acabei curioso. Para ver até onde o mergulho tinha evoluído em relação a hidrodinâmica resolvi ir a Virginia Beach para consultar a Vidente de Vidas Passadas do Mergulho. Ela me disse para economizar o dinheiro e encarar os fatos: na escala evolutiva do mergulho o Homem está alguns degraus abaixo da tartaruga. Na verdade, Mike Nelson usando um calção de banho e um cilindro simples de 72 pés cúbicos pode ter sido o ápice da evolução humana em termos de de configuração hidrodinâmica.

Quão hidrodinâmico um mergulhador pode tornar seu equipamento, e será até que vale a pena o esforço? Bem, se não tentarmos não evoluímos e, cá entre nós, cansei de ver tartarugas rindo da minha cara. Foi então que resolvi sentar e estudar minha configuração e a de todos que subiam no meu barco. Isto é que foi educativo!

Com um pouco de estudo comecei a enxergar a evolução acontecendo. Mergulhadores do nordeste dos Estados Unidos encararam o problema de configurar o equipamento para evitar enroscos dentro e fora de naufrágios. Algumas das soluções encontradas custaram caro. O termo "mosquetão suicida" carrega uma terrível conotação. Mas do mosquetão suicida (um tipo de mosquetão com mania de se enganchar nas coisas sem que o mergulhador perceba) evoluímos para a linha de equipamento, um cabo amarrado no primeiro estágio, passado por sobre o ombro e acabando num anel com mosquetão. O cabo é comprido o suficiente para que se possa esticá-lo na frente do corpo e enxergar o mosquetão e anel, que é onde se pendura tudo que o mergulhador carrega. Chega de ficar tateando onde não se pode ver para tentar soltar ou prender uma peça de equipamento.

Os mergulhadores de caverna certamente tiveram uma grande influência. Esses caras são mesmo chegados em roteamento. Montam seus primeiros estágios de forma que todas mangueiras saiam para baixo. Aí as amarram com presilhas para que não fiquem pendurando, balançando e arrastando. Usam coletes tipo asa, com flutuação nas costas, e só carregam o equipamento necessário para o mergulho em questão.

Tudo isso reduz o perfil do mergulhador e serve para diminuir o arrasto. É inteligente para qualquer tipo de mergulho. Aí aparecem as pequenas coisas que você repara que alguém pensou e acaba achando que vale a pena experimentar. Por exemplo, um mergulhador tinha enrolado seu pára-quedas e o prendido com dois pedaços de garrote cirúrgico instalados embaixo do colete. Mais tarde meu editor contou que o Capitão Billy Deans lhe tinha ensinado este truque anos antes... pois é, experimentei e gostei. Fica num lugar em que não atrapalha, não causa arrasto e é fácil de alcançar. Outras coisas simplesmente não precisam mudar. No começo os mergulhadores usavam uma alça em volta do pescoço para manter o regulador reserva perto da boca, que é onde iriam querê-lo quando fosse necessário. Aí o regulador começou a passear e todos os tipos de acessórios surgiram para tentar mantê-lo no lugar. Agora o círculo parece ter se completado: hoje em dia vejo mergulhadores pendurando segundo estágio ao redor do pescoço de novo.

No ano passado tive outra lição sobre configuração hidrodinâmica na marra. Estávamos ancorados num naufrágio raso, numa laje submersa onde a corrente estava dois nós acima de inacreditável. Só tentamos o mergulho porque tínhamos uma equipe de mergulhadores veteranos e, se a corrente tinha chegado tão longe da costa, provavelmente iríamos dar com ela em qualquer lugar que fôssemos. Os mergulhadores usavam roupas de neoprene ou roupas secas, cilindros duplos, todos os equipamentos pensados cuidadosamente e com hidrodinâmica em mente. Bem, alguns de nós conseguiram realizar o mergulho e alguns nem chegaram ao fundo, a nove metros de profundidade.

Enquanto estávamos sentados no convés lambendo nossas feridas um barco vindo da Virgínia encostou com um grupo de mergulhadores altamente inexperientes, com roupas de lycra e cilindros simples. Sem "pony bottles" nem cabos de emergência, pularam nos braços da correnteza-monstro com sorrisos inocentes, enquanto aguardávamos que começassem a pipocar atrás do barco. Todos completaram o mergulho e retornaram sorrindo enquanto nós puxamos o ferro e saímos com o rabo entre as pernas, tendo aprendido a lição. Uma mesma configuração não serve para todas ocasiões. Uma dupla de 120's serve para um mergulho profundo, mas você realmente precisa dela para um mergulho raso? Um cilindro simples com uma torneira Y, um pára-quedas guardado embaixo do colete, um colete de baixo volume, e uns poucos itens numa sacola pequena presa a uma linha de equipamento teriam resultado num mergulho muito mais agradável.


 
Capitão Roger Huffman
Para outros textos sobre técnicas de mergulho veja na biblioteca.

voltar a biblioteca